sábado, 28 de abril de 2012

284



Ataulfo

Ela anda enquanto gasta
O solado do All Star
E pela Ataulfo se arrasta
Já cansada de caminhar

É a garota do Leblon
O Baixo é a casa, o Alto é seu lar
O Posto 12 é mais que bom
Para ouvir música e olhar o mar

Mas também faz parte de Ipanema
Se suja de areia na Garcia
É meio Beatles, meio cinema
Meio crônica, meio poesia

Marina Martins

283


Eu soul música
Eu sou a música
E soa a música
Que sou

Marina Martins

domingo, 22 de abril de 2012

282


Cálculo

Um mais um
são dois
e dois
em um
são um:
nós dois.

Marina Martins

281


Métrica

Poemas rimados
me deixam cansado.
De tão apertados,
os versos tão presos.

Por entre esse muco,
eu rimo com suco,
então me machuco
e me sinto ileso.

Se é ruim a rima,
me olham de cima,
enfio uma “prima”,
para não ser um peso.

Marina Martins

280


“Click”

A luz apagou
e estão todos voando?
Ou fui eu que dormi
e estou apenas sonhando?

Marina Martins

279


Juntos

Os corpos grudados pelo suor
Movimentam-se simultaneamente
O ritmo, já sabemos de cor
O quarto vai ficando mais quente

Enquanto dois são um só
E um para de repente
É porque já chegou ao melhor
(Isso só a gente entende)

Mas se os dois são agora um
Pois estamos, então, grudados
Podemos virar nenhum
Se formos separados

Marina Martins

domingo, 8 de abril de 2012

Loucura saudável



Queria ter coragem
Para falar deste segredo
Queria poder declarar ao mundo este amor
 
Não me falta vontade
Não me falta desejo
Você é minha vontade
Meu maior desejo 

Queria poder gritar
Esta loucura saudável
Que é estar em teus braços
Perdido pelos teus beijos
Sentindo-me louco de desejo
Queria recitar versos
Cantar aos quatros ventos
As palavras que brotam
Você é a inspiração
Minha motivação
Queria falar dos sonhos
Dizer os meus secretos desejos
Que é largar tudo
Para viver com você
Este inconfesso desejo

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 3 de abril de 2012

278

Abstração
 
Suas mãos puxam meus cabelos
Minhas unhas fincam suas costas quentes
Nosso contato eriça meus pelos
Nossos corpos estão em temperatura ardente

Seus dentes marcam meu pescoço
Minhas unhas arranham seus braços
O suor percorre até meu osso
Entendemo-nos por entre mordidas e abraços

Momentos onde tiramos pedaços para sentir sabor
Em que a dor não nos faz sofrer
Momentos onde gostamos de sentir calor
E que nos fazer gostar ainda mais de viver


Marina Martins; escrito inspirado na fotografia, para um trabalho com temas antagônicos: "Dor e Prazer".

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Ufa!

Confesso que não conheço o autor, mas, enquanto fazia mais um simulado do Enem sábado passado, li o trecho, escrito durante a Ditadura, em uma das questões. Achei que era muito semelhante ao que eu sentia naquele momento.

"(...) mas não tive sequer o sopro necessário, e, negado o respiro, me foi imposto o sufoco; é esta consciência que me libera, é ela hoje que me empurra, são outras agora minhas preocupações, é hoje outro o meu universo de problemas; num mundo estapafúrdio (...)"

Trecho de "Um Copo de Cólera" Raduan Nassar, 1978

O sopro necessário eu até tive: esses anos todos de estudo. Mas o respiro negado se relaciona com a minha relação com as exatas, que me sufocam, assim como esse método louco educacional brasileiro. Método esse que me faz decorar coisas que eu jamais usarei em toda a minha vida após novembro deste ano. Gostaria que minhas preocupações fossem outras, - e também até são - mas as maiores preocupações têm que ser os estudos, as notas, os números, a escola, o próprio Enem. Esse é o meu atual universo de problemas, que não me libera - como o fazem meus sonhos; meus sonhos são um dos poucos momentos em que posso ser completamente livre de tudo - e, ao mesmo tempo, me empurra, pois eu não posso "empacar". Enquanto isso, acho o mundo estapafúrdio, pois sou subestimada a esse tipo de quase-ditadura que me obriga a ser quem eu não sou, decorando números e fórmulas inúteis e confusas para a minha cabeça.