domingo, 26 de agosto de 2012

299


Pássaro em vermelho

O pássaro inteiro
Descolou-se do papel
E num impulso certeiro
Foi em direção ao céu.

Seus traços em vermelho,
Que a lembraram do passado,
Levaram a menina ao espelho
Com o pássaro vermelho ao lado.

O simples passarinho
Representara para a criança
Demonstração de carinho
E um marco amoroso em sua infância.

Marina Martins; dedicado ao desenho de pássaro que o papai desenhava pra mim. Gostava mesmo era quando era feito com o pilot vermelho que tenho até hoje.

298


Parker

Dorme que nem
um neném
com direito a biquinho,
grunhidos baixinhos,
cara de anjinho.

Acorda que nem
o Homem Aranha,
ne envolve na teia
com aquela teima.
(Meu fogo te arranha,
minha unha te queima).
Então me beija
com gosto de sono,
me olha com aquela cara
de cãozinho sem dono.


Marina Martins

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

297


Explosão

Chega. Não nasci para aguentar tanta pressão.
Não sei de onde vem tanta água para sair.
Motivos variados me deixam chorando em vão,
por qualquer coisinha, deixo de sorrir.

Já cheguei ao meu limite,
será que é difícil de entender?
Passo horas calada e triste,
com vontade de desaparecer.

Pior é quando os que menos devem
decidem brincar com meu coração.
Parece até que se esquecem
que uma bobagem pode ser decepção.

Crescer às vezes é tão difícil!
São tantas barreiras e preocupações...
Não sei se em meu corpo cabe tudo isso,
ele já está satisfeito com rimas e canções. 

Marina Martins

Antropofágicos adictos


Eles fazem parte das impurezas da sociedade. São daqueles que, como psicopatas e masoquistas, não merecem nosso respeito. Além disso, eles são também psicopatas – de almas – e masoquistas; violam do corpo de outra pessoa em prol de seu desprezível prazer. Observam as mulheres com olhares atentos e aterrorizantes, as devoram como canibais apenas com o olhar. Eles estragam os olhos azuis, transformando-os em olhos vermelhos de fogo e negros de terror. Eles chegam para o lado no ônibus, esperando que alguma jovem ingênua e bonitinha ocupe o banco ao lado. Aliás, esperando que qualquer presa, não importa a idade ou o tamanho, ocupe o tal banco livre. Eles viram para perguntar a hora enquanto olham para as coxas. Bela justificativa para quem quer aproveitar a imaginária deglutição antropofágica. Por dentro de seus corpos, o coração deve latejar de desejo e os pensamentos imundos devem percorrer pelas cabeças, sem pena. Causam tanto pavor quanto um bandido armado. A diferença é que a arma deles é outra.

Marina Martins, após descer do 435, onde lhe perguntaram a hora.

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

296


Engaiolada

A aflição
(para alguns, drama)
Escorre nas lágrimas
De putrefação
Do meu ser.

Afundam-se
No sofá vermelho;
Estou imersa
Na escuridão.

Meu rosto afogado
Da cor do sofá
Me faz pensar
No que não deveria.

Conheço-me a mim mesma,
Gosto e estranho
O que descubro.

Eu preciso voar.

Marina Martins