Sem
títulos poéticos. Dessa vez, fui curta e grossa. Há um tempo tenho vontade de
escrever sobre esse assunto tão polêmico, mas não escrevo, exatamente por ser
tão polêmico. Mas e daí, não é mesmo? Tem tanta gente por aí expressando suas
opiniões, por que eu não vou expressar a minha? Decidi, finalmente, por
escrever. Esse blog é o meu espaço, lugar que tenho para escrever o que penso
sobre o que quero, o que quero sobre o que penso. Se não for aqui, onde mais?
Resolvi, então, embasar meus argumentos em argumentos contrários e a favor
sobre o assunto, tanto os já ditos quanto os já escutados (ou lidos) por mim. À
medida que apontá-los aqui, vou construindo a minha posição, que, já adianto
logo, é de defesa.
É uma vida. Quando mais nova, eu tinha uma posição meio ambígua em
relação ao assunto. Não entendia muito bem essa coisa de abortar. Por um lado,
achava que as mulheres deveriam escolher o que é melhor para elas e para seus
corpos. Por outro, eu tinha pena daquele bebê que poderia crescer ali naquela barriga
e repetia a frase “é uma vida”. Fui crescendo e percebendo que não é bem assim.
Aquele “bebê” ainda não é um bebê. É um ser que não está formado, não sei se
chamaria de vida.
Assassinas. Exatamente pelo fato da criança a ser abortada ser uma
vida, as mulheres que abortam são assassinas. Gente, bota exagero nisso, né? Se
uma mulher grávida de seis ou sete meses abortasse, o argumento até seria
válido, mas não é o caso. Alguém que optou pelo aborto não está fazendo isso
com a intenção de assassinar ninguém, apenas não é a hora dela colocar uma
criança no mundo. E melhor que essa criança não seja colocada, do que viva em
condições que não mereça.
Eu
até entendo essa aflição toda que as pessoas têm em relação ao aborto, eu
também tenho aflição. Eu acho que não abortaria, mesmo se engravidasse agora. Até
porque, eu teria medo de ter alguma complicação e não poder mais engravidar. Mas
isso não me faz sentir no direito de opinar sobre a opção de ninguém. E, ainda,
isso não quer dizer que eu seja contra o ato do aborto. Todas as mulheres que
abortam sabem que isso é a última opção. Não conheço ninguém que pense “ah, vou
transar sem camisinha, porque se engravidar, é só abortar”. Não acredito que
esse pensamento exista, sinceramente. Todas as mulheres sabem que há um risco
no ato, ainda mais ele sendo ilegal, ou seja, sem sabermos de que forma é
feito.
Egoísmo. Outro dia, li que as mulheres que abortam são egoístas.
Egoístas porque existem pessoas que não podem ter filhos, então dependem do
abandono de bebês pela parte de mulheres que não queiram tê-los. Ou seja: a
mulher deve ficar nove meses carregando uma criança para depois abandoná-la em
um orfanato, sem saber se a futura família dela será boa. Falar é fácil. Agora,
carregar um neném durante nove meses e pari-la, é bem diferente de tirá-lo logo
no início da gestação, quando ainda nem está formado. Esse tempo cria um laço
afetivo entre a mulher e a criança, dificultando ainda mais o fim da relação
entres elas. E imagina a mulher que for estuprada? Ela deve carregar o fruto de
um estupro durante nove meses? E pari-lo? E outra, está cheio de crianças
abandonadas procurando por novos lares, e sempre estará. Mesmo que o aborto
seja legalizado, não são todas as mulheres que abortarão quando não desejarem o
bebê. Em vez de esperar por novos abandonos de crianças, por que não dar um lar
a uma que já não tenha? Elas estão esperando por isso!
Egoísta,
então, é mesmo a mulher que aborta, né? Não é quem diz um argumento como esses?
A mulher deve, de acordo com esse pensamento, pensar em quem adotará seu futuro
bebê, em vez de pensar na sua felicidade e, acima de tudo, sua saúde. Ah sim, e
todo o sofrimento que vai vir junto com o desapego daquela criança parida por
ela.
O
fato é que, a meu ver, não há argumentos que sustentem o fato de o aborto não
ser legalizado. Mesmo sendo proibido, mulheres praticam o ato,
clandestinamente. Essas mulheres se expõem a riscos que desconhecem, não sabem
em que condições vão abortar. Assim, algumas acabam morrendo, como vimos dois
casos recentes. Essa realidade tem que mudar. O assunto é sério, é urgente. Não
podemos deixar que mais mulheres morram até que o ato seja legalizado, é
preciso que isso aconteça logo, antes que ocorram mais tragédias. E, junto com
a legalização, uma maior educação sexual, que falta em nosso país. Mais informações
sobre o aborto e seus riscos, acompanhado de uma boa explicação sobre métodos anticoncepcionais
e a importância de seu uso. Só assim teremos cada vez menos mulheres abortando,
e não mais. Pelo menos, acredito eu. E defendo. Quem deve decidir sobre o corpo
da mulher é ela, não o governo, nem ninguém. Então, quem deve decidir sobre
abortar é a mulher. A vida que está em jogo, nesse momento, é dela. E é ela
quem deve decidir se quer colocar no mundo mais uma vida para estar em jogo.
Marina Martins