terça-feira, 6 de junho de 2017

sem título

(dos sentimentos intensos que se transformam, daqueles textos que demoramos meses a publicar e dos sentimentos que precisam se transformar para serem publicados)

Você não tem noção de quantas coisas diárias me vêm à cabeça a respeito de você. Coisas noturnas também. Passei meses sonhando com você todas as noites. Agora melhorou: são quase todas. Nem eu tinha noção de que seria assim. Eu fico imersa em uma bolha de angústia que só infla e não estoura, porque guardo dentro de mim palavras que quero tanto te dizer. E não, nem é nada demais, não fica achando que é algo grave, são simplesmente sentimentos que me afogam se não os transbordo. São sinceridades simples que tenho vontade de compartilhar com você, mas olhando nos seus olhos - e desviando de vez em quando por perder a compostura um pouquinho. Assim como já compartilhamos tantas simplicidades e até profundidades. Nada, nada demais mesmo. Eu acho. Mas o pouco já me queima por dentro. E eu não sei o que faço, nem comigo e nem com você. Por que não poderia ser tão simples quanto as coisas simples que quero dividir com você? Eu poderia dar isso tudo pra você ler, você leria do meu lado e a gente conversaria depois. Mas nem isso eu tenho coragem. E por que?, eu me pergunto. O que me preocupa tanto, se a vida que eu tenho é só essa? Por que eu não posso chegar simplesmente e dizer "por favor, para de me fazer querer desistir de você. Vamos sair, vamos conversar, eu gosto de você, eu sinto sua falta. Eu não quero me casar, nem te namorar, só quero te encontrar pra gente trocar carinho e sinceridade"? Eu vivo na vontade e na castração de te mandar uma coisa dessas. Quero ver suas fotos e saber da sua vida, sua conversa é boa. Quero te falar que a minha vontade é de dar na sua cara e depois te abraçar, porque é assim que me sinto em relação a você. E por falar em abraço... Penso em todos os nossos abraços incompletos ou loooongos, que se estendem desde o encontro da cabeça com o peito até as pontas dos dedos das mãos que vão soltando os braços aos poucos. Braços que não queriam desenlaçar. Nos abraços terminados não por vontade própria, porque tudo o que eu queria era estar ali com a cabeça no seu peito, simplesmente porque seu abraço sempre me fez sentir bem. E também penso em cada toque em público que não tocou ou cada um que tocou e me fez formigar involuntariamente. Você me confunde, quer me deixar mais louca do que já sou, fico achando que não quer falar comigo nunca mais, fico com medo de ser mala, de ser otária - quando tudo isso, vamos combinar, poderia ser resolvido com uma conversa. Mas aí eu te encontro e vejo a sua alegria, porque a gente se gosta pra caralho, e sinto aquela tensão entre a gente, aquele desejo por abraços maiores que podem se estender até que um termine em cima do outro. Ou deitado do lado do outro. Provavelmente eu só estou escrevendo isso para eu ler na posteridade e me arrepender - ou não - de nunca ter te mostrado. Mesmo que eu esteja escrevendo isso, imaginando você lendo e rindo, exatamente nesse momento em que estou dizendo que você lê e ri, ta vendo? Duvido que não esteja pelo menos sorrindo. Não sei quando vou te falar tudo, ou pelo menos um pouco. Não sei se. Mas sei que quero. Mesmo que você nunca escute e que isso me deixe louca de vez. Mesmo que eu esteja escrevendo essa carta sem destinatário. Aliás. Com destinatário, mas endereço errado, já que ela não chega ao destino e acaba voltando para mim. E então se torna igual aos nossos abraços em público, aos nossos quase encontros: incomple

Marina N. Martins