sábado, 9 de junho de 2018

Coletor/Copinho Menstrual



Já faz uns meses que uso o coletor menstrual e to pra escrever há um tempo sobre minha experiência. Das primeiras vezes em que ouvir falar sobre ele, tive um super preconceito, achando que era nojento, que ia me incomodar, que era impossível ficar andando com um treco daqueles dentro de mim. Mas aí o tempo foi passando, eu fui começando a olhar o absorvente tradicional de outra forma e a vontade de usar o copinho surgiu mesmo num dia em que assisti a um videozinho falando da quantidade de lixo que produzimos usando absorvente externo e interno. Ah, vale falar também que um dos meus medos de usar o coletor era porque eu nunca me dei bem com OB, e isso porque eu só usava em casos de extrema necessidade como ir a algum lugar onde eu fosse ficar de biquíni. Então eu pensava “se o coletor é ainda maior, como vai dar certo?”. Acontece que a gente aprende que são duas coisas totalmente diferentes e que entram em lugares diferentes! Aproveito a deixa do absorvente interno para dizer o quanto eu sempre detestei isso e, desde muito nova, sou a maior defensora de seu uso apenas em casos extremamente necessários. Desde os meus 13 anos, quando tive minha primeira menstruação, aprendi que usar OB direto faz mal, então, pessoas com vagina, parem de usar esse troço! Real! Parem, porque não faz bem! E eis que, com essa onda toda de métodos alternativos para nossas menstruações, aprendo que o absorvente externo também não é bom para nossas vaginas, é cheio de química.

Bem, dito isso, uma das mudanças que passei desde que me mudei para Paris foi começar a usar o coletor menstrual. Um dia, num impulso, acompanhada e apoiada por um amigo, entrei na farmácia e comprei meu copinho. No começo, eu morria de medo de testar. Achava que ia sofrer um monte colocando aquele troço dentro de mim e já estava até me arrependendo de ter gastado dinheiro com isso. Depois de postar nas redes sociais e mandar mensagens para amigas pedindo dicas, conselhos e força, eu criei coragem para tentar usar meu copinho. Vou começar explicando porque eu amo tanto ele hoje em dia e depois falo de questões práticas – como uma amiga me pediu e como eu pedi também antes de usá-lo.


Hoje em dia, agradeço imensamente por ter vencido o medo e o preconceito do copinho. Por causa dele, aprendi:
11. A não ter mais nenhum nojo de menstruação.
22. Que sangue de menstruação não tem cheiro ruim, o que fica com esse cheiro é o sangue em contato com o absorvente externo (que eu usava).
33.  Que eu menstruo menos do que eu imaginava.
44.  Sobre o formato e a profundidade da minha vagina.
55.  Que óleo de coco lubrifica.

Usando o coletor, eu sinto como se me cuidasse ainda melhor:
11. Por não colocar química nenhuma dentro de mim ou em contato com minha vagina.
22. Temos que passar por um processo de higienização com o copinho que, para mim, é quase como se eu passasse por um pequeno ritual.
33. Me conheço mais internamente (literalmente)
44. Conheço melhor o meu ciclo e o meu sangue. A quantidade, a cor. Inclusive, aprendi que o meu sangue é lindo e ele caindo na privada, ou no chão do box do chuveiro, parece tinta misturada com água. Arte pura.



Hoje, estou completamente adaptada ao coletor. Na minha última menstruação, eu estava viajando e esqueci de levá-lo, então tive que usar absorvente. Foi sofrível. Eu descobri o quanto absorvente (sobretudo daquele estilo “seco”, que é o único que vende na França) me incomoda. Como meu fluxo não é muito intenso, eu posso ficar de boa até 12h com o coletor, o que é ótimo. Eu nem sinto ele dentro de mim. Posso fazer o que for: dormir, dançar, nadar, andar, que não sinto.



Então agora, vamos às questões práticas:

I)                Colocação



Para colocar o coletor pela primeira vez, ouvi dicas de várias pessoas – tiveram duas amigas em específico que foram incríveis, a Vivi e a Vanessa (essa me deu uma aula) – e assisti a alguns vídeos no YouTube. Eles falam sobre os diferentes tipos de dobras, as posições, o cabinho, os tamanhos dos copinhos, enfim, sobre tudinho.
A minha primeira vez foi deitada em uma banheira com as pernas completamente escancaradas, vibes ginecologista, e uma quantidade significativa de lubrificante. Para minha surpresa, não foi tão difícil e deu tudo certo de primeira. Mas no dia seguinte, fui usar e ele me incomodou um pouco, acabei tirando. É tudo uma questão de adaptação. Conforme os meses foram passando, tudo foi melhorando.
Para colocar, cada pessoa vai preferir uma dobra, uma posição. Eu sempre faço a dobra em U, ela dá certo para mim. Sobre a posição, no início eu só conseguia colocar deitada, mas hoje eu já coloco sentada no vaso de boa. E sempre lubrifico um pouco antes! A diferença é que, no início, eu usava lubrificante normal e agora adotei o óleo de coco. Esse oleozinho danado de versátil, natural, cheiroso e que ainda faz bem para nossa vagina (bem mesmo! Ele serve até para passar quando temos candidíase, por exemplo). Então, toda vez antes de colocar o copinho, passo um pouco dele antes. Mas tem que ser pouquinho mesmo, senão fica coisa demais e acaba ficando meio escorregadio.



