quinta-feira, 30 de junho de 2011

174

Ausência do céu

Suplico-te que voltes para mim.
Não entendo porque foste embora assim
tão de repente.
Nem uma palavra tive tempo de dizer
e agora só existo mesmo para sofrer.

Como meus dias serão dias?
Tu levaste contigo teus cabelos longos como as horas,
tua boca macia como as nuvens,
teus beijos arrepiantes como a brisa,
tua beleza ofuscante como o sol.

Como minhas noites serão noites?
Fugiram contigo as estrelas de seus olhos,
a lua que carregas no lugar do coração,
a escuridão de certas palavras tuas,
a infinidade de seus sorrisos.

Como pode um homem viver sem o céu?
Como pode viver sem a noção do tempo,
contando para que terminem as horas
intermináveis que ele passa sem te ter,
incontáveis que ele passa sem te ver.

Marina Martins

173

Viagens de uma estudante

A fumaça do chá
misturava-se com a do incenso,
formando a combinação perfeita
de cheiro calmo e intenso.

Com o caderno na mão
e a xícara tocando sua boca,
tentou prestar atenção,
tomando cuidado para não ficar louca.

O chá embaçava seus óculos,
assim não podia exergar.
"Pare de enrolar e concentre-se", pensou.
Já passava da hora de começar a estudar.

Marina Martins

Matematizando-me

      Em uma terça-feira de uma semana qualquer, eu descobri o que é surtar. Aliás, seria uma semana qualquer se não fosse uma semana de provas. Realmente, se fosse uma semana como outra qualquer, eu não teria surtado. Já estou acostumada com crises de choro e de raiva com relação à matemática, mas nunca tinha passado por surtos mais do que psicológicos. Surtos generalizados. E tudo graças a uma matéria de escola que eu não vou usar nunca na minha vida; o que eu tinha que aprender dela, eu aprendi nos meus primeiros quatro ou cinco anos após a alfabetização. Desde muito pequena, eu sempre soube que nunca seria engenheira. Nunca nem passou pela minha cabeça ser economista. Muito menos matemática. Para se ter uma ideia, minha primeira nota “ruim” em matemática foi na quarta série, ou seja, eu não nasci pra ela.
      Eu e a matemática nunca tivemos uma relação muito boa, de repente por ela ser tão dona da verdade, complicada e exigir tanto de mim. Nunca cobrei nada dela, não entendo porque ela cobra de mim. E ela está em todas as outras matérias que me fazem entrar em crise. Matérias aquelas que não me fariam entrar em crise se não incluíssem matemática. Também nunca passou pela minha cabeça ser química ou física, então permanece a pergunta: aonde querem me levar fazendo-me estudar algo que eu não gosto, não entendo e não vou usar? A resposta é clara, querem me fazer passar no vestibular. Assim, entrarei na faculdade que eu escolher e, adivinhem só, eu não necessitarei nunca mais das especificidades das matérias exatas.
      Acho que para o sistema escolar é simplesmente prazeroso ver os alunos estudarem o que não gostam. A partir de certa idade, já estamos bem grandinhos para sabermos o que gostamos ou não gostamos de estudar. Sei que há os que não gostam de nada e não querem nada com a vida, mas eu não tenho nada a ver com isso. Se eles estão numa escola e são vagabundos, não faria diferença se não estivessem em lugar nenhum, só no mundinho deles, concorda?
      Enfim. Durante meu surto, pensei em um vestibular inovador, mas não quero me tratar dele agora. Pensei também que, se eu não sou boa nas exatas, por que simplesmente a escola não me dá notas pelo o que eu escrevo, por um talento que eu tenho? Se a escola tem uma necessidade tão grande de julgar pessoas por números, que me julguem então por algo que sou boa. Mas e se me derem notas ruins? Não estou nem aí. Números não julgam a pessoa que sou, não me alteram. Eu deveria reagir assim ao receber minhas notas de matemática, mas infelizmente não consigo, pois a escola me faz precisar de notas boas para passar de ano. A escola tenta me fazer acreditar que sou um número ou uma nota, mas eu sou muito mais do que isso. Falo por mim, falo por todos.
      Todos nós somos muito mais do que uma nota baixa, do que um zero, do que um dez, do que um seis. Todos nós somos pessoas, e não números. Temos sentimentos, emoções e peculiaridades e foi exatamente por isso que nascemos como gente e não como objetos. Nós não fomos construídos, nos construímos; coisas que só pessoas podem fazer. Nascemos com a missão de sermos quem somos, e não quem a escola quer que sejamos. Nascemos com o simples objetivo de nascer, viver e deixar morrer (como já dizia um tal de Paul McCartney, “to live and let die”). Mesmo que precisemos desses malditos números para nos formar e, finalmente, escolher o que vamos fazer, não podemos deixar que eles nos afetem. É claro que devemos melhorar eles, pois senão a escola não acaba nunca. Mas entrar em crise por causa de uma nota baixa? Jamais. E eu tenho que aprender isso. Eles nos provam, nos reprovam, nos testam, nos detestam, nos passam, nos prendem, mas nós somos muito mais do que eles pensão que somos. Então, mesmo com notas baixas, eu ainda crio novas esperanças quando falo para mim mesma: você é muito mais do que essa nota.

