segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

249

Sambaleando
(Nem ruim da cabeça, nem doente do pé)

Ela diz que vai morrer nesta favela
Quando ela passa, o batuque vai na mão
Ela sonha em ser da Velha Guarda da Portela
E desde pequenina arrasta os pés no chão

Se seu pai entra no quarto e a vê sambando
Dá-lhe um puxão de orelha e esconde o pandeiro
Diz que ela vai acabar não se achando
Diz que samba não vai dar dinheiro

Ela não dá bola e só sorri
Lembra ao pai que ele é bamba
O pai, rindo por dentro, sai logo dali
Afinal, nem ele resiste ao samba

Ela nem se dá ao trabalho de sambar escondida
Não se importa se o pai reparar
Ela diz que samba é estilo de vida
E que ninguém consegue fazê-la parar

E na roda, canta a cuíca, chora o cavaquinho
Ela arrasta as sandálias, balança a saia
Ela samba no pé só no miudinho
E quando vê, até o pai está na gandaia

De olhos fechados, ela canta todo o enredo
Enquanto sente vibrar a batida
O dia amanhece e o tarde vira cedo
Mas não se acaba nunca sua energia

No samba, a poesia é a tristeza
Que se transforma em alegria de qualquer maneira
Acaba a roda, ela sai com sua beleza
E sai de mansinho, sonhando em ser porta-bandeira

Marina Martins

Um comentário:

Naomi Baranek disse...

EEEEE!! Que bom que o filme foi um sucesso tao grande!!! Amei o poema! Ficou enorme! hahaha bjs