terça-feira, 26 de novembro de 2013

A neurose das cyberfutilidades



Outro dia, escrevi sobre a neurose alimentícia que está rolando aí pelos Facebooks e Instagrans da vida. Hoje, vou falar de uma outra neurose, mais para uma futilidade absurda, que são aplicativos relacionados a “relacionamentos” e citarei três, porque só conheço esses. Quero deixar bem claro que tudo o que vou escrever são opiniões minhas e não verdades absolutas.

Primeiro, vou falar de um aplicativo que a maioria das pessoas nem sabe que existe, e eu só conheci porque uma professora comentou em uma aula. Eu nem sei o nome dele, mesmo tendo procurado no Google com o meu namorado, mas vou dizer do que se trata. A gente chamou de “rastreador de namorado”. Ele funciona assim: você baixa o negócio – que nem existe mais na PlayStore do Android ou na AppStore do iPhone, pois já foi proibido mais de uma vez – no celular do seu namorado. A gente conseguiu baixar no Google mesmo. Assim, você cadastra o seu número no aplicativo e recebe mensagens com tudo o que ele faz: para quem envia cada mensagem, para quem liga, quando o celular está desligado, sem serviço, enfim. E funciona. A gente testou e eu recebi tudo. E a coisa não para por aí: tem, ainda, a opção de você ESCONDER o aplicativo para o seu namorado não ver que ele existe – mas, para isso, tem que pagar. Quando o meu namorado foi apagar o aplicativo, achou o dito cujo enfiado no sistema do Android, como se fizesse parte do celular. Pois é, gente. Isso existe. E, para mim, isso foi o extremo da neurose tecnológica. A gente se assustou seriamente.

O segundo aplicativo é o famoso Tinder, que nada mais é do que uma página de relacionamentos, como aqueles sites que existem por aí. Com a diferença de que ele conecta com o seu Facebook e procura pessoas que estejam perto de você ou com amigos em comum – me corrijam se eu estiver errada. Há um mês, o aplicativo estava bombando, mas agora percebo que a modinha já passou um pouco para algumas pessoas. Para mim, o Tinder é a doce ilusão de que você vai arranjar um namorado bonitinho pelo celular. Com sorte, essa ilusão dá certo, mas, na maior parte das vezes, não sai nem do chat. Você julga um indivíduo em um movimento feito com a ponta do dedo. Eu acho isso uma loucura! Confesso que às vezes brinco de Tinder com uma amiga minha, fico do lado dela dando xizinnho ou tiquezinho e até me divirto. E talvez, se eu fosse solteira, eu até baixasse o aplicativo. Mas isso não impede que eu ache uma futilidade só.

Por último, vou falar da futilidade mais recente: o Lulu. Também com o meu namorado, baixei para ver o que era. Ficamos chocados. Eu “descobri” coisas de pessoas nada a ver e de gente desconhecida também. Agora, vou listar tudo de errado que tem com o próprio erro que é o Lulu.

1. O aplicativo diz algo como “Ta a fim de alguém? Veja que ele não é tão perfeito assim”. Ok. ATÉ PARECE que se eu estivesse a fim de alguém ia ver o que as meninas falam dele para ver se valeria realmente a pena correr atrás do cara. Faça-me o favor, né? Não consigo imaginar alguém desistindo de ficar com o cara dos sonhos por causa da opinião alheia. Até porque, eu não daria a menor credibilidade aos hashtags que lá estariam. Desculpa se você que está lendo isso é tão dependente do julgamento tosco dos outros, mas eu acho isso inimaginável.

2. Lulu parte do princípio de que todas somos heterossexuais. No começo, achei que era um aplicativo em que não só as mulheres escrevessem sobre os homens, mas o inverso também. Depois descobri que não era. Enfim, fui pesquisar o nome de uma amiga para ver se tinha algo dela, só para poder zoar, e Lulu não deixou. Pois é, mulheres. Se quiserem usar o Lulu, não sejam lésbicas nem bis.

3. Lulu é uma superexposição dos homens. Achei um absurdo o fato de que os caras não autorizam um perfil no aplicativo e qualquer uma escreve o que quiser sobre eles. E eles só descobrem que escreveram algo ou que visitaram seu perfil quando criam uma conta. Ah, e tudo no anonimato, claro.

Concluindo, eu amo a tecnologia e dependo completamente dela, pois hoje não me imagino sem computador, celular, televisão, e por aí vai. Por outro lado, principalmente a Internet é uma porta aberta para idiotices, neuroses, chatices e futilidades. Esses são só alguns exemplos de cyberfutilidades, que dão espaço ao controle do outro, como o primeiro que citei, e estimulam pré-conceitos, como os dois outros. Deletei o Lulu imediatamente e usei o mesmo dedo que joga pessoas fora no Tinder para virar as páginas de um livro.

Marina Martins (em um momento radical)