Marina Martins, em um profundo desabafo de semana de provas

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Identificação

O texto a seguir é de um amigo meu, tirado de seu blog de prosas, que eu recomendo. Não resisti e tive que postar, pois quando eu li pareceu que eu estava lendo algo escrito por mim. Mesmo que as inspirações e os destinatários sejam diferentes, o sentimento e o objetivo são os mesmos. Boa leitura.

Paixão

  Já te perguntei quantas vezes me apaixono por você diariamente?
  Eu sei que minhas formas de demonstrar carinho e amor por você não são iguais às suas. Também sei que quando não saem palavras de minha boca, não é por falta de atitude ou sentimento. É simplesmente porque você me deixa sem palavras.
  Cada abraço inesperado que você me dá, cada beijo roubado que você se atreve a me dar, cada "eu te amo" proclamado de forma inusitada (às vezes até imprópria). Isso tudo me apaixona, me faz te querer dentro de mim. Te sentir de verdade como eu nunca pude sentir ninguém.
  Você me provoca calor. Me traz amor. Joga minhas preocupações pela janela e não se dá o trabalho de olhar para baixo depois. Você sabe o que está fazendo.
  Acabei de me apaixonar mais uma vez por você...

Lucas Braga

sábado, 25 de junho de 2011

172

Original

Frequentava os sebos
para comprar discos arranhados.
Entrava nos bazares
e procurava roupas baratas nos emaranhados.

Comprava nos brechós
para ficar com cheiro de naftalina.
Sonhava em ser rockstar
para morrer cheirando cocaína.

Usava roupas vintage,
pois assim se sentia antiga.
Achava que era vantagem
viver num trailer e namorar uma amiga.

Quando ia à biblioteca
se drogava com o cheiro dos livros.
Imaginava-se numa discoteca
quando ia às boates com os amigos.

Estava na casa dos vinte,
com muita vida pela frente.
E foi só por puro requinte
que se matou, para morrer diferente.

Marina Martins

171

A um poeta

Não é amor
e nem algo inexplicável.
Não é dor,
mas uma vontade insaciável.

É simplesmente não evitar
o que é inevitável.
É não deixar de imaginar
um encontro imaginável.

Marina Martins

170

Um sentimento

Se te amo hoje,
amanhã amarei mais.
Renovarei esse amor,
não o deixarei para trás.

Se estou ao seu lado,
o mundo inteiro vira paz.
Você nem pode imaginar
o bem que você me faz.

Se eu tentar te explicar,
não sei se vai ser capaz
de entender o que eu descrevo:
a alegria que você me traz.

Marina Martins

terça-feira, 21 de junho de 2011

169

Amadora

É poetisa amadora,
mas não ama dora,
nem ama dor.

É amadora
porque ama e ama
e expressa a dor.

Marina Martins

168

“Vou lhe fazer um pedido”

Sei que as roupas não vão mais caber
As lágrimas vão sempre secar
As crianças vão parar de crescer
E as flores vão sempre murchar

Sei que de muitas coisas vou esquecer
De outras, não vou nem querer lembrar
Algumas, nunca vou conseguir entender
Outras, não vou saber explicar

Sei que pessoas queridas vou perder
Os amores vão vir e vão passar
Entre difíceis opções vou ter que escolher
Decisões importantes vou ter que tomar

Sei que certas coisas nunca vão acontecer
E que os cortes vão sempre cicatrizar
Sei que sempre terei medo de morrer
Mas que um dia tudo vai acabar

E que passem os amores e murchem as flores
Que esqueçam de me explicar
Que cicatrizem os cortes e curem as dores
Mas de certas pessoas ninguém vai me afastar

