segunda-feira, 26 de setembro de 2016

348



à luz



memórias nadam na minha cabeça

confusa, fico tonta

de mim, sai uma lágrima espessa

que me acalma e amedronta



dentro de meu quarto

a música penetra os ouvidos

deito-me, faço um parto

dos sentimentos que são sofridos



pensamentos fecundados

roubam-me a sanidade

sofrimentos abortados

escorrem minha liberdade



sou o parto e o aborto

daquilo que me faz ser minha

durmo, então, feito um morto

já que toda gente é sozinha

Marina N. Martins

347



perten-ser

empresto-me
pois sou só minha
dou-me a quem quiser
mas devolvo-me
não entrego-me

quem pensa que me tem
que aproveite enquanto tem
pois é finito

pertenço-me por inteira
cada parte de mim é minha
cada acerto, cada erro
cada confusão
cada espinha, cada pelo
cada imperfeição

gente não pertence à gente
a propriedade
é pura ilusão

Marina N. Martins

346



(sem título)



estica tua mão

coloque-a sobre meu peito

perfure-o, alcance meu coração

estraçalhe-o do seu jeito



esmigalhe, amasse como preferir

deixa que escorra entre os dedos

toda gosma vermelho sangue

e eu boba, fico a rir:

fica mais, ainda é cedo

Marina N. Martins