II)               Cabinho
Todo coletor tem um cabinho, que pode ou não ficar para fora da vagina. Tudo uma questão de tamanho, da vagina e do cabinho. Ele está ali para guiar nossos dedinhos quando formos retirar o copinho (não para puxá-lo! Já explico!). Tem gente que corta um pouco dele, tem gente que corta tudo, tem gente que não corta. É isso, vai variar muito. Eu não precisei cortar nada do meu por exemplo, porque ele fica bem guardadinho aqui dentro. Talvez não seja tão longo, diferente do meu canal vaginal, que acabei descobrindo de uma vez por todas que é.

III)             Retirada
Vou descrever como eu faço. Prefiro tirar o coletor sentada mesmo, ou na privada, ou agachada no box. Com o tempo, a gente vai aprendendo a fazer uma força específica que vai expelindo o bichinho aos poucos. Aí com o indicador e o dedão, eu pego o cabinho, que me guia até o início do coletor. Dou uma apertadinha no copinho, o vácuo que se instala dentro dele sai – fica tranks, que você vai saber quando ele sai, a gente sente um “pf”. É por isso que a gente não pode arrancar o copinho pelo cabo, porque é preciso tirar esse vácuo pra não machucar! Uma vez que eu sinto o “pf”, tiro o copinho e acabou. Sempre achei bem tranquilo de tirar.

IV)             Higiene
Toda vez que eu tiro, lavo com água e sabonete – se possível, um líquido íntimo. Quando o ciclo acaba, faço essa lavagem normal mesmo e o guardo em seu saquinho de algodão, que vem com ele. A cada início de ciclo, é preciso mergulhar o copinho em água fervente. Para isso, eu comprei uma cumbuquinha vermelha só dele. Assim, eu fervo a água, jogo na cumbuca e deixo ele mergulhado lá 3-4 minutos. Depois tiro, seco e deixo esfriar antes de sair colocando (porque não quero queimar a ppk ne).

É basicamente isso. Quis compartilhar a minha experiência, deixando bem claro que é a minha, principalmente pelo fato de que cada pessoa tem uma vagina totalmente diferente. Então umas vão se adaptar, outras não. E a gente vai se descobrindo dia a dia, mês a mês. Além do coletor, hoje também uso a calcinha absorvente (a minha é da Panty’s). Aproveito para usá-la quando a menstruarão já está no final, em vez de usar mini absorvente interno Carefree, por exemplo. Ela é ótima. A única coisa é que custa caro, então eu só tenho uma, aí não dá para usar durante todo o ciclo.


Também queria dizer que nem tudo são flores com o coletor. Porém, a gente acaba se acostumando e se adaptando com o tempo. Por que estou dizendo isso:
11. Precisar tirar e colocar o coletor num banheiro público, por exemplo, é meio chato. Porque isso significa lavar as mãos antes, entrar na cabine, tirar, sair da cabine (cheia de papel higiênico dentro da calcinha), lavar o coletor na pia, voltar para a cabine e colocá-lo de volta. Meio perrengue, ne? Principalmente em banheiro cheio. Principalmente, ainda, se for um banheiro não tão limpinho. Por exemplo, quando fui pegar avião menstruada, usando copinho há só dois meses, preferi usar absorvente, porque morri de medo de ter que tirá-lo naquele banheiro mínimo e, ainda por cima, vai que bate uma turbulência? Cruz credo, ia parecer banheiro de filme de terror.
22. Vamos passar para uma intimidade agora, mas é importante compartilhar (até porque ninguém tinha me falado disso antes!). Nos primeiros meses, quando eu ia no banheiro para fazer  nº2 (que fofa), com a força natural que fazemos para tal, o copinho meio que dava uma saída e não voltava mais. Aí tinha que tirar, botar, aquela coisa toda. Mas acho que isso rolou porque 1) talvez eu ainda não estivesse totalmente adaptada, 2) talvez ele não estivesse ainda perfeitamente encaixado. E hoje, já consigo diferenciar melhor as forças diferentes que fazemos no banheiro (rs), xixi, cocô, expelir copinho. Com o tempo, a gente aprende.

Fora isso, hoje sou uma enorme defensora do coletor menstrual. Ele me faz um bem enorme, já estou bem adaptada. Mesmo se às vezes coloco mal, eu tiro sem problemas, boto de novo, já está tudo super natural. Eu amo ter esse contato maior com meu fluxo menstrual, meu ciclo, sinto que entendo meu corpo melhor. Ah sim! E mesmo o preço, que de cara parece meio alto (uns 80 reais), vale super a pena, porque o coletor dura muito, então vai compensar os pacotes de absorventes!

Aproveitando o assunto, queria indicar o app Clue, que eu uso para acompanhar meu ciclo. Ele é mara. Além da gente colocar sobre fluxo de sangue, tem muitas outras opções que você pode botar dia por dia. Dores, acne, sexo, vontades, humor... é ótimo!



Pra fechar:
Menstruação não é feio.
Menstruação não é sujo.
Menstruação é lindo, é saúde (ou sinal de ausência de), é vida.

Amemos nossos corpos e respeitemos nossos sangues. <3 o:p="">





Marina N. Martins

Nenhum comentário: