Você
acorda com aquele típico sintoma de segundas-feiras de não querer fazer nada. Mas
você levanta da cama gostosa e se arruma para ir à escola. Isso tudo sabendo
que você tem um loooongo dia pela frente e que esta semana vai ser de muito
estudo, pois você está a menos de uma semana do vestibular da faculdade que
pretende cursar talvez quem sabe com certa certeza. Na escola você descobre
algo que você não precisava saber, algo que tem relação com mentiras e você
sabe que não suporta mentiras. Principalmente quando essas envolvem alguém
querido.
Você
sai da escola e pega um ônibus para Ipanema, pois precisa se depilar, e você só
se depila em Ipanema, porque só a Rita ou a Ana sabem te depilar sem arrancar a
primeira camada da sua pele junto com seus pelos. Você chega no instituto de
depilação e a merda ta fechada. E você estava achando ao longo do dia que
poderia estar fechado, pois ninguém atendeu aos seus três telefonemas. Mas você
pensou “qual sentido de fecharem numa segunda-feira?”. Pois é. Fecharam.
Você
compra um cookie no Subway, pois você merece. O cookie ta bem menor que o
normal. Você pega “pacientemente” um ônibus de volta para casa, após ter
desabafado no celular para a sua mãe e para o seu namorado. Dois lindos. O ônibus
não para no ponto que você quer, passa direto. Parece que é só para te
sacanear, não é possível. Você desce num ponto antes do da sua casa, porque
você quer experimentar o mate “Do Bem”. Você chega no Zona Sul e não tem mate “Do
Bem”. Nisso, você já tinha passado do Papajaya, não ia voltar lá só para tomar
o mate do Papajaya.
Subindo
a Timóteo da Costa, seu estresse está no limite e você começa a se lembrar de
que este ano você vai se separar de todos os seus amigos, professores e
inspetores. Então, você passa na frente da portinha vermelha da sua antiga
escola. Aquela que você estudou dos seis aos onze anos. Suas lágrimas escorrem
pela Timóteo.
Você
quer conversar com sua mãe, mas ela está no trabalho. Quer abraçar seu
namorado, mas ele está na Tijuca. Quer ligar pra sua avó, mas você não é
médium, nem mesmo espírita. Você entra na portaria e percebe que sua vida está
mais para um filme de drama. Com direito a trilha sonora. Beirut. Quiçá Los Hermanos.
A coisa ta feia. E isso tudo porque era pra você começar a porra da semana de
cabeça fria.
Marina Martins
José
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José?
(...)
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama protesta,
e agora, José?
(...)
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro, sua incoerência,
seu ódio - e agora?
(...)
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro, sua incoerência,
seu ódio - e agora?
(...)
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, pra onde?
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, pra onde?
Carlos Drummond de Andrade
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