sábado, 31 de dezembro de 2011

251

Então, que venha!

Com a caneta verde, risquei o dia trinta
Olhei para o calendário, resta só mais um
Senti, em mim, qualquer coisa que se sinta
Quando se percebe que já não restará nenhum

Neste ano, descobri um amor
Que há tempos vivia buscando
É aquele que não me causa dor
Já que não sou a única amando

Adotei, definitivamente, oito formigas
Que são a minha segunda família
E por sermos um tanto quanto amigas
É família sem pai, nem mãe, nem filha

Posso dizer que fui quase engolida
Pelas exatas durante o ano inteiro
Mas não cheguei a ser destruída
Pois eu consegui engoli-las primeiro

Descobri uma mania engraçada
Que não me atreveria a falar
Mas que 2012 siga estrada
Com muitas meias para tirar

Não será fácil este ano que vem
Para amenizar, vou ver muito o sol se por
E em vez de pensar só nas questões do ENEM
Estarei sempre com a resposta que chamo de amor

Marina Martins, com versos baseados em “Socorro”, de Arnaldo Antunes, e “Altar Particular”, de Maria Gadu.

250

Novos começos

Agora não há mais escapatória
Eu conheço todo você
Não é fim da linha ou da historia
Porque é motivo para te prender

Agora eu sei de cada detalhe
Que em você me conquista
Não deixarei que isso se espalhe
Neste aspecto, sou bem egoísta

Qualquer coisa que em você exista
E que me apaixone sempre mais
Faz com que eu não resista
E nunca queira voltar atrás

Sei que te conheço e você me conhece
A gente sabe de cada sorriso e cada choro
É que olhando assim, até parece
Que a gente é começo de namoro

Dedicado ao seu queixo e à sua orelha, em especial.
Marina Martins

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

249

Sambaleando
(Nem ruim da cabeça, nem doente do pé)

Ela diz que vai morrer nesta favela
Quando ela passa, o batuque vai na mão
Ela sonha em ser da Velha Guarda da Portela
E desde pequenina arrasta os pés no chão

Se seu pai entra no quarto e a vê sambando
Dá-lhe um puxão de orelha e esconde o pandeiro
Diz que ela vai acabar não se achando
Diz que samba não vai dar dinheiro

Ela não dá bola e só sorri
Lembra ao pai que ele é bamba
O pai, rindo por dentro, sai logo dali
Afinal, nem ele resiste ao samba

Ela nem se dá ao trabalho de sambar escondida
Não se importa se o pai reparar
Ela diz que samba é estilo de vida
E que ninguém consegue fazê-la parar

E na roda, canta a cuíca, chora o cavaquinho
Ela arrasta as sandálias, balança a saia
Ela samba no pé só no miudinho
E quando vê, até o pai está na gandaia

De olhos fechados, ela canta todo o enredo
Enquanto sente vibrar a batida
O dia amanhece e o tarde vira cedo
Mas não se acaba nunca sua energia

No samba, a poesia é a tristeza
Que se transforma em alegria de qualquer maneira
Acaba a roda, ela sai com sua beleza
E sai de mansinho, sonhando em ser porta-bandeira

Marina Martins

sábado, 24 de dezembro de 2011

Aleatório natalino

As nuvens se aproximam na véspera do Natal. Por que é que todo ano chove no dia 24? Sempre chove, já reparei nisso. É como no meu aniversário. Se bem que nesse ano nem choveu... Mas por que é que chove no Natal? De repente são os que já se foram chorando, tristes por não estarem reuinidos com quem gosta. Ou chorando emocionados, por ver que a família continua sempre unida, mesmo sem eles. Para mim, Natal não é Jesus. Para mim, Natal não é presente. É família. É mais um jantar com a louca família, com muitos risos e as inevitáveis lágrimas! E o tradicional amigo oculto. Então, chorem, chorem o que precisarem e o que tiverem vontade! A gente entende. Todo mundo entende, todo mundo chora. Chorem tudo o que tiverem que chorar hoje, mas peço guardem as lágrimas no Reveillón. Sabe como é, o mar de gente de Copacabana já basta pra nos deixar molhados de suor. Para não ser muito egocêntrica, se tiverem que chorar, chorem só um pouquinho. Mas só para dar uma refrescada. Feliz Natal. E eu prometo segurar firme e apertar os cintos de segurança, porque 2012 vem com tudo!

Marina Martins

domingo, 18 de dezembro de 2011

248


A um roteirista iludido

Você queria que eu mudasse
E achou que me encontraria mudada
Além disso, queria que eu esperasse
De você, quase nada

Você jurava que me veria
Correndo para você, apaixonada
Ou então, que eu sofreria
E ficaria, sem você, atordoada

Acontece que você sempre se achou
Muito melhor do que realmente é
Você não entende que nossa história acabou
E que não fui feita para ser sua mulher

Infelizmente, a vida é diferente
Do que a gente vê na tela
A minha vida não é simplesmente
Um banal roteiro de novela

Marina Martins

247


Minha vida é poesia

Minha vida é poesia
Romântica, inspirada, concreta
Meus momentos de alegria
Fazem minha vida ser correta

Minha vida é poesia
De poeta amador
Ela é feita de energia
Que é causada pelo amor

Minha vida é poesia
De uma cabeça com imaginação
O que eu faço ou faria
Vem da minha inspiração

Marina Martins

246


Soneto de impedimento

Tudo o que se pode pensar
Mas não é falado
Pois não se pode falar
Se é então sonhado

Pode ser porque seria proibido
Ou por medo de ser vetado
Por ser apenas sonho distraído
Ou pensamento que se evita mau-olhado

Mas já que não se lê pensamento
E não se descobre o que se sonha
Não há porque se preocupar

Já que toda hora é momento
Seja na rua ou em cima da fronha
Não se pode impedir de sonhar

Marina Martins

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

245


Alteregos

Pode ser homem ou mulher
Pode morrer ou se matar
Pode ser quem eu quiser
Basta eu me colocar no lugar

É fácil ser outro ser
Ser eu mesma não é complicado
Na hora que vou escrever
Posso ser o inesperado

Ela sofre por amor
Ele sofre por amar
Ela não aguenta sentir dor
Ele não quer mais esperar

Ela não consegue ser amada
Ele é a pessoa mais feliz do mundo
Ela é muito dedicada
Ele é um vagabundo

Ele escreve poesia
Ele não escreve muito bem
Ele nem sempre está em sintonia
Ele escreve prosa também

Ela sabe e segue seu ofício
Ela tem medo de morrer
Ela se atirou de um precipício
Ela só pensa em viver

Preciso apenas de inspiração
E um lado um pouco louco
A minha imaginação
Ajuda meu cérebro não ser oco

Marina Martins