quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Que p*rra é essa?

Ta certo. Vamos lá. Uma semana depois de ter escrito um texto sobre o nosso querido deputado e presidente da Comissão de Direitos humanos, Marco Feliciano, me deparo com uma matéria sobre a música “Blurred Lines” (aquela que o cantor, Robin Thicke, apresentou no VMA enquanto a ex Hanna Montanna esfregava a bunda nele). Minha reação, após ler a matéria, foi uma só: QUE PORRA É ESSA? Para entender do que estou falando, é melhor dar uma lidinha na matéria do site Pêssega d’Oro, mas para os preguiçosos de plantão, eu resumo: existe um projeto, chamado “Unbreakeable”, em que vítimas de estupros pousam para fotos segurando cartazes da última frase que escutaram do estuprador antes do ato. Em sua música, Robin usa frases idênticas às dos cartazes, inclusive a mais repetida na canção: “be a good girl, I know you want it”... QUE PORRA É ESSA? O clipe da música conta com a presença de mulheres lindas usando nada mais do que sapatos e calcinha, maquiadas e com cabelos bonitos, dançando que nem idiotas ao som de uma musiquinha maneira em que a letra diz coisas como “tenho algo grande que vai partir sua bunda em dois”. Que beleza. Além das duas citações que mencionei, há muitas outras pérolas presentes na música, que aparenta ser muito boa quando você escuta SÓ o ritmo. Depois de ouvir a letra, acho que não consigo ficar sem sentir nojo. Além disso, o Thicke precisa afirmar no clipe que tem um pênis grande (“Robin Thicke has a big dick”)... fofo. Agora eu quero. Tava até meio bolada com a sua música, mas depois de uma frase como essa, não tem como resistir né gato? Affe!

Sério, eu não sei quantos textos já escrevi sobre machismo, mas se isso se repete na minha vida, é porque a sociedade me dá motivos. É na música, no cinema, no metrô, na rua, nas pessoas, nos blocos de carnaval... em pleno século XXI, era digital, tecnologias em alta, progresso, uhul, as mulheres são obrigadas a conviver com músicas como essas. Com homens como esse. Com pessoas como essas. Com ideologias como a do machismo. Ai, to cansada. Acho que não existe um dia em que eu não reclame sobre o quão machista é a sociedade – homens e mulheres, crianças e velhos, orientais e ocidentais. Com uma música dessas, me sinto violada como mulher. Não, eu nunca sofri um estupro, ainda bem, e espero nunca sofrer. Mesmo assim, acho um estupro uma canção com uma letra dessas e por isso me sinto violada. O máximo que já aconteceu comigo foi que, em uma festa, enquanto o meu namorado estava no banheiro, um cara esbarrou em mim (ou eu esbarrei nele, não vem ao caso) e eu fui pedir desculpas. Ele se virou e apertou meu peito. Não preciso nem dizer que foi estapeado pelo meu grupo de amigas né? O que ele fez? Saiu rindo. Fiquei extremamente revoltada; por uns minutos, não conseguia mais dançar. Pois é. Essa é a sociedade.

Nunca fui estuprada, mas eu tenho medo. Toda mulher tem. A gente anda na rua com medo de ser estuprada. A gente é abusada verbalmente enquanto anda na rua. Por melhor que seja o ritmo da joça da música, ela não pode ter uma merda de letra daquelas. Repito: que porra é essa? Que porra é essa de dizer que mulher de roupa curta merece ser estuprada? De falar, como eu li em um comentário de um desconhecido, “como as mulheres querem lutar pelos seus direitos chamando a si próprias de ‘vadias’?” De dizer que machucando é mais gostoso (Robin Thicke, queria ver se você ia gostar se algo grande partisse sua bunda em dois)? Que porra de gente é essa? Que porra de sociedade é essa? Fiquei realmente chocada com a música e, mais uma vez, revoltada de ver mais uma manifestação da sociedade machista em que vivemos. Não vou aceitar isso, nem me conformar. Sinto em lhe informar, Thicke, Sr. Big Dick, que eu não sou uma garota boa. E vai se foder.

