quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Nos braços da Rainha




Abençoado por Yemanjá, o mar me acolhe. Flutuo imersa num abraço caloroso e fresco, em uma imensidão indecisa entre o verde o azul. As ondas estouram tímidas, então ouço apenas minha respiração, distraída e relaxada. As nuvens, generosas com o sol, deixam ele queimar meu rosto, de forma delicada e gentil, enquanto as ondas vem e o afundam, refrescando-o. O céu é de um todo azul, deixando à mostra um princípio de Pedra da Gávea, escondidinha bem atrás dos Dois Irmãos. Com os ouvidos cobertos pela água, quase tudo some. Há somente eu, o barulho do mar e minha respiração, em total sintonia. Meu corpo em contato com uma natureza pura, selvagem e impecavelmente natural. Eu em perfeita harmonia com fogo (do sol), ar, terra e água, protegida pelo sol de Ipanema.

Marina Martins

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

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Chão

Somos dois corpos atirados no chão
Cansados após uma brincadeira infantil
Somos o silêncio preenchido por respiração
Não há nada em volta, o mundo sumiu

Nosso silêncio é o que diz mais de mil palavras
Mas também é o que esconde muitas delas
Naquele momento, enquanto te olhava
Só conseguia pensar nas que eram mais belas

Minhas mãos caminhavam por seu rosto
Acariciando-lhe, lhe dando arrepios
Via seu sorriso, enquanto meu encosto
Era o seu ombro, duro e macio

O momento passou, na memória o conservo
Mas por ter sido tão simples e envolvente
Fecho meus olhos enquanto escrevo
E mantenho a primeira estrofe no presente

Marina Martins

314



Mudanças



Seus olhos já não brilhavam como antes

Sua voz não mais trazia tanta alegria

Seu abraço já não era reconfortante

Sua presença não melhorava mais o dia



Suas palavras deixavam de passar confiança

A cabeça trabalhava para tentar esquecer

E para um encontro, o que antes era ânsia

Tornava-se vontade de não querer mais ver



Os ouvidos não aguentavam mais mentiras

O silêncio queria gritar tristes verdades

Pois os encontros provocavam certa ira

E estar junto deixava de significar felicidade



As lágrimas do céu encostam gentilmente nas minhas

Tentar segurar o choro é árduo dever

Se tenho em mim uma parte que se sente sozinha

Mas, um dia, as outras partes conseguirão o prender

Marina Martins

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

313



Choro.

Choro. Penso naqueles cujos hospitais não têm cama,
Nas mães perdendo os filhos com um tiro,
Nos que, quando há chuva, têm as casas afundadas em lama,
Nas crianças que, com uma arma na mão, dão um último suspiro.

Choro, pois há pessoas que não sabem a própria idade,
Aquelas que, quando nascem, nascem sem certidão.
Choro, pois há pessoas sem pai na identidade,
Só há o nome da mãe no espaço de filiação.

Choro quando um pastor diz que homossexualismo tem cura,
Ou quando sei de meninas e mulheres estupradas.
Penso nos moradores de rua levando a vida na amargura,
Choro quando lembro que há crianças sexualmente abusadas.

Penso nos meninos e meninas que nas drogas se perdem,
Penso nos bebês que são paridos sem terem colo.
E quem deveria não faz nada, mesmo se eles pedem.
Enquanto isso, penso que por isso choro.

Marina Martins