segunda-feira, 24 de junho de 2013

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Nós de nós

Entre nós
Somos nós
Amarrados em nós
Somos um nó
Somos um só

Marina Martins

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Mudando o país.



Infelizmente, eu não fui aos protestos que tiveram na semana passada. Na segunda-feira, após dar aula em um pré-vestibular, fui encontrar com meu pai para jantar. Marcamos uma hora, mas ele me disse que chegaria depois, porque não estava conseguindo pegar o metrô. Quando nos encontramos, ele me explicou que havia uma multidão perto do metrô da Uruguaiana, que é o que ele pega para voltar do trabalho. Ele me disse que passou no meio das pessoas e que só via fumaça de gás lacrimogêneo – inclusive ela o atingiu e deixou seu olho ardendo – ouvia barulhos de bombas de efeito moral e via também pessoas sendo agredidas e presas. Eu disse a ele “e eu pensei em ir, pai...”. Ele me respondeu, com uma expressão assustada, “imagina!”.

Meu pai tem mais de sessenta anos e, na época da Ditadura, era de esquerda, ou seja, lutava por um país melhor. Hoje, em plena democracia, ele se assustou e teve medo da filha dele estar em meio a um protesto pela justiça nos preços dos ônibus. Estou falando isso porque a época da Ditadura foi conturbada e violenta, em termos políticos. Hoje, vivemos numa democracia em que temos de ter medo ao pedir pacificamente por melhores preços. Quinta-feira, não fui à manifestação. Até porque, além do medo da violência exercida por uma minoria imbecil de manifestantes (isso inclui pichações em patrimônios culturais) e pelos policiais, fico nervosa em locais com muitas pessoas. Ou seja, eu não conseguiria correr, se precisasse; não seria uma boa ideia.

Hoje, eu queria ir, mas não posso. No horário do protesto estarei dando aula e eu não deixo meus alunos na mão. Dou aula para um pré-vestibular comunitário, ajudando a levar cultura e conhecimento a pessoas que não tiveram as mesmas oportunidades de educação que eu tive. Espero que eu esteja conseguindo. Fiquei bastante satisfeita com os resultados no ano passado – não me refiro às notas, me refiro à gratificação de alguns por poderem ter essas aulas. Estou também satisfeita esse ano. O que vejo é um grupo de jovens e adultos que querem passar no vestibular e estudar; eles participam, me ajudam, me corrigem, me ensinam. O ensinamento nas aulas é recíproco, nós nos ajudamos. Falei isso tudo para dizer que eu queria, sim, ir às ruas hoje para ajudar a mudar o país, mas estarei tentando mudá-lo de outra forma. No horário em que amigos meus, até alunos meus, e outras pessoas estarão protestando pela justiça, eu estarei tentando mudar a educação injusta desse país, fazendo o que posso para isso.

Marina Martins, que está vestindo branco, em homenagem aos protestos.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

E você, o que faria por amor?



Acabo de ver uma série de fotografias em um site muito interessante, que gosto muito. A série é sobre uma jovem que está com câncer terminal e decide se casar com o homem que sempre amou; cinco dias depois, ela morre. A pergunta que o site nos faz é: “Se tivesse pouco tempo de vida, qual seria o último sonho que realizaria?”, mas a que veio em minha cabeça foi outra: o que você faria por amor? Porque, para mim, acima de um último pedido, ou um último sonho, o que o casal fez foi um ato de amor. Para aquela menina, e talvez para o menino também, o que mais importava naquele momento era o amor entre eles. E a forma que eles encontraram de demonstrar esse amor, pela última vez, foi se casando. Ela estava magra, fraca, cansada, não respirava mais sozinha. Mas estava no altar, linda e feliz, porque estava realizando um sonho. Pelo menos ela morreria mais alegre. Pelo menos ele a perderia, tendo certeza de seu amor, assim como ela teve do amor dele. E tenho certeza de que ele, no dia do casamento, estava achando-a linda, mesmo no estado em que uma pessoa fica ao ter câncer.

Esse ato de afeto me fez pensar e acreditar, mais uma vez, que o amor pode mesmo mover o mundo. Cada gesto amoroso melhora um dia, um momento, um país inteiro. E demonstrar amor não é apenas casar: é abraçar, sorrir, cantar, respeitar. É ser gentil com os outros e vê-los retribuindo a gentileza; é rir com pessoas que você conhece e com aquelas que compartilham um momento engraçado com você, de dentro do ônibus. É levantar do assento e oferecer a uma velhinha ou a uma grávida. É acariciar a barriga de uma grávida e depois dar um beijinho naquela pequena vida que está por vir. É você cumprimentar, com um abraço, um amigo, e o amigo do amigo também. Demonstrar amor é elogiar, mas também criticar, quando a crítica vai ajudar alguém. É deixar ir e também protegê-la e querer prendê-la ali com você. É ver que alguém começou a cantar uma música e cantar junto com a pessoa. É o beijo na bochecha da melhor amiga. É o beijo na boca do namorado. É o beijo na mão da avó que está doente. É um homem e uma mulher se beijando. São duas mulheres se casando. São dois homens tendo um filho. O amor está por toda parte, aparece em qualquer lugar e vem de qualquer pessoa. Se eu tivesse que responder o que faria por amor... amaria. Por amor, eu poderia até me matar no lugar de alguém, sem exageros. Eu faria tudo por amor. Faria tudo para amar. Amo. Amo para receber, em troca, o amor que dou. Porque, repito, o amor move o mundo.

Marina Martins, em homenagem a todas as pessoas que ela ama no mundo inteiro.