quinta-feira, 29 de setembro de 2011

214

(v)i(n)das

conviva
com vida
sem vida
sem ida
nem vinda
nem vindo
vem indo
vem vindo
vai indo
bem vinda
bem vindo!

Marina Martins

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Sambabando


O samba toca, ele pensa em você. Ele te olha, mas você nem nota; seus olhos estão fechados e você sente a música. Ele estuda a geometria e a leveza de seu corpo, percebe a perfeição de suas curvas, enquanto observa seus pés levemente tocando o chão e suas mãos rebolando na ponta de seus braços. Seus cabelos voam e, delicadamente, fazem como uma cortina que tampa seu rosto angelical. Mesmo assim, a cortina não deixa com que seu sorriso branco se esconda e este reluz nos olhos verdes e brilhosos dele. Ele se imagina com as mãos entrelaçadas em seus cabelos, beijando seus lábios e ficando todo borrado de batom vermelho, enquanto tenta te acompanhar na dança. Você canta, ele se encanta. Você remexe, ele se mexe. Ele pega o cavaquinho e cantarola um sambinha de autoria própria. Você dança e sorri gentilmente para ele, sem notar que a música te descreve. Você canta, pois, assim, os males espanta; ele enfia a cabeça por entre os homens para te ver. Você chora quando o samba acaba; ele chora por ainda não te ter.

Marina Martins

213

Onde dormem os vagabundos

Onde dormem os vagabundos
enquanto os dedicados trabalham?
Onde se escondem os imundos
enquanto as parasitas se espalham?

Quem é que vai admitir
quando o dinheiro for parar na cueca?
Quem é que vai querer agir
enquanto políticos tiram meleca?

Onde se compra esperança
num capitalismo vergonhoso?
Onde se encontra a criança
que perdeu a família e o almoço?

Quem se preocupa por um segundo
quando se perde em cocaína?
Quem é que liga para o mundo
enquanto vomita pelas esquinas?

Onde se instala o coração,
senão no lado lado esquerdo do peito?
Onde é que está atenção
prestada pelo prefeito?

Quem é que ousa perceber
a madame com pérolas no pescoço,
enquanto pessoas não têm o que comer
e estão no atiradas no fundo do poço?

Marina Martins

domingo, 25 de setembro de 2011

.

O pecado mora em uma figura um tantinho esticada, com base de biscoito, recheio de marshmellow, envolvida por chocolate e é encontrrada na Koppenhagen.

212

Explicando-me

Não gritei quando nasci,
devia estar me controlando.
Depois que eu cresci,
percebi que já estava me acostumando.

Aprendi a colocar na mesa
quando sei que estou certa.
Nas vezes em que não tenho certeza,
aprendi a ficar quieta.

Sei que brigas não dão jeito,
quero que passem longe de mim.
Mas se me faltam o respeito,
eu discuto até o fim.

Uns dizem que sou dona da verdade,
o que considero ironia,
pois, ao me darem essa identidade,
agem como um "dono da verdade" faria.

Aprendi a escutar toda gente,
não preciso ouvir satisfações.
Mas se algo estiver muito diferente,
vou querer saber de explicações.

Marina Martins

terça-feira, 20 de setembro de 2011

211

"Would you hold my hand if I saw you in heaven? Would you help me stand if I saw you in heaven?" - Eric Clapton

Neste instante

O pior é que não adianta gritar,
não sei se você pode me ouvir.
Mas será o que o certo é me calar?
Simplesmente aceitar que todos temos de partir?

Deixo que as lágrimas lavem meu rosto,
espero até que se sequem sozinhas.
Mas antes, sinto seu gosto
e deixo que uma delas esbarre nas vizinhas.

Desculpe-me se não posso segurar,
juro que já melhorei bastante.
Mas não tem como parar de chorar,
se o que eu mais queria, era estar com você neste instante.

Marina Martins

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

210

sedentário

não me dê
nome de
nômade

Marina Martins

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

De um irmão.

