sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

“És um senhor tão bonito...”

Hoje, meu coração de manteiga amolecida acordou derretido. Quem sabe não foi culpa do calor que fez durante a noite... Acho que posso usar isso como desculpa. Hoje a ficha caiu quando parei para pensar que, em dez dias, chega alguém que não vejo há quase seis meses. Isso me fez perceber que as férias acabam em duas semanas e, assim, se iniciará o meu último ano de escola. Que loucura, que pressão! Hoje, a vontade de estar logo em uma faculdade misturou-se com a pequena depressão de terceiro e último ano como uma estudante de ensino médio. Daqui a um ano, estarei inscrita em uma universidade e a minha vida vai mudar muito. E parece que, propositalmente, tudo durante o dia de hoje amoleceu mais ainda a manteiga: recebo uma ligação de quem chega em dez dias, meus pais me mimam comprando a comida que quero e ainda oferecem para deixá-la onde estou, passo em frente a minha antiga escola e sinto uma nostalgia que não sentia há um tempo, chego em casa e minha cama está toda arrumadinha para eu dormir, enquanto a comida me aguarda. Nossa, meus pais são mais do que tudo para mim. E vão ter que me aturar (muito) este ano. Prepare-se, Chico. Prepare-se, Bella. Preparem-se Zinho, Barbs, Tina, Mari, Trice, Mi, Le, Broocks e Naná. Vocês vão ter que sustentar o dia-a-dia desta manteiga derretida. E quanto a você, Nana, quero ser levada à Lapa. E a você, Mini, vê se volta logo... E Ju, vamos ter um ano de muitas conquistas! Agora só peço algumas coisas: Bárbara, chega logo. Pai e Mãe, tenham paciência comigo. Vô, não dê muito trabalho. Bruno, atende o celular. E me liga. Vó, esteja onde estiver, esteja sempre comigo. E quanto a você, 2012, vá com calma. É mãe, é pai... a menininha cresceu.
 
Quem não foi citado e que também faz meus dias e constrói meus anos, vocês estão citados mentalmente e representados pelo nome que mais se identificarem. Vocês sabem que vocês também estão aqui.

Marina Martins; escrito no dia 21 de janeiro.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Dica

"A música segundo Tom Jobim" é imperdível, emocionante e apaixonante. Principalmente para os amantes da música brasileira, não deixem de assistir.

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Soneto criminal

Nunca pensei que fosse
Cometer um crime um dia
Mas foi num dia pra lá de doce
Que ocorreu tal heresia

Em um certo Carnaval
Eu, com máscara de fera
Achava tudo bem normal
Para ti, já mais não era

Senti um dia teu coração batendo
Na praia, com mar ao fundo
Resolvi agir como um ladrão

Principalmente quando fiquei sabendo
Que para ti, parara o mundo
Tratei de roubar logo teu coração

Marina Martins

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Soneto de desapego

Arranca já de tua face
Esta máscara que te esconde
Não te importes com tua classe
Se perdê-la, tu fizeste por onde

Não é a pele que se arranca
É uma superfície de enganos
Livra-te logo desta carranca
Que te transforma noutro ser humano

Melhor expulsar a falsa alegria
Do que manter a melancolia
De ser uma pessoa forçada

Dentro de ti deve morar uma dor
Por não mostrares teu interior
Torna-te, pois, uma pessoa melhorada

Marina Martins

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

257

“Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.” – Quero

“Amor é dado de graça
É semeado no vento,
Na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
E a regulamentos vários.” – As Sem-Razões do Amor

“Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?” – Amar

Carlos Drummond de Andrade

Eu (te) amo

Eu te amo não é cumprimento
Não é “bom dia” ou “boa tarde”
Eu te amo é reconhecimento
É despedida de quem sente saudade

Eu te amo não é desculpa
De errar ou de estar atrasado
Eu te amo não tira culpa
Nem de filho, nem de namorado

Eu te amo pode não ter hora
Pode ser de surpresa ou estar na cara
É perfeito pra quem namora
E lembrança pra quem se separa

Eu te amo é coisa fraternal
Amor de família, amigo, irmão
Mas eu te amo pode ser também carnal
E assim, é melhor quando se tem paixão

Eu te amo pode ser lamento
De sôfregos apaixonados
Pode ser arrastado com o vento
E espalhado para outros enamorados

Eu te amo pode não fazer sentido
Mesmo para quem está dizendo
Pode vir de um coração sofrido
De quem nada está entendendo

Eu te amo é olho no olho
É secreto ou dito sem pensar
Com “eu te amo”, me recolho
E afirmo que não canso de (te) amar

Dedicado a todas as pessoas que eu amo, estando em memória ou em vida.
Marina Martins

256


Sem mais palavras

Posso ficar horas contigo
Filosofando sobre nada
Posso te ter como amante e amigo
Se for para eu ficar mais apaixonada

Podemos também
Dizer nada sobre tudo
E eu sei muito bem
Como faço pra te deixar mudo

Marina Martins

255


Não faça com que eu me vire

Não faça com que eu,
Para chorar, me estire
Em uma cama e nem
Que de um penhasco eu me atire.

Espero que você não
Queira que eu pire,
Que entenda esta agonia
E queira que eu respire.

Eu demorei tempo demais
Para achar, não me tire
O que agora já é meu,
Por favor, se retire.

Marina Martins

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Análise abstrata da carícia específica das costas

Os dedos caminham pelas costas; traçam rotas, estradas e rodovias. O alinhamento perfeito da imperfeição de linhas inexistentes constrói caminhos e traços de amor num simples caminhar de dedos no dorso. Os dez dedos brincam entre si e revezam-se no construir e desconstruir de uma obra imaginária e abstrata na parte traseira do tronco. As pontas dos dedos cansam e dão espaço às mãos abertas, que acariciam e servem de borracha para a literal abstração (in)existente nas costas quentes e, quem sabe, suadas. Os dedos voltam a perambular e dividem espaço com os lábios, que deixam marcas invisíveis de batom transparente e de amor. De repente, pode ser que as mãos se cansem de vez, mas apenas por um tempo, e, então, os braços abraçam. As mãos cansadas escorrem feito tinta a partir dos ombros e descem vagarosamente pela parte dianteira do tronco. Talvez comece um novo desenho. Um novo perambular de dedos e mãos e lábios e toques. Perambular que, talvez, terminará novamente na abstração e no infinito de paixão existente nas costas largas.

Marina Martins

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Assim, bem grudadinho

Já não mais me importo
Se não consigo fugir dos clichês
Já com isso não me comporto
Pois tudo me lembra você

É cada filme que assisto
Cada pensamento até tarde
Cada momento em que existo
Cada acúmulo de saudade

Não me importo em lhe ver
Todos os dias da semana
Seja por um só minutinho

A verdade, eu vou dizer
É que meu rosto não engana
Preciso do seu carinho

Marina Martins

253

De um jeito ou de outro

Teu corpo me ansia
E sinto transmissão de calor
Mas tu só te distancias
E só aumenta o meu amor

Não sei se percebes o que faço
Para cruzar nossos caminhos
Tento juntar nossos passos
Para os meus não ficarem sozinhos

Pode ser que ainda não consiga
Ter-te então como amante
Com esta nova cantiga

Talvez ela não te encante
Então fico contigo como amiga
Para não mais te ter distante

Marina Martins