Abriu o caderno onde havia antigos poemas e, além de alguns manuscritos e rascunhos, encontrou também uma velha rosa ressecada. Uma rosa que não sabia se era efetivamente uma rosa, mas parecia ser. Levava poucas pétalas em seu corpo fino. Pegou a rosa e se perguntou de onde viera a flor. Teve um reflexo de ideia, mas logo a descartou. E se arrependeu de não ter guardado a flor que havia recebido nesse tal reflexo de ideia. Cheirou a rosa e fechou os olhos para ver se alguma lembrança vinha à sua memória. Vieram várias. Mas nenhuma delas era relativa a tal rosa ressecada. De onde poderia ter vindo a misteriosa flor? Não sabia. E temia que nunca descobrisse. Teve outro arrependimento: o de não ter feito nenhuma anotação a respeito da rosa, que um dia havia sido branca. Leu os poemas que a relembravam de um passado recente e de antigas paixões, um tanto sofridas. Mas e a rosa? Será uma lembrança de um esquecimento, que trará novas lembranças e a relembrará de outros esquecimentos: lembranças uma vez esquecidas. A rosa será o futuro de uma memória de que um dia guardou uma rosa, mas não podia se lembrar de onde. Ou de quando. Quem sabe o que importa mesmo não é saber o motivo ou a origem da rosa, mas sim de ter a certeza de que um dia recebeu a flor e de tê-la envelhecendo junto a velhos poemas e velhas lembranças.
Marina Martins
Um comentário:
Nina amei,me lembrou muito aquele dia que eu estudei na sua casa hahahaha...parabéns!!
gi
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