Você e essa sua mania de
ser sempre boa, sempre correta. Você obedece, concorda, perdoa. Você aceita,
não fala, não grita, não bate nem discute. Você sabe que, se alguém viesse te
bater, você não revidaria, pois não se rebaixaria ao nível da pessoa e, além
disso, não suporta violência. E é por isso que, metaforicamente, as pessoas às
vezes te batem e você não revida e nem faz nada. Esse seu pavio curto para
certas coisas, seu gênio forte e sua atitude nem sempre aparecem quando mais
deveriam aparecer. E então você cospe tudo que te come na forma de palavras para
postá-las em algum lugar e, em certos casos, espera que alguém leia e se
identifique. Você joga a sua angústia em um papel ou em um documento do Word e
fica por isso mesmo, pois não consegue dizer na cara da pessoa que ela está
sendo no mínimo estúpida. Tudo bem que o fato de não conseguir olhar nos olhos
de alguém por tanta intolerância, impaciência ou raiva às vezes te priva de
conseguir dizer a esse alguém o que te fere e incomoda. Mas muitas vezes é
porque você não consegue mesmo. Por isso que eles te batem: sabem que você não
vai revidar. E o pior: sabem que você vai perdoar. Paz e amor, “all you need is love”,
suas palavras de vida, seu lema. Você preza muito por seus amores e amizades, têm
medo de perdê-los, por isso perdoa, aceita calada. Tanta coisa que você sempre
quis dizer e nunca disse! Está aí a sua fraqueza, sua melancolia que você só
divide com a Amelie Poulain ou em sua sala de terapia.
Você tem que arrumar seu
quarto, você não pode ir a festas, você não pode ter essa nota, você tem que
resolver isso essa semana, ‘sorria, você está sendo provocada’, você tem que
ligar pra quem diz que sente saudades de você e não te liga, você tem que correr atrás, você
tem que perguntar, você tem que reclamar, você tem que se impor, você tem que
botar pra fora o que sente, você tem que ouvir, você vai mesmo fazer só
cinema?, e você não vai fazer na UFF?, você é muito certinha, você ta muito estressada. Você acha que às
vezes falar de você mesma é egocentrismo (por isso está escrevendo em terceira
pessoa) e não gosta de ficar falando sobre suas qualidades sempre, mas sabe de
uma coisa? Você é uma santa. Você é muito boazinha. Não gosta de colocar-se no
lugar de vítima, mas não percebe que não é isso que você está fazendo:
reconheça que você, em certos casos, é realmente a “vítima”, você está sendo
sacaneada. Mas você se cala, apenas se cala... Você e essa sua mania de sempre
ser boa!
“Nina, você vai ter de entender, tem gente que é deste
jeito: não gosta de despedidas. Não chore, Nina, não chore. Ou melhor: chore
bastante. A gente afoga nas lágrimas a
dor que não entendemos. Mas espere, Nina, espere, porque há duas razões
para você não chorar.” - Ziraldo, do livro "Menina Nina".
Marina Martins