terça-feira, 25 de outubro de 2011

223

Lista do que fazer nos próximos dias

Lamento por não ter rido de bobagens
Por não ter abraçado na hora certa
Por não ter respondido mensagens
Por ter perdido a oportunidade de ficar quieta

Arrependo-me por não ter sorrido para ele
Por não ter me declarado às minhas paixões
Por não ter tatuado minha pele
Por não ter inventado certos bordões

Desculpe-me se guardei muitas coisas para mim
Se ignorei alguns fatos importantes
Se disse muito “não” no lugar de “sim”
Se me distanciei em certos instantes

Queria poder ter dito que o amava
Ter aprendido a tocar violão
Ter dito que por você, eu ficava
Ter te segurado e te dado meu coração

Marina Martins

222

Contradição

Quando via os outros chorando, sorria.
Enquanto os outros sorriam, chorava.
Quando tinham dúvidas, sabia.
Enquanto acreditavam, duvidava.

Se ninguém quisesse, gostaria.
Se todos odiassem, amava.
Quando todos ficavam, saía.
Quando todos iam embora, ficava.

Nos grupos, estava sozinha.
Nas duplas, formava trio.
Enquanto os outros perdiam, ela tinha.
Enquanto fazia calor, sentia frio.

Quando havia ordem, queria contradição.
Quando todos se achavam, estava perdida.
Enquanto estavam parados, precisava de ação.
Sempre contrariando, acabou sem vida.

Marina Martins

Motor

O amor pode mover a alma até mesmo de quem ainda o desconheça.

Marina Martins

Imaginário

Nasci num mundo onde todas as pessoas imploram por amor, esquecem de dinheiro e gritam pela paz. Nasci num mundo que não existe.

Marina Martins

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

221

Sempre só de vez em quando

Não sei bem de onde vem tanto medo,
Não sei bem como posso explicar.
É algo que é meu, mas não é segredo;
É como se eu já não pudesse mais esperar;

É duro te ter enquanto meu cérebro sonha,
Mas acordar e não te ver ao meu lado.
Acontece que, entre ter lençóis e fronhas,
Eu preferia te ter aqui deitado.

Preciso da minha dose de felicidade,
Do meu momento que contigo divido,
De sentir o bem que você me faz.

Quero dormir ao seu lado e acordar tarde,
Lembrar da alegria de ter te conhecido,
Prender-te de vez e não te soltar mais.

Marina Martins

domingo, 16 de outubro de 2011

Atchim!

Alegria é quase alergia. Seria então a alegria um tipo de alergia? Se for, quero ter uma crise de alergia. Aliás, de alegria.

Marina Martins

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

220

Sem Título

Cem.
Sem.
Sem cem.
Sem sentido.
Sem sentir.
Senti.
Sem ti.
Sem título.

Marina Martins

D'onde vem a tortura

Tortura é ter que deixar você levantar da cama e ir embora, após descobrir que já deu a sua hora de ir. Tortura é ter que me controlar para não te sequestrar enquanto você arruma suas coisas; é ouvir você dizer que estou te torturando com minha cara de torturada. Tortura é te deixar na portaria, ver você indo e, como de costume, virar o rosto para olhar para mim de novo, enquanto eu ainda olho para você através da porta de vidro. Tortura mesmo é a carinha de cachorro abandonado que você faz quando olha para trás. Tortura é voltar ao meu quarto e perceber que ele está com seu cheiro. Então, me jogo na cama e lembro que só te verei no outro final de semana. Isso é tortura.

Marina Martins

219

Completando-me

Se sou o eu lírico do poema,
você é a inspiração.
Se me deparo com um problema,
você é a solução.

Se tenho um péssimo dia,
só preciso ouvir sua voz.
Se me afogo na lágrima fria,
você consegue desatar meus nós.

Se há um desentendimento,
não aguento por muito tempo.
Se existe a hora de parar para escutar o vento,
você é esse contratempo.

Se meu coração bate forte,
é porque você é o motivo.
Se você me fez encontrar a sorte,
então consigo manter o coração vivo.

Marina Martins

domingo, 9 de outubro de 2011

218

Gritos calados

Eu estou aqui por perto,
não sou um ser invisível,
não sou nenhum tipo de inseto,
muito menos um sonho impossível.

Eu estou aqui na sua frente,
você não consegue me ver?
Pelo menos diz que sim, mente!
Senão eu vou começar mesmo a me esconder.

