sábado, 14 de janeiro de 2017

Formei!


A hora sempre chega. De tudo. Agora, por exemplo, chegou a hora de chorar o que eu ainda não tinha chorado e chegou a hora de escrever este texto que está há meses na minha cabeça, mas não saía. Provavelmente porque estava esperando o momento exato do dia seguinte da cerimônia de formatura. Olha, não vou mentir não, é emoção para cacete. Vem tudo junto e misturado na cabeça, eu não sei por onde começar. E já vou avisando que um dos meus problemas enquanto bacharel em comunicação é não conseguir escrever textos sucintos com facilidade. Porque estou desde pequena em um relacionamento sério com a palavra e ela me acompanha quando preciso colocar tudo para fora. A escrita tem sido minha melhor amiga por anos. E hoje, em que tudo é tão corrido, fico apreensiva que não leiam o que eu escrevo por ser “longo demais”. Talvez se eu fizesse um vídeo, fazendo jus à minha habilitação de cinema, seria mais fácil que me acompanhassem. Um dia eu chego lá. Mas a palavra escrita vem antes sempre. O número limite de páginas quase sempre foi um problema para mim nos trabalhos e redações. E vamos combinar, escrever quatro anos em poucas linhas é sacanagem, ne? Bem, espero que leiam. Queria marcar todo mundo que eu queria muito que lesse isso, mas tenho medo de esquecer alguém. Porque encho o peito para falar que é muita gente.

Vou fazer cinema. Só quem já disse isso às pessoas sabe as reações que podem vir depois. Tem gente que sente pena porque você vai ser pobre, por você ser uma inocente e iludida sonhadora. Tem gente que fica nervosa, com medo do seu futuro. Tem gente que te coloca no pedestal da arte (aquela coisa da gente achar que artista é uma parada muito elevada, sabe?). Mas... tem gente que te apoia. Obrigada, vida, por ter me feito filha de Isabella e Chico. Na minha casa, eu nunca ouvi um “não” ao falar sobre as faculdades que eu poderia fazer. Moda, artes cênicas, história, psicologia... cinema. Aqui, meus pais nunca me fizeram sentir medo de viver de arte. Minha irmã, atriz, sempre batalhadora, sempre correndo atrás dos seus projetos, passando por poucas e boas, nunca me fez sentir medo de viver de arte. Minhas tias artistas também não. Minha avó, que infelizmente partiu cedo demais, antes de me ver decida por escolher o cinema, também não. Nem o meu avô, por mais contraditório que essa peste maravilhosa seja. Minha família apoia sonhos. Meus pais não só apoiam, eles me seguram para que eu nunca desista deles. À minha mãe e ao meu pai, agradecer é pouco. Agradecer por tudo o que eles já fizeram por mim, como fazer isso? Como retribuir? Nunca vou conseguir. Se sou o que sou, eles são dois dos maiores responsáveis por isso e eu agradeço diariamente por aprender com seus acertos e erros. E também por ensiná-los com os meus.

A verdade é que artista é gente normal. Ta vai, não tão normal. Mas quem é de fato normal? O que é normal? Se eu escolhi viver da arte, não é porque sou a pessoa mais culta do mundo, que sei te dizer os filmes que você precisa ver antes de morrer, que sei o ano de todos os clássicos, que conheço o cinema mundial inteiro. Se escolhi viver da arte, é porque eu não caibo em mim e preciso me transbordar de alguma forma. Se escolhi viver da arte é porque, na minha vida, ela já me fez sentir de tudo. É porque ela me completa. É porque eu tenho vontade de mudar o mundo e as pessoas, assim como ela me mudou e muda. É porque quero fazer rir, chorar, pensar. É porque quero ser vista. É claro. Se não quisesse, nem compartilhava esse texto, por exemplo. É porque eu acredito no poder de mudança da arte. E estar na faculdade me fez acreditar cada vez mais nisso. As coisas que li, as pessoas que conheci. Minhas professoras, meus professores, minhas amigas, meus amigos, gente que eu nunca falei ao vivo, ou que não tenho tanto contato, mas sei que faz a diferença.

Nesses quatro anos de faculdade, eu tive professoras e professores que marcaram a minha vida. Que me passaram aprendizados muito além da sala de aula. E uns que ainda passam e continuarão. E tiveram alguns muito queridos. Ou também aqueles que não são queridos, mas que te fazem aprender e amadurecer, exatamente por não serem queridos. Tem uns que surpreendem, para o bem ou para o mal. E tem quem te ajuda em cada dica que você pede, cada crise que você passa, que te fazem acreditar em você. E eu preciso destacar os nomes de Flavio e Sergio nesse caso. Não foram só eles que mudaram a minha vida. Mas esses dois são tipo dois pais que arranjei na faculdade e eu não tenho palavras para agradecer tudo o que eles fizeram por mim, tudo o que me passaram. Eu estou órfã deles. E de tantos outros também, que foram me deixando órfã ao longo dos períodos.

