domingo, 22 de maio de 2011

158

Não dá

O meu ser
é
com você estar
e
com você viver
pois
sem você não dá.

Marina Martins

157

Simplesmente

São os toques de nossas mãos,
nossos simples olhares,
nossos papos às vezes vãos
que me espantam todos os males.

São os emaranhados de nossos braços,
nossos beijos apaixonados,
nossos carinhos e nossos abraços,
é simplesmente estar ao seu lado.

Marina Martins

sexta-feira, 20 de maio de 2011

156

Ciclo (nada) vicioso

a semana não anda
o tempo não passa
terça e quinta não aguento
quarta, então, é uma desgraça

no domingo eu não durmo
sexta tenho muita pressa
final de semana é como um turno
e então, segunda começa

Marina Martins

155

A ânsia da distância

Meu melhor amigo
mora muito distante.
A saudade me mata,
preciso vê-lo o quanto antes.

Deveria ser proibido
vivermos tão afastados.
Separados por um oceano,
estamos cada um de um lado.

São algumas horas de turbulência
e mais outras de fuso-horário
que nos distanciam sem coerência
e nos mantêm separados.

Marina Martins

154

Chuva e sol

Para que viver assim?
Veja só o sol lá fora!
O sol já vem vindo
e levando a chuva embora.

Olhe bem pela janela,
talvez a chuva te deixe mal,
mas veja através dela:
lá vem o sol para melhorar seu astral!

O que você libera de estresse,
libere então de amor.
Fale, grite, berre palavras lindas,
observe a beleza de uma flor.

Esqueça o que te aflige,
deixe a chuva te molhar.
Abra os olhos para o bom da vida,
que eu te digo: tudo vai melhorar.

Marina Martins

153

Olhos que transbordam

Os olhos não fecham
Só ouço soluços
As lágrimas percorrem meu rosto
Construindo um fino canal
E colorindo-o de transparente

Sinto o sal de seu gosto
E sua temperatura quente
Elas queimam meu rosto
Talvez por isso esteja vermelho
Talvez por isso esteja inchado

É como uma chuva
Que sai de mim e me machuca
É como se cada gota
Doesse mais e mais em mim
É o sofrimento de um sofrer

É a carência do querer
É uma poça em meu travesseiro
É o princípio e o fim da insônia
É um nó em minha garganta
Sou eu abraçada pelo edredom

Marina Martins. Nota: título do antigo nome do blog de uma amiga um tanto querida.

152

Viagem

"You were only waiting for this moment to be free"

Voe, passarinho!
Veja que vantagem:
você pode voar!

Abra as asas, filhotinho,
faça a sua viagem
e plane sobre o mar!

Marina Martins

Espinhas:

hormônios à flor da pele.

Marina Martins

151

Reticências

Eu...
acho que...
sei lá...
acho que ia te falar algo...

É que eu tava pensando aqui...
mas acho que...
sei lá...
acho que esqueci...

Ah, acho que lembrei...
ah não, sei lá...
ah, esquece...
é, esquece...

Marina Martins

Reticências (def.):

são o fim de um início sem fim.

Marina Martins

quarta-feira, 11 de maio de 2011

150

Simples

A simples idade
só quer
a simplicidade
de sua
simples cidade.

Marina Martins

149

Assassinato no quarto

Estava triste, o menino,
pensava que ia ser preso.
Sentia-se um assassino,
e saíra totalmente ileso!

Foi por causa das formigas
que cometeu tal crime.
Suas piores inimigas
morreram de morte sublime:

Foi bem ali em seu quarto
que vivenciou a terrível cena.
Pegara o maior sapato
e matou-as, sem a menor pena.

Marina Martins

148

Ispira a ação

Talvez a paixão idealizada
te traga inspiração.
Mas a paixão realizada
é que te inspira à ação.

Marina Martins

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Eis a Poesia.

“Casar assim o pensamento com o sentimento - o coração com o entendimento - a ideia com a paixão - cobrir tudo isto com a imaginação, fundir tudo isto com a vida e com a natureza, (...) eis a Poesia - a Poesia grande e santa - a Poesia como eu a compreendo sem a poder definir, como eu a sinto sem a poder traduzir.”
 
Gonçalves Dias

147

Cara feia pra mim é fome

Não entendo o porquê
desta cara amarrada.
Não sei o que você quer dizer
com essa boca trincada.

Se quiser desabafar,
conte-me o motivo de estar mal.
Cara feia pra mim é fome,
não me contagio com seu baixo-astral.

Marina Martins

domingo, 8 de maio de 2011

146

Meninos

O chá de camomila
embaçava as lentes do óculos.
Ouvindo "Pela luz dos olhos teus"
fechava os olhos seus
e tentava dormir.

Tentava.
Rolava.
Se enrolava.
Meditava.
Pensava...

