Eu te odeio.
Você me fez passar três horas morrendo de fome, sabendo que eu estava morrendo
de fome, e nem percebeu. Você não prestou atenção; nem em mim, nem em nada. Aliás,
prestou sim: em você mesmo. E sabe o que mais odeio em você? O fato de eu não
conseguir odiá-lo quando eu mais quero. Você não consegue não ser fofo. Enquanto
eu tento sustentar-me em minha postura de irritada, você me aparece na mão com
uma miniatura de gaita. Uma miniatura de gaita! Como consegue ser tão
irritantemente fofo? A gaitinha era menor que o seu mindinho! Sem querer, perco
a compostura e sorrio. (É sorriso de ódio!) Aos poucos, vou sendo levada pela
sua fofura. Impossível odiá-lo por mais de um segundo. Não consigo, pretendo e
acho que nunca vou conseguir. Eu gosto de não conseguir. Então, percebo o
quanto o amo. Eu amo o fato de não saber odiá-lo. Chego em casa e lá está a
minha cama, do jeitinho que você a deixou, arrumadinha e com os meus bichinhos
deitados e cobertos. Agora cá estou, deitada (infelizmente, sem você ao meu
lado), amando te amar. Estou lembrando de como você conseguiu me aguentar em
mais uma das minhas crises de sensibilidade hoje. Nossa, cara, você é incrível.
Eu te amo.
Marina Martins
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