Marina Martins

quarta-feira, 15 de junho de 2011

A velha rosa ressecada

Abriu o caderno onde havia antigos poemas e, além de alguns manuscritos e rascunhos, encontrou também uma velha rosa ressecada. Uma rosa que não sabia se era efetivamente uma rosa, mas parecia ser. Levava poucas pétalas em seu corpo fino. Pegou a rosa e se perguntou de onde viera a flor. Teve um reflexo de ideia, mas logo a descartou. E se arrependeu de não ter guardado a flor que havia recebido nesse tal reflexo de ideia. Cheirou a rosa e fechou os olhos para ver se alguma lembrança vinha à sua memória. Vieram várias. Mas nenhuma delas era relativa a tal rosa ressecada. De onde poderia ter vindo a misteriosa flor? Não sabia. E temia que nunca descobrisse. Teve outro arrependimento: o de não ter feito nenhuma anotação a respeito da rosa, que um dia havia sido branca. Leu os poemas que a relembravam de um passado recente e de antigas paixões, um tanto sofridas. Mas e a rosa? Será uma lembrança de um esquecimento, que trará novas lembranças e a relembrará de outros esquecimentos: lembranças uma vez esquecidas. A rosa será o futuro de uma memória de que um dia guardou uma rosa, mas não podia se lembrar de onde. Ou de quando. Quem sabe o que importa mesmo não é saber o motivo ou a origem da rosa, mas sim de ter a certeza de que um dia recebeu a flor e de tê-la envelhecendo junto a velhos poemas e velhas lembranças.

Marina Martins

167

Esconderijo

Na água vou flutuar,
ficarei lá boiando.
Deixarei o sol entrar,
vou aos poucos decantando.

Minhas partes vão caindo
e eu quero me enterrar
bem debaixo da areia,
bem no fundo do mar.

Marina Martins

sexta-feira, 10 de junho de 2011

166

Ameaça

Juro que saio (agora) por aquela porta
se você me disser
que me julga por aquela droga de nota.

Marina Martins

165

As Flores da Florista

Vive sozinha a florista,
no meio de suas flores.
Às vezes tem a companhia de uma revista,
mas nunca de seus amores.

A florista ama suas flores,
elas a deixam sempre formosa.
São elas que trazem à sua vida, as cores
e mantêm sua loja sempre cheirosa.

Mas mesmo ao lado de tantas flores,
a florista também sofre de amor.
Talvez uma de suas maiores dores
é que nunca tenha ganhado uma flor.

Marina Martins

164

Refúgio do mundo real

Você é o centro do meu pensamento
Minha inspiração do momento
Meu maior sentimento
De algo que vem de dentro

Você é a pontada de alegria
Que ainda resta em mim ao fim do dia
Mesmo quando sinto que não vou aguentar
Tenho seu cheiro para me refugiar

Queria que seu cheiro pudesse me levar
Para longe daqui, além-mar
Assim, iria te alcançar
E mais uma vez poder te beijar

Você é o risco de luz que resta em mim
Mesmo quando tudo parece estar errado
Queria que fosse tão simples assim
Poder estar de novo ao seu lado

Marina Martins; setembro de 2010

163

Diz

Diz que quer meu beijo
que digo que quero o seu também.
Diz que quer meu carinho
que digo que quero seu bem.

Diz que quer pegar na minha mão
que digo que quero seu coração.
Diz que quer me conquistar
que digo que quero pra mim seu olhar.

Diz que tem algo a me dizer
que digo que quero te escutar.
Diz que você me quer
que digo que quero te amar.

Marina Martins; março de 2010

162

Sobre você

Tudo para mim agora
é sobre você.
Meu pensamento no momento
está só em você.
Eu quero poder olhar
só para você.
Queria poder ficar
só com você.
Queria poder te falar
que eu amo você.
Queria poder te contar
o que sinto por você.
Queria poder saber
se você tem algo a me dizer.
Queria poder te entregar
o que escrevi para você.
Já que tudo o que escrevo agora
é só sobre você.

Marina Martins; março de 2010

sábado, 4 de junho de 2011

161

Ai, Bahia...

Que saudades da Bahia!
Saudades de mergulhar em seu mar,
saudades de toda a sua harmonia
e de, com ela, me contagiar.

Que saudades da Bahia!
Saudades de olhar para suas estrelas,
saudades de toda a sua energia
e de suas águas mais belas.

Que saudades da Bahia!
Saudades de só ficar na rede,
saudades de toda a mordomia
e do mar, ora azul, ora verde.

Marina Martins

160

Transformação

Com o T após o Mar,
eu viro Martina, sem piscar.
Se sou Marina e ariana,
sou um pouco Mariana.
E se depois do Mar tem C,
eu me torno Marciana.
Marcia eu também posso virar
se eu tiro aquele "na".
Se sou Marcia e se sou ela,
me transformo em Marcela.
Mas antes de me transformar,
sei que um dia já fui mar.

Marina Martins

159

Num patamar

Chegou o pato,
bem apático.
Havia empatado
numa briga com a pata.
Mas que pato
mais antipático!

Marina Martins