"Pior eu, que sinto saudades de alguém que nem tenho ainda."

Felipe Ribas

terça-feira, 13 de setembro de 2011

209

Fungos cotidianos

nem parece que estou no Rio
as lentes dos óculos vão ficando embaçadas
a única coisa que sinto é frio
andando por estas calçadas

as ruas passam por mim
-ou sou eu que passo pelas ruas?-
é como uma estrada sem fim
mas que não começa, nem continua

os cheiros confundem minhas narinas
a fumaça do caminhão me enlouquece
coloco para dentro algumas Aspirinas
mas a tosse ainda permanece

pessoas tossindo seus pulmões
cuspindo o que sobra e entala
esquecem de cuidar dos corações
carregam na mão direita, uma mala

poças de água imunda no chão
-o que está acontecendo?-
será que o mundo está em putrefação
ou eu que estou apodrecendo?

Marina Martins

208


(Des) Construção

Quebro a cabeça para pensar burrices
Gasto a voz para falar bobagens
Erro os caminhos para sair da mesmice
Fecho os olhos para desconstruir paisagens

Corro para poder me cansar
Descanso para secar o suor imaginário
Entorpeço-me com o perfume do ar
Durmo para girar em sentido anti-horário

Perco-me para sentir medo do escuro
Grito para ninguém me esquecer
Escondo-me atrás de invisíveis muros
Esqueço-me do que me vale viver

Marina Martins

domingo, 11 de setembro de 2011

207


Sem sentido

Ele pensava que de nada mais adiantava
Afinal, o céu só aparecia nublado
A alegria não mais pairava
Ao começo do dia, ele já encontrava-se acabado

Não brilhava mais aquela estrela
A lua não mais iluminava seus caminhos
Nas noites, queria apenas vê-la
Nos dias, apenas ouvir os passarinhos

Já não sentia prazer em pisar na areia
O mar parecia estar sofrendo
Já não via mais graça na vida alheia
O mundo não estava mais o compreendendo

Era o único nas pedras do Arpoador
Fazia um frio quase glacial
Sua alma se contorcia de dor
E seu corpo, de pé, fazia um esforço imoral

Sentiu a lágrima quente molhar seu rosto
E olhou fixo para o mar
Naquele dia de agosto
Seu corpo foi o único a flutuar

Marina Martins

206

Paixão conceitual

Criamos a equação
perfeita para nos completarmos.
Temos a fórmula do coração
feita para nos apaixonarmos.

Nosso amor não é sequência
que vai de um até dez.
É algo que ultrapassa a frequência
de cento e vinte decibéis.

Por você, só cresce minha paixão,
em muitos metros por segundo.
Ela cresce em forma de progressão
e ultrapassa além do mundo.

Transfiro para você meu calor,
na forma de um abraço rico.
Você o recebe em forma de amor
e entramos em equilíbrio térmico.

Nosso abraço serve como experiência
para a gente se equalizar.
Minha camada de valência
precisa de você para se completar.

Marina Martins

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

205

Melancolia florida

Então, eu te conheci...
Você coloriu minha vida.
Contigo eu floreci,
cresci feito Margarida.

Dediquei-te minha poesia,
até melhorei minha prosa.
Escrevi todos os dias
e embelezei-me feito Rosa.

Enchi-me novamente de cor,
encontrei meu lugar ao sol;
dei-me conta de que nosso amor
formava um só Girassol.

Outro dia, admiti
que sempre o sol vai se por.
Agora que te perdi,
espero não murchar como flor.

Marina Martins

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

204

Feito menina

Esta Lua é danada.
Fica escondida, finge que é tímida,
mas não tem vergonha de nada.
Sempre aparece, linda no céu
e não está nunca com a cara amarrada.
Faz charminho por entre as nuvens,
mas na verdade é bem assanhada.
Quando crescer, quero ser que nem ela:
tão brilhante e por todos adorada!

Marina Martins