"(...) As pessoas querem empurrar seus narcisismos goela abaixo de outras pessoas que elas mal conhecem, ou não conhecem absolutamente. (...) Mas fico sempre perplexo a cada vez que um “amigo” desconhecido publica no meu mural uma venda de si mesmo, às vezes sem sequer se dar o trabalho de disfarçar a autopromoção com uma nota de intimidade. Vai a seco mesmo, sem vaselina.
(...)
O ego spam é diferente. Nele, não são os
produtos que se deseja promover, mas a própria pessoa que o pratica. E a
relação que se pretende estabelecer não é apenas a de compra e venda, em que
não existe subjetividade, mas uma relação imaginária. Isso torna a invasão de privacidade
mais radical. O que o praticante de ego spam deseja é ser reconhecido, admirado
pelas pessoas cuja privacidade ele invade. Num mundo onde se tem alguma noção
das diferenças e dos limites entre o público e o privado, as pessoas fazem
realizações públicas e por meio delas conquistam a admiração dos outros. Um
artista cria a sua obra e a lança no mundo. Essa garrafa boia no mar do
público, para que a recolha quem quiser. Esse é o mundo bom: uma esfera pública
forte reúne e dissemina as realizações humanas, e cada um aproveita dela o que
quiser.
(...)"
Trechos do texto "Ego spam", de Francisco Bosco, publicado no Globo na última quarta-feira, dia 9 de maio.
Trechos do texto "Ego spam", de Francisco Bosco, publicado no Globo na última quarta-feira, dia 9 de maio.
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