segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

É o fim.

Hoje, assisti à peça do ator, dançarino e amigo Márcio Januário, o Marcinho. Chamada de Tratado nº5, a peça tem como personagem um “preto, pobre, viado e favelado”, nas palavras do próprio ator, diretor e autor. Nela, ele fala sobre a origem das favelas, as favelas, o preconceito contra favelados, gays, negros e pobres, dentre outras coisas. Ao final, ele disse que não conseguiu escrever um fim para a peça e pediu para que nós pensássemos carinhosamente sobre um final para ele, para nós. Saí de lá pensando e resolvi escrever. Então, este texto dedico a você, Marcinho.
Pensei num fim. Mas o problema dele é que é um pouco utópico. E eu, sinceramente, detesto dizer isso. Me entristece achar que a igualdade e o respeito plenos nunca serão alcançados, e por isso são utópicos, mesmo que eu espere pelo contrário. Enfim. Ontem, assisti ao filme “12 Anos de Escravidão”, que me fez chorar copiosamente. Mais do que por conta das cenas de violência, chorei porque a violência só tinha negros como alvos. Animais, cachorros, macacos, idiotas... assim eram chamados. Tratados como animais selvagens. Pior. Como lixo. O filme, assim como a peça do Marcinho, me inspira a escrever esse texto.
Então, primeiramente, no meu final não existe mais racismo. Os negros e os brancos finalmente entendem que somos todos iguais e que a cor da pele só nos difere fisicamente. Assim como a cor do cabelo. O peso. A altura. Os pelos. As roupas. E por aí vai. Depois, no meu final, a palavra “favelado” perde o sentido pejorativo com o qual é utilizado por muitos membros da elite. Favelado é quem mora em favela, mas não é bandido, não é sujo, não é marginal. Favelado é aquele que conversa com o vizinho (mesmo que ele more há quilômetros de distância), que trata bem ricos, pobres e gringos e a galera da “pista” quando visitamos as favelas. É aquele que pede para ser fotografado, dá mole pras “patricinhas do Leblon” e faz comidas baratas e deliciosas (coisa rara no asfalto). As pessoas da elite passam a entender que gente pobre é muito mais rica do que gente rica em vários aspectos. Elas param de fazer “caridade” e passam a exercer sua solidariedade. Ah sim, e elas param de dizer que “bandido bom é bandido morto” e, antes de falar isso, procuram saber quem é esse bandido e porque ele fez o que fez.
No meu final, as pessoas lembram da homofobia com vergonha e desprezo, assim como a maioria lembra do holocausto. Quem é linchado é aquele que ousa espancar um homossexual pelo simples fato de ele gostar de homens. Elas pensam que a frase “prefiro ter um filho drogado do que um filho gay” é deplorável e nojenta. Ah, e que não faz o menor sentido, pois o inverso de gay não é ser drogado. Elas não precisam mais explicar a seus filhos que “tem menina que beija menina” e “ tem menino que beija menino” porque eles já nascem tendo isso como algo natural. E respeitam a sexualidade de qualquer um, sejam seus pais, irmãos, filhos, primos, tios, amigos, professores, médicos, chefes, empregados...

Resumindo, no meu utópico final, o preconceito acaba. Se não acaba, é mínimo. E quem é punido não são os que sofrem com ele, mas sim os que o praticam, seja de forma oral ou física. No fim, as pessoas se respeitam e se entendem, convivem e se aceitam. Os pobres gostam dos ricos e os ricos dos pobres – na verdade, numa maior utopia ainda, não existe desigualdade. Os pretos e brancos percebem que a mistura de cores sempre originou, na história da humanidade, coisas maravilhosas. A pista vai pra favela e a favela vai pra pista. O Leblon come churrasco no Vidigal e o Vidigal dá mergulho na piscina do Leblon, porque os favelados e os burguesinhos são amigos. Os filhos gays não são expulsos de casa por seus pais. Os travestis podem trabalhar como engenheiros, professores, médicos. As transexuais são chamadas de elas. As lésbicas podem se beijar, sem que os homens as interrompam perguntando se elas topam um ménage a trois. Os gays podem pegar praia deitados na mesma canga, sem ser só na Farme. Para terminar, no meu final só existe respeito e amor. E se não gosta, cara, fica na tua.

Marina Martins

sábado, 22 de fevereiro de 2014

325



-fuck you.

não.
eu não choro mais por você...
mas às vezes me lembro
e só te lamento.
fico pensando
na sua trajetória
de falsidade.
não penso que você é a mesma
prefiro pensar que
morreu
e alguém
entrou
em seu lugar.
outro dia estava ouvindo
a música que costumávamos
cantar juntas;
nunca pensei
que fosse dedicá-la
a você.
então
“through all this pain in my chest
i still wish you the best
with a-”

Marina Martins

Saudade:

Melhor e mais "concreta" definição de tempo e espaço, em uma era digital onde isso "não existe mais".

Marina Martins