Eu estou bem aqui atrás,
você não consegue sentir?
Como é que você faz
pra fingir que nem meus gritos você pode ouvir?

Eu estou aqui, você não vê?
Por favor, me entenda, me ajuda!
Eu tento me comunicar com você,
mas minhas palavras me deixam ainda mais muda.

Marina Martins

217

Desgaste

Gente muito estressada,
grossa e desrespeitosa,
gente chata e desinteressada:
cansei.

Gente que não dá atenção,
não escuta e fala demais,
gente sem carinho e compreensão:
cansei.

Gente que não se preocupa,
mas se mete na vida dos outros,
gente vagabunda que não se ocupa:
cansei.

Gente que só reclama,
que só sente dor e cansaço,
gente que não curte e não ama:
cansei.

Gente que não tem educação
mas tem preconceito e vontades,
gente que não tem coração:
cansei.

Gente que mente e que engana,
que é falsa e forçada,
gente que não aproveita o fim de semana:
cansei.

Gente que não percebe no outro, a dor,
que só conhece o próprio umbigo,
gente que não sabe viver com amor:
EU CANSEI.

Marina Martins

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

216

João e Maria

Imaginemos então que ainda somos amantes
Pensemos que estamos quase virando namorados
Tornemos então as coisas como eram antes
Fingemos que somos recentemente apaixonados

Teremos assim um compromisso sem outro compromisso
Reservaremos secretamente a nossa sexta-feira
Existe algo mais gostoso do que isso:
Se encontrar com o medo de falar alguma besteira?


Iremos gastar toda a conta com torpedos
E os trocaremos durante todo o dia
Iremos sair, mas teremos que voltar cedo
Comentaremos sobre coisas que o outro já sabia

Voltemos então a só ter olhos para nossas qualidades
Como se simplesmente não soubéssemos de nossos defeitos
Vamos esquecer do mundo para que sejam feitas nossas vontades
Como se não houvessem consequências ou efeitos

Marina Martins

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

215

Aos domingos

Quero acordar em uma tarde de domingo
Olhar para o lado e lhe ver descansando
Despertar-lhe para você acordar sorrindo
Ouvir você lavando o rosto cantarolando

Depois você vai se jogar na cama novamente
E para isso basta contar até três
Antes que eu possa sentir-lhe presente
Você rapidamente já o fez

Você vai esconder o rosto no travesseiro
Depois, sem ver, vai tentar pegar na minha mão
Mas eu serei mais rápido e pegarei na sua primeiro
Amassada no travesseiro, você vai cantarolar novamente aquela canção

Você vai se espreguiçar e reclamar de cansaço
Vou lhe ouvir dando aquela risada gostosa
Você vai olhar para mim e eu lhe darei um abraço
Eu vou rir novamente desta rotina dominical deliciosa

Marina Martins

Oi.

É tão estranho. É só um “oi”, mas tão estranho. Você se contorce na cadeira, treme, pensa se deveria mesmo fazer isso, como se fosse um pedido de casamento. Mas não, é simplesmente um “oi”. O que há de errado nessa simples palavrinha, afinal? Você fecha os olhos, digita e envia. Dentro de você, o sentimento de “o que foi que eu acabei de fazer?” e o de “tomara que ele me responda” se misturam e lhe deixam sentindo-se como doida. O mais estranho é que é só um “oi”, nada mais além de um “oi”. Um “oi” sem compromisso, mas que sente falta e saudade. E você sabe que talvez esta falta de compromisso seja exatamente o que dificulta o diálogo entre vocês. Mas você sente falta, você só quer um amigo. Por que será que ele lhe ignora? Por que será que todas as suas tentativas falharam? E o pior: você diz que vai parar de tentar, mas não quer parar. Você acha que deve parar de tentar, mas por outro lado acha que não deve. Você tem a esperança de que algum dia ele retribuirá sua saudação e vocês vão conversar. Faz tanto tempo! O que será que ele sente quando vê que você fala com ele? Por que ele não responde? Você só queria saber como ele está. Faz tanto tempo... em pensar que um dia tudo foi tão diferente, vocês estavam perto e agindo quase que naturalmente, se é que podemos chamar aquilo de natural. E isso faz tanto tempo! Hoje em dia, ele nem responde seu “oi”. É tão injusto. E tão estranho.

Marina Martins