Nesses quatro anos de faculdade, eu passei por muitas crises e desesperos. Por que eu faço cinema? Por que isso é útil? O que vai ser de mim? Será que eu vou ser desempregada sempre? Preciso de um estágio. E em maio de 2015 eu consegui. Fui parar na TvZero. E aí tem a minha historinha com a TvZero. Conheci o Robertinho, o Roberto Berliner, quando tinha menos de 10 anos, eu acho. Éramos sócios do mesmo clube. Corta para. No meu primeiro período (2013.1), entrevistei-o para um trabalho da PUC. Fui na TvZero e saí de lá dizendo para minha mãe: vou estagiar nesse lugar. Voltei lá um ano depois para entrevistar o outro sócio, Rodrigo, para um novo trabalho. Deixei meu currículo. Mandei por e-mail. Nada. No final de 2014, uma senhora com quem fazia francês me disse que a sobrinha dela trabalhava numa produtora. Qual? TvZero. Ela nos colocou em contato, mandei currículo de novo, nada. Só em março de 2015, fui parar lá de novo. A Anna Júlia, sobrinha da Tereza com quem fazia francês, e o Leo me entrevistaram. Mas viram que minha cabeça não era muito para a área deles, então chamaram o Vitor. Foi aí que conheci quem seria meu futuro chefe. Vitor me levou até o Roberto. “Caramba, Marina. Como você cresceu”. Pouco mais de um mês depois, eu era a nova estagiária da TvZero. Hoje, mais de um ano e meio depois, sou a nova contratada. AAAAAAAH! Essa produtora trouxe muita gente maravilhosa na minha vida e eu tenho muito a agradecer pelo que já passei lá e pelo que vou começar a passar a partir de segunda (Robertinho, Vitor, meu estômago ta meio embrulhado escrevendo isso, pode ser que eu morra de ansiedade, se eu não aparecer lá na segunda, é por isso).

Nesses quatro anos de faculdade, eu fiz amigas e amigos incríveis. Eu conheci gente que está lutando por uma sociedade mais igualitária e justa. Eu colei com mulheres que me fizeram ver que não estou sozinha e que me dão a esperança de um mundo menos misógino. No primeiro período, no primeiro trabalho, eu já achei minha melhor amiga de faculdade, minha parceira, minha sei lá o que. Eu amo demais essa menina e ela sabe disso. Não vou nem escrever o nome porque eu quero ter certeza de que ela leu isso daqui e ela vai se reconhecer nesse momento. E, olhando para meu primeiro período e depois para o último, eu vejo o quanto as coisas mudaram e o quanto eu mudei. A quantidade de gente que veio para ficar desde cedo e as que foram chegando aos poucos. Teve gente que chegou só no último período, até. Muito louco. A gente passa quase quatro anos no mesmo lugar e tem gente que só aparece no final, mas que chega com uma intensidade de como se nos conhecêssemos desde o início. Gente que vem para mudar. Para ajeitar sua vida ou bagunçar de um jeito estranhamente bom. Mas sei lá, sabe. Eu sou adepta de que tudo tem seu momento e a vida cada vez mais me mostra isso. A essa galera toda que eu estou colecionando no meu álbum de figurinhas queridas da vida, só um pedido: não me abandonem. Já vai ser difícil demais para mim abandonar o pilotis, o cabeção do Kennedy, o vento frio que bate lá, as conversas de cinco minutos ou de horas, as aulas para as quais chegamos atrasados porque a conversa estava boa demais, as provas para as quais estudamos porque o desespero batia forte. Por favor, mas por favor mesmo, fiquem na minha vida. Vamos nos ver. Por mais que o tempo seja corrido, por mais louca que a vida seja, por mais enrolados que nós sejamos. Vocês sabem que minha casa está sempre aberta.

O texto já está gigante e finalizar textos é sempre uma questão para mim. Acho que isso diz bastante sobre mim, na verdade. Mas enfim. Obrigada a todo mundo que fez parte desses quatro anos da minha vida, obrigada por terem seguido ao meu lado, me fazendo acreditar em mim, me fazendo sentir orgulho de mim mesma, mesmo quando eu me sentia inferior por algum motivo ou inútil para o mundo. Além de quem eu já citei aqui, tem muito mais gente importante nessa fase. As minhas-amigas irmãs, meus amigos-irmãos, minhas professoras e meus professores da escola, as minhas primas e meu primo, a minha sobrinha, os meus tios. Nossa, é muita gente. Mas preciso destacar também a família do meu namorado e, é claro, ele mesmo. Ele, que me deu sogra, sogro, cunhada, cunhado, tias e duas avós que fala sério! Se eu tivesse pedido, não seriam tão maravilhosas. Ele que esteve me acompanhando por esse tempo todo, e até antes disso tudo, que viveu comigo meus altos e baixos e sempre esteve do meu lado. Ele que hoje está longe, vivendo uma fase maravilhosa da vida dele, mas que estamos juntos do nosso jeito e lidando bem com isso. Obrigada, meu amor. Nosso amor sempre me fortaleceu. Obrigada mesmo a todas e todos.

Marina N. Martins