Obs 1: eu poderia me desculpar pelo uso exacerbado de palavrões, porque eu não falo assim, na verdade. Estou ciente da quantidade absurda que usei, mas faz parte da crítica; por isso, não vou me desculpar. E se você acha que “é muito feio ver mulher falando palavrão”, foda-se (pegou a crítica?).

Obs 2: eu tinha escrito século XIX, em vez de XXI e minha amiga me corrigiu. Só retratando o ato falho.


Marina Martins

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Um marco infeliciano



Sentei em frente ao meu computador e fiquei pensando sobre o que deveria escrever. Assim, lembrei que minha amiga havia postado, em um grupo no Facebook, algo que merece ser falado. O post dela era sobre uma foto que Daniela Mercury colocou na internet onde beijava sua mulher, por conta de um episódio ocorrido em São Sebastião no último domingo, dia 15. Não é sobre a foto de Daniela que quero falar, mas sim sobre o que aconteceu em São Sebastião. Em poucas palavras, Marco Feliciano expulsou de seu culto duas meninas que se beijavam. As meninas estavam lá manifestando contra o pastor e, quando deram um beijo, Feliciano mandou os policiais militares presentes as retirarem de lá – algemadas. Quem assistia ao culto, aplaudiu. Resumi porque não estou escrevendo para contar em detalhes o episódio; para isso, vale conferir a matéria que saiu no G1, que tem um vídeo da TV Vanguarda, e o vídeo que mostra o momento em que elas foram expulsas do culto.

Enfim, fatos como esse me deixam indignada. O que me revolta não é apenas o que o Feliciano fez nesse dia, mas o que ele faz sempre. E o que mais me revolta é pensar que um “ser humano” desses está ocupando o posto de deputado federal e presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados. Espera... É ISSO MESMO? Esse mesmo cara que expulsa duas meninas por se beijarem ocupa o papel de defensor dos DIREITOS HUMANOS? O que são direitos humanos para ele?  Na boa, o que são humanos para ele? Porque, na minha opinião, uma atitude dessas não viola somente os direitos humanos, mas as próprias pessoas. Eu me sinto plenamente atingida por tudo que esse cara fala, principalmente em relação aos homossexuais. Não, não sou homossexual. Não é preciso ser gay para ter vergonha e nojo do que o Marco Feliciano diz e faz. Eu, como ser HUMANO pleno de DIREITOS me sinto ofendida tendo alguém como ele, não só na Câmara dos Deputados, como no meu país. Tenho vergonha de saber que esse cara fala a minha língua e atende pela mesma nacionalidade que a minha, mas, mesmo assim, no país em que vivo, ele ocupa as posições que ocupa. Tenho nervoso em ver um público vibrando no momento em que ele manda policiais prenderem pessoas que se beijam. Tenho nojo de ouvir a voz e olhar para a cara dele.

Fico pensando porque ainda não fomos para as ruas tirar essa pessoa do campo político, começando pelo posto presidencial que ele ocupa. É mais do revoltante, é INADMISSÍVEL que um cara que defende uma palhaçada chamada de “cura gay” esteja numa posição de defesa dos direitos humanos. Feliciano, lamento as suas atitudes, lamento a sua existência. Se eu esbarrasse em você, eu iria presa por agressão (no mínimo) e acredito que muitos se sentem como eu. Dizer que você não me representa é mais do que óbvio. Quem se sente representado por você, sinceramente, não merece o meu respeito, nem o de ninguém. A dica que eu te daria é que quem precisa ser curado é você, mas não imagino que um ser como você consiga ser curado. Essa sua doença aí é gravíssima e, assim como a homossexualidade, não tem cura. No seu caso, infelizmente.

Para um pouco de distração e diversão, recomendo os vídeos geniais do Porta dos Fundos, "Cura" e "Deputado".

Marina Martins