terça-feira, 9 de junho de 2015

Don't let it bring you down

“Na PUC só tem cuzão”; “desprezo”; “PUC vai se foder”; “toda puquiana dá o cú e mama e senta no piru”. Algumas das coisas que eu soube e li que foram ditas nos JUCS (Jogos Universitários de Comunicação Social). Não, eu não fui ao evento, pelo simples motivo de que não é o tipo de evento que me atrai. Mas quando fiquei sabendo que houve denúncias de ESTUPRO, outros tipos de violência, além dos tristemente óbvios machismo, racismo e homofobia, decidi entrar na página “Spotted: JUCS”. Eu estou enjoada, com dor de cabeça e com choro preso. Alguns podem achar que sou sensível demais, chata, ridícula e eu não me importo. Eu só fico assim porque sei que esse tipo de coisa que acontece nesses JOGOS é errado, feio, triste ou até crime. Então a minha reação não me assusta. O que me assusta são as pessoas que tomam as atitudes que me machucam, mesmo eu não estando perto. Aliás, isso é o que mais vem acontecido ultimamente. Praticamente todos os dias eu fico triste por atos que não presencio, mas são como se me dessem um tapa na cara. Ou um soco no estômago.

Enfim, nessa página, alguém reclamou, anonimamente, de uma torcida que chamava as jogadoras adversárias de “puta feia”, “piranha”. A pessoa citou uma torcida, mas imagino que isso não ocorra só em uma. E depois falou de outra que se proclamava “só moleque estuprador”. No post, comentários como “se não gostou, vai pra igreja”, “gritei o jogo inteiro ‘gay’, ‘dá cu’”, “vai pra JMJ”, “não fode feminista chata do caralho”. Tais comentários feitos por homens e, pasmem, mulheres. Ah sim! E uma hashtag “turma do estupro”, acompanhada de um comentário “ano que vem vai ser pior”.

Vamos lá, por partes. Eu sou estudante da PUC com muito orgulho. Conheço muita gente bacana lá que está longe de ser “cuzão”. Generalizar os estudantes da PUC como ricos, segregacionistas, patricinhas e playboys preconceituosos está errado. Isso é preconceito. Eu adoro a minha faculdade e não me sinto representada por esse tipo de pessoas. E tenho certeza de que muita gente partilha da mesma opinião. Desculpa se eu estudo na PUC. Desculpa se eu não passei pra UFRJ e nem pra UFF. Desculpa se, se eu tivesse passado para a UFRJ, faculdade que acho incrível, eu não iria porque não tem curso de cinema (coisa que sempre quis que tivesse para eu poder tentar estudar lá). Desculpa se, se eu tivesse passado pra UFF, eu continuaria em dúvida entre ela e a PUC porque sempre tive um carinho enorme pela minha faculdade. Desculpa por estudar em uma faculdade particular e não me enquadrar num elitismo escroto. Desculpa por gostar muito do campus da PUC e dxs amigxs e colegas que fiz lá. Desculpa por dizer que gente escrota existe em qualquer faculdade. Que sorte a minha de poder estudar numa faculdade tão bonita, com tantos eventos legais e que, como todas, tem seus problemas. E que pena que ela seja representada nos Jogos por uma minoria preconceituosa que canta alto músicas racistas e elitistas. Universidades, faculdades e escolas superiores existem, se superam em alguns cursos, outros não, às vezes todos, têm mais e menos problemas, são públicas e particulares, são diferentes. E que bom que existem para – espera-se – formar bons intelectuais e profissionais. Que triste essa guerrinha entre faculdades. Que triste luta de classes. Que triste a desunião dos jovens universitários. Isso não é uma competição.

Mais cedo ou mais tarde, quem xinga e quem é xingado se cruzará no mercado de trabalho, nas agências, redações e produtoras da vida. Fico pensando que, se em jogos se tratam assim, como será que vai ser no trabalho? Acho que o jovem que hoje exalta o estupro e se orgulha de – ai que nojo de escrever isso – ser um estuprador, será o chefe que vai escolher as funcionárias pelo corpo e tentar comer elas (sim, com esse linguajar) através de chantagens ou ofertas melhores no emprego. Ou ‘pelo menos’ o chefe que vai dar cantadas diariamente nas funcionárias. Ou pior: estuprá-las. O jovem de hoje que ‘xinga’ alguém de gay – “xingar” e “gay” não cabem numa mesma frase para mim – será aquele que, na hora de contratar, não vai gostar da voz afeminada daquele profissional incrível e vai discriminar o outro porque é casado com um homem. O jovem de hoje que faz uso de xingamentos racistas vai ser aquele que vai preferir contratar o branco sem nenhuma experiência do que o negro com um currículo incrível. Que vai preferir alguém só porque é rico do que alguém que é pobre. Que tristeza.

Que tipo de juventude é essa que acha que orientação sexual, gênero, cor e tipo físico é xingamento? Que tipo de juventude é essa que não consegue participar de competições sem que haja troca de agressões verbais e físicas, violências psicológicas, físicas e sexuais? Que juventude é essa que vive em constante troca de ofensas, em constante luta de classes, generalização, pré-conceitos, preconceitos e desunião? São alguns desses os futuros geradores de mídias, entretenimentos. Fora os futuros advogados e médicos que também gostam de ofender nos Jogos Júridicos e nos de Medicina. Que juventude é essa? Nossa, estamos em 2015, e eu querendo voltar no tempo para ser jovem nos anos 60, 70, 80, até 90! Basta ver os protestos das Diretas Já! e dos Cara Pintada. Várias pessoas de diversas idades unidas, lutando todas pelo bem delas e de seu povo, pensando no melhor para sua sociedade. E aqui estamos hoje, repito, em 2015, tendo que ouvir XINGAMENTOS como preto, pobre, sapata, viado, puta, piranha e por aí vai. Será que os jovens se tornam mais conservadores à medida que o tempo passa? Qual o sentido disso? Que juventude é essa que ainda xinga com essas palavras? Na boa, quem são vocês? Quem somos nós? Quem é a maioria? Quem nos representa? Quem é quem?


Diante disso tudo, fui pegar o metrô hoje e coloquei meu iPod, para tentar me desligar do mundo. Coincidência ou não, apertei no shuffle e começou a tocar a música “Don’t let it bring you down” (Não deixe isso te deprimir), do Neil Young. Poderia ser uma cena de filme com a trilha sonora perfeita, mas foi real. Eu acabei de ler a tradução da música e me assustei com a coincidência. Deve ter sido o mundo, tão louco, me passando uma mensagem. Essa não é a juventude, futuros adultos profissionais, que quero trabalhar e conviver na minha vida. Esses xingamentos não me representam. Então, para quem sente a minha dor e tristeza diante de tudo isso, e até mais, repasso a mensagem que me foi enviada por uma energia maior, ou por uma incrível coincidência dada pelo meu iPod: “não deixa que isso te deprima, são apenas castelos queimando, encontre alguém que está mudando, que você dará a volta por cima”. Não deixemos que isso nos deprima. Algum dia –ah! ALGUM DIA! – nós daremos a volta por cima.

Marina N. Martins