Já faz uns meses que uso o coletor menstrual e to pra escrever
há um tempo sobre minha experiência. Das primeiras vezes em que ouvir falar
sobre ele, tive um super preconceito, achando que era nojento, que ia me incomodar,
que era impossível ficar andando com um treco daqueles dentro de mim. Mas aí o
tempo foi passando, eu fui começando a olhar o absorvente tradicional de outra
forma e a vontade de usar o copinho surgiu mesmo num dia em que assisti a um
videozinho falando da quantidade de lixo que produzimos usando absorvente externo
e interno. Ah, vale falar também que um dos meus medos de usar o coletor era
porque eu nunca me dei bem com OB, e isso porque eu só usava em casos de
extrema necessidade como ir a algum lugar onde eu fosse ficar de biquíni. Então
eu pensava “se o coletor é ainda maior, como vai dar certo?”. Acontece que a
gente aprende que são duas coisas totalmente diferentes e que entram em lugares
diferentes! Aproveito a deixa do absorvente interno para dizer o quanto eu
sempre detestei isso e, desde muito nova, sou a maior defensora de seu uso
apenas em casos extremamente necessários. Desde os meus 13 anos, quando tive
minha primeira menstruação, aprendi que usar OB direto faz mal, então, pessoas
com vagina, parem de usar esse troço! Real! Parem, porque não faz bem! E eis
que, com essa onda toda de métodos alternativos para nossas menstruações, aprendo
que o absorvente externo também não é bom para nossas vaginas, é cheio de
química.
Bem, dito isso, uma das mudanças que passei desde que me
mudei para Paris foi começar a usar o coletor menstrual. Um dia, num impulso,
acompanhada e apoiada por um amigo, entrei na farmácia e comprei meu copinho. No
começo, eu morria de medo de testar. Achava que ia sofrer um monte colocando
aquele troço dentro de mim e já estava até me arrependendo de ter gastado
dinheiro com isso. Depois de postar nas redes sociais e mandar mensagens para
amigas pedindo dicas, conselhos e força, eu criei coragem para tentar usar meu
copinho. Vou começar explicando porque eu amo tanto ele hoje em dia e depois falo
de questões práticas – como uma amiga me pediu e como eu pedi também antes de
usá-lo.
Hoje em dia, agradeço imensamente por ter vencido o medo e o
preconceito do copinho. Por causa dele, aprendi:
11. A
não ter mais nenhum nojo de menstruação.
22. Que
sangue de menstruação não tem cheiro
ruim, o que fica com esse cheiro é o sangue em contato com o absorvente
externo (que eu usava).
33. Que
eu menstruo menos do que eu
imaginava.
44. Sobre
o formato e a profundidade da minha
vagina.
55. Que
óleo de coco lubrifica.
Usando o coletor, eu sinto como se me cuidasse ainda melhor:
11. Por
não colocar química nenhuma dentro
de mim ou em contato com minha vagina.
22. Temos
que passar por um processo de higienização com o copinho que, para mim, é quase
como se eu passasse por um pequeno ritual.
33. Me conheço mais
internamente (literalmente)
44. Conheço
melhor o meu ciclo e o meu sangue. A
quantidade, a cor. Inclusive, aprendi que o meu sangue é lindo e ele caindo na
privada, ou no chão do box do chuveiro, parece tinta misturada com água. Arte pura.
Hoje, estou completamente adaptada ao coletor. Na minha
última menstruação, eu estava viajando e esqueci de levá-lo, então tive que
usar absorvente. Foi sofrível. Eu descobri o quanto absorvente (sobretudo
daquele estilo “seco”, que é o único que vende na França) me incomoda. Como meu
fluxo não é muito intenso, eu posso ficar de boa até 12h com o coletor, o que é
ótimo. Eu nem sinto ele dentro de mim. Posso fazer o que for: dormir, dançar,
nadar, andar, que não sinto.
Então agora, vamos às questões práticas:
I)
Colocação
Para colocar o coletor pela primeira vez, ouvi dicas de
várias pessoas – tiveram duas amigas
em específico que foram incríveis, a Vivi e a Vanessa (essa me deu uma aula) –
e assisti a alguns vídeos no YouTube.
Eles falam sobre os diferentes tipos de dobras, as posições, o cabinho, os
tamanhos dos copinhos, enfim, sobre tudinho.
A minha primeira vez foi deitada em uma banheira com as
pernas completamente escancaradas, vibes ginecologista, e uma quantidade
significativa de lubrificante. Para minha surpresa, não foi tão difícil e deu
tudo certo de primeira. Mas no dia seguinte, fui usar e ele me incomodou um
pouco, acabei tirando. É tudo uma questão de adaptação. Conforme os meses foram
passando, tudo foi melhorando.
Para colocar, cada pessoa vai preferir uma dobra, uma
posição. Eu sempre faço a dobra em U,
ela dá certo para mim. Sobre a posição, no início eu só conseguia colocar deitada, mas hoje eu já coloco sentada no vaso de boa. E sempre lubrifico um pouco antes! A diferença é
que, no início, eu usava lubrificante normal e agora adotei o óleo de coco. Esse oleozinho danado de
versátil, natural, cheiroso e que ainda faz bem para nossa vagina (bem mesmo! Ele
serve até para passar quando temos candidíase, por exemplo). Então, toda vez
antes de colocar o copinho, passo um pouco dele antes. Mas tem que ser pouquinho mesmo, senão fica coisa
demais e acaba ficando meio escorregadio.
