Ta
certo. Vamos lá. Uma semana depois de ter escrito um texto sobre o nosso
querido deputado e presidente da Comissão de Direitos humanos, Marco Feliciano,
me deparo com uma matéria sobre a música “Blurred Lines” (aquela que o cantor,
Robin Thicke, apresentou no VMA enquanto a ex Hanna Montanna esfregava a bunda
nele). Minha reação, após ler a matéria, foi uma só: QUE PORRA É ESSA? Para entender
do que estou falando, é melhor dar uma lidinha na matéria do site Pêssega d’Oro,
mas para os preguiçosos de plantão, eu resumo: existe um projeto, chamado “Unbreakeable”,
em que vítimas de estupros pousam para fotos segurando cartazes da última frase
que escutaram do estuprador antes do ato. Em sua música, Robin usa frases
idênticas às dos cartazes, inclusive a mais repetida na canção: “be a good
girl, I know you want it”... QUE PORRA É ESSA? O clipe da música conta com a
presença de mulheres lindas usando nada mais do que sapatos e calcinha,
maquiadas e com cabelos bonitos, dançando que nem idiotas ao som de uma musiquinha maneira em que a letra diz coisas como “tenho algo grande que vai partir sua bunda em
dois”. Que beleza. Além das duas citações que mencionei, há muitas outras
pérolas presentes na música, que aparenta ser muito boa quando você escuta SÓ o
ritmo. Depois de ouvir a letra, acho que não consigo ficar sem sentir nojo. Além
disso, o Thicke precisa afirmar no clipe que tem um pênis grande (“Robin Thicke
has a big dick”)... fofo. Agora eu quero. Tava até meio bolada com a sua
música, mas depois de uma frase como essa, não tem como resistir né gato? Affe!
Sério,
eu não sei quantos textos já escrevi sobre machismo, mas se isso se repete na
minha vida, é porque a sociedade me dá motivos. É na música, no cinema, no
metrô, na rua, nas pessoas, nos blocos de carnaval... em pleno século XXI, era
digital, tecnologias em alta, progresso, uhul, as mulheres são obrigadas a
conviver com músicas como essas. Com homens como esse. Com pessoas como essas. Com
ideologias como a do machismo. Ai, to cansada. Acho que não existe um dia em
que eu não reclame sobre o quão machista é a sociedade – homens e mulheres,
crianças e velhos, orientais e ocidentais. Com uma música dessas, me sinto
violada como mulher. Não, eu nunca sofri um estupro, ainda bem, e espero nunca
sofrer. Mesmo assim, acho um estupro uma canção com uma letra dessas e por isso
me sinto violada. O máximo que já aconteceu comigo foi que, em uma festa, enquanto
o meu namorado estava no banheiro, um cara esbarrou em mim (ou eu esbarrei
nele, não vem ao caso) e eu fui pedir desculpas. Ele se virou e apertou meu
peito. Não preciso nem dizer que foi estapeado pelo meu grupo de amigas né? O que
ele fez? Saiu rindo. Fiquei extremamente revoltada; por uns minutos, não
conseguia mais dançar. Pois é. Essa é a sociedade.
Nunca
fui estuprada, mas eu tenho medo. Toda mulher tem. A gente anda na rua com medo
de ser estuprada. A gente é abusada verbalmente enquanto anda na rua. Por melhor
que seja o ritmo da joça da música, ela não pode ter uma merda de letra
daquelas. Repito: que porra é essa? Que porra é essa de dizer que mulher de
roupa curta merece ser estuprada? De falar, como eu li em um comentário de um
desconhecido, “como as mulheres querem lutar pelos seus direitos chamando a si
próprias de ‘vadias’?” De dizer que machucando é mais gostoso (Robin Thicke,
queria ver se você ia gostar se algo grande partisse sua bunda em dois)? Que
porra de gente é essa? Que porra de sociedade é essa? Fiquei realmente chocada
com a música e, mais uma vez, revoltada de ver mais uma manifestação da
sociedade machista em que vivemos. Não vou aceitar isso, nem me conformar. Sinto
em lhe informar, Thicke, Sr. Big Dick, que eu não sou uma garota boa. E vai se
foder.
Obs
1: eu poderia me desculpar pelo uso exacerbado de palavrões, porque eu não falo assim, na verdade. Estou ciente da quantidade absurda que usei, mas faz parte da crítica; por isso, não vou me desculpar. E se
você acha que “é muito feio ver mulher falando palavrão”, foda-se (pegou a crítica?).
Obs 2: eu tinha escrito século XIX, em vez de XXI e minha amiga me corrigiu. Só retratando o ato falho.
Obs 2: eu tinha escrito século XIX, em vez de XXI e minha amiga me corrigiu. Só retratando o ato falho.
Obs 3: duas paródias geniais da música: http://www.youtube.com/watch?v=tC1XtnLRLPM; http://www.youtube.com/watch?v=J3twwafch4g
Marina Martins