Às
vezes, parece que gostamos de sofrer. Vemos nos filmes, na vida real,
personagens e pessoas que parecem procurar o sofrimento. E quando vemos isso,
na maior parte das vezes, pensamos “nossa, mas esse daí gosta de sofrer!”. Não é
verdade. Ninguém – ou pelo menos eu espero – gosta de sofrer. Falamos dos
outros e os julgamos, sem perceber que, muitas vezes, nós somo isso. Nós mesmos
também corremos atrás do sofrimento, de vez em quando. Insistimos em coisas que
nos perturbam, incomodam, esgotam. Nos subestimamos ao ridículo, ao papel de
vítima ou de vilão, nos rendemos à raiva, às lágrimas e aos incessantes palavrões.
Parafraseando Chico, amamos e odiamos em uma mesma oração. Lembramos e
aguardamos ao mesmo tempo, mesmo sabendo que a espera não vai dar em nada. Mas,
pelo menos, as lembranças estão lá, mesmo que nos façam sofrer. Esquecer? Talvez.
Mas não é tão fácil assim. Muitas vezes, tentamos e não conseguimos. Outras,
fingimos que queremos conseguir, mas nem queremos tentar. E mesmo que façamos
um esforço, as memórias vêm como uma chuva de verão, que em meio a um céu azul,
cai de repente, nos pegam desprevenidos e praticamente nos afogam. Lembranças,
lembranças... recordações que nos trazem a dúvida se estamos felizes ou
tristes. Estamos escapando da realidade e nos refugiando da loucura ou estamos
nos torturando e entrando nela cada vez mais? Perguntas que só o futuro
responderá. Quiçá nem ele. Mas o passado ficou e não volta mais. E (in)felizmente
ainda não temos uma máquina do tempo.
Marina Martins, Paris 2014
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