II)
Cabinho
Todo coletor tem um cabinho, que pode ou não ficar para fora
da vagina. Tudo uma questão de tamanho, da vagina e do cabinho. Ele está ali
para guiar nossos dedinhos quando formos retirar o copinho (não para puxá-lo! Já
explico!). Tem gente que corta um pouco dele, tem gente que corta tudo, tem
gente que não corta. É isso, vai variar muito. Eu não precisei cortar nada do meu por exemplo, porque ele fica bem
guardadinho aqui dentro. Talvez não seja tão longo, diferente do meu canal
vaginal, que acabei descobrindo de uma vez por todas que é.
III)
Retirada
Vou descrever como eu faço. Prefiro tirar o coletor sentada mesmo, ou na privada, ou
agachada no box. Com o tempo, a gente vai aprendendo a fazer uma força específica que vai expelindo o
bichinho aos poucos. Aí com o indicador
e o dedão, eu pego o cabinho, que me guia até o início do coletor. Dou uma apertadinha no copinho, o vácuo que se
instala dentro dele sai – fica tranks, que você vai saber quando ele sai, a
gente sente um “pf”. É por isso que a gente não pode arrancar o copinho pelo
cabo, porque é preciso tirar esse vácuo
pra não machucar! Uma vez que eu sinto o “pf”, tiro o copinho e acabou. Sempre achei
bem tranquilo de tirar.
IV)
Higiene
Toda vez que eu tiro, lavo com água e sabonete – se possível, um líquido íntimo. Quando o ciclo
acaba, faço essa lavagem normal mesmo e o guardo em seu saquinho de algodão,
que vem com ele. A cada início de ciclo,
é preciso mergulhar o copinho em água
fervente. Para isso, eu comprei uma cumbuquinha vermelha só dele. Assim, eu
fervo a água, jogo na cumbuca e deixo ele mergulhado lá 3-4 minutos. Depois tiro,
seco e deixo esfriar antes de sair colocando (porque não quero queimar a ppk
ne).
É basicamente isso. Quis compartilhar a minha experiência, deixando bem claro que é a minha, principalmente
pelo fato de que cada pessoa tem uma vagina
totalmente diferente. Então umas vão se adaptar, outras não. E a gente vai
se descobrindo dia a dia, mês a mês. Além do coletor, hoje também uso a
calcinha absorvente (a minha é da Panty’s). Aproveito para usá-la quando a menstruarão
já está no final, em vez de usar mini absorvente interno Carefree, por exemplo.
Ela é ótima. A única coisa é que custa caro, então eu só tenho uma, aí não dá
para usar durante todo o ciclo.
Também queria dizer que nem tudo são flores com o coletor. Porém,
a gente acaba se acostumando e se adaptando com o tempo. Por que estou dizendo
isso:
11. Precisar
tirar e colocar o coletor num banheiro
público, por exemplo, é meio chato. Porque isso significa lavar as mãos
antes, entrar na cabine, tirar, sair da cabine (cheia de papel higiênico dentro
da calcinha), lavar o coletor na pia, voltar para a cabine e colocá-lo de
volta. Meio perrengue, ne? Principalmente em banheiro cheio. Principalmente,
ainda, se for um banheiro não tão limpinho. Por exemplo, quando fui pegar avião
menstruada, usando copinho há só dois meses, preferi usar absorvente, porque
morri de medo de ter que tirá-lo naquele banheiro mínimo e, ainda por cima, vai
que bate uma turbulência? Cruz credo, ia parecer banheiro de filme de terror.
22. Vamos
passar para uma intimidade agora, mas é importante compartilhar (até porque
ninguém tinha me falado disso antes!). Nos primeiros meses, quando eu ia no
banheiro para fazer nº2 (que fofa), com
a força natural que fazemos para tal, o copinho meio que dava uma saída e não
voltava mais. Aí tinha que tirar, botar, aquela coisa toda. Mas acho que isso
rolou porque 1) talvez eu ainda não estivesse totalmente adaptada, 2) talvez
ele não estivesse ainda perfeitamente encaixado. E hoje, já consigo diferenciar
melhor as forças diferentes que fazemos no banheiro (rs), xixi, cocô, expelir
copinho. Com o tempo, a gente aprende.
Fora isso, hoje sou uma enorme defensora do coletor
menstrual. Ele me faz um bem enorme, já estou bem adaptada. Mesmo se às vezes
coloco mal, eu tiro sem problemas, boto de novo, já está tudo super natural. Eu
amo ter esse contato maior com meu fluxo menstrual, meu ciclo, sinto que
entendo meu corpo melhor. Ah sim! E mesmo o preço, que de cara parece meio alto
(uns 80 reais), vale super a pena, porque o coletor dura muito, então vai compensar
os pacotes de absorventes!
Aproveitando o assunto, queria indicar o app Clue, que eu uso
para acompanhar meu ciclo. Ele é mara. Além da gente colocar sobre fluxo de sangue,
tem muitas outras opções que você pode botar dia por dia. Dores, acne, sexo,
vontades, humor... é ótimo!
Pra fechar:
Menstruação não é feio.
Menstruação não é sujo.
Menstruação é lindo, é saúde (ou sinal de ausência de), é
vida.
Amemos nossos corpos e respeitemos nossos sangues. <3 o:p="">3>
Marina N. Martins