Em Chico, em Vinícius, em Carlos...
em alguns meninos.
Mas um não lhe saía da cabeça:
aquele que a deixara
ouvindo música até tarde.

Marina Martins

145

Descansando em paz

O mosquito não deixava
a menina dormir.
Ela rolava, até chorava,
mas só escutava ele zumbir.

Foi com um tapa certeiro
que acertou o invertebrado.
Dormia, enfim, a menina;
jazia o inseto, esmagado.

Marina Martins

144

Solitária apaixonada

Só e tua.
Sou tua.
Só tua.

Marina Martins

terça-feira, 3 de maio de 2011

143

Torta

entrarei na casa
da porta
torta
pra comer
torta
que ela mesmo
corta

como eu gosto
de quando
ela corta
a torta
dentro da casa
da porta
torta

Marina Martins

142

Despertamos

Às vezes, não nos ligamos
que tudo o que nunca imaginamos
é tudo o que sempre sonhamos.

Marina Martins

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Mundo Canibal

E quando George W. Bush morrer? Vão comemorar também?

Sem compromissos

Ele sentia sua falta. Sentia falta de ser convidado para o seu “queijos e vinhos” especialíssimo, onde ela servia queijo minas no pratinho e um vinho barato num copo normal. Taças jamais. Adorava seu perfume de lavanda da Granado e seu sabonete Phebo para lavar as mãos. Fora os penduricalhos do banheiro, a “porta-cortina” do quarto e a cozinha colorida. Parecia cozinha de boneca. Ele sentia falta da cama no chão, dos pufes estampados e dos móbiles com figuras que transmitiam coisa boa. E do cheiro de incenso espalhado pela casa inteira... E da sua coleção de Matte Limão, no armário e na geladeira. Mas só em garrafas, nunca em copinho. Ela preferia Matte de garrafa. Sem falar do “porta chás”, aqueles da Leão, que vêm em sachês. Mas tinham uns naturais também, colhidos por alguém em algum lugar; talvez viessem de um de seus retiros de ioga. Ou do sítio de sua família na serra do Rio de Janeiro; Itaipava, Araras, tinha se esquecido. E sentia-se péssimo por causa desse esquecimento!

Sentia falta de toda a sua falta de compromissos e rótulos e de seu jeitinho desligado. De toda a sua informalidade. Do jeito dela de se dar a liberdade de ter liberdade. Do seu pijama de universo e sua camisola de seda. E do pijama dos “Bananas de Pijama” e da calça de pijama de histórias em quadrinhos. E do blusão das “Meninas Super Poderosas”. Sentia falta de suas pulseirinhas com forma, que qualquer outra acharia infantil, mas que ela achava lindo. De sua sandalinha cruzada comprada por quinze reais Feira Hippie e de ir com ela à Feira Hippie, pelo menos um domingo por mês. Mas sempre sem nenhum compromisso! De suas comidinhas vegetarianas, ou dos sushis, que aprendeu a fazer em um curso. E do fato de ela se odiar por ainda comer peixe.

E como se já não bastasse toda a falta que ela fazia, ele ainda vivia numa dúvida: será que ela também sentia sua falta? De seu sorriso e sua gargalhada, que ela gostava tanto, de suas covinhas, de seus olhos cor de mel (que só ela achava que eram cor de mel), de seus “All Star” surrados, de seu perfume de “mauricinho” e seus óculos verdes. Será que ela sentia falta de todo o não compromisso que um tinha com o outro?

Até que ele tomou a decisão definitiva: mandou uma carta a ela por correio, sem remetente. Se a resposta da carta chegasse um dia, com qualquer que fosse a resposta, ela sentiria a sua falta. Senão, partiria pra outra. Seria difícil, mas partiria. Foi então que, exatas três semanas depois, ele recebeu uma carta. E era dela. Ele pensou em ir logo atrás dela, sem sequer checar a resposta, mas teve medo. Medo de se machucar ou se impressionar com algum... possível compromisso dela. Abriu a carta. Em um papel pequeno, dentro de um pequeno envelope (para não gastar papel), ele leu, escrito com Stabilo cor de rosa: “eu também sinto sua falta”. Isso já bastou para que ele sentisse seu cheiro de lavanda da Granado, com mãos cheirando a Phebo e cabelos com cheiro de incenso queimado. Seu hálito de Trident de menta ou, se fosse à noite, de chá de camomila. Isso já bastou para que ele percebesse que eles não conseguiam mais viver um sem outro. Não sem compromissos.

Marina Martins, que estava sentido falta de escrever prosas românticas. Mas sem compromissos.

141

Tecnologia

Ela esperava o celular apitar.
Esperava o MSN piscar.
Esperava o telefone tocar.
Esperava ele ligar.

Até se deitar,
se desligar,
e apagar.

Marina Martins