terça-feira, 28 de abril de 2015

Um futuro feliz

Eu deveria estar estudando. Na verdade, estou. Só parei um segundo porque me inspirei. E nessas horas que a inspiração vem, não posso recusá-la, a vida me ensinou isso. Acabo de mostrar a primeira versão, ou copião, da edição de um curta que escrevi e dirigi para minha aula de Direção ao meu pai. Mais cedo, mostrei à minha mãe. A versão está incompleta e errada em algumas partes. Eles amaram. Mas amaram de verdade. Eu nem tinha amado tanto assim até vê-los amando. É que eu sou muito crítica com algumas coisas que faço – acredito que muitas pessoas sejam. Meu pai está até agora emocionado. Em vários aspectos da minha vida, eu sou muito decidida e segura. Nunca fui uma pessoa com problemas de autoestima. Mas em outros, a insegurança predomina por vários momentos e junto dela o nervosismo, a sensação de incapacidade. No entanto, as pessoas que me cercam conseguem me botar pra cima.

Fiz o meu curta com meu melhor amigo na câmera, uma amiga no som; minhas atrizes eram uma amiga do Tablado, uma amiga da faculdade, que é atriz, minha prima de 12 anos e minha irmã mais velha, atriz desde bem antes de eu nascer. E agora tenho um amigo fazendo uma trilha sonora especial para mim. Como diretora de primeira viagem, eu muitas vezes não sabia o que falar e todas essas pessoas que citei me ajudaram o tempo inteiro. Sem a ajuda delas, eu com certeza teria tido crises de choro e momentos de puro nervosismo. Mas isso não aconteceu. Eu nunca dirigi atores na minha vida e, no entanto, o resultado me deixou muito feliz. Ter minha irmã Juliana no meu primeiro curta é um marco na minha vida pessoal e profissional. Mas quem me surpreendeu mesmo foi minha prima Sofia, de 12 anos. Essa menina não faz teatro. Ela não tem o costume de decorar texto. Mas sua capacidade de decorar diálogos em minutos e sua expressividade me deixaram boquiaberta, como deixaram também a meus pais. Ela não precisou de uma diretora profissional para fazer o que fez. E fez. O meu feeling de escrever uma personagem pensando nela como atriz deu mais do que certo e estou orgulhosa disso. Ela é artista desde pequena. Ela, a mais nova da nossa equipe, vai brilhar nessa vida. E eu digo com certeza. Assim como ela disse, no amigo oculto do Natal passado: “a pessoa que eu tirei vai ser uma grande cineasta”, me fazendo debulhar em lágrimas, eu digo a ela que ela também será uma grande. Grande no caminho que ela escolher.

Sobre a minha insegurança que é apagada por muitas pessoas em diversos momentos, muitas delas sabem disso, mas outras não têm nem ideia. Vocês não imaginam como fiquei emocionada com cada recadinho, whatsapp, mensagem, abraço que recebi no meu aniversário. As mais diferentes pessoas dizendo para eu continuar sendo a pessoa que sou, escrevendo o que escrevo, me chamando de futura cineasta, dizendo que tenho um futuro brilhante... aqui estou eu, chorando. Ver que palavras como essas se repetiam nos desejos de “feliz aniversário” me deixou perplexa. É graças a isso que levanto a cabeça quando acho que nada vai dar certo. É por causa de cada palavra assim que eu faço uma combinação comigo mesma que eu devo, sim, continuar sendo a pessoa que sou, do jeito que sou. Porque é esse jeito que fez e faz as pessoas falarem que gostam do que digo, do que faço, que gostam de mim. E elas demonstram isso dos jeitos mais diferentes.


Gente, se algum dia eu vier a ganhar um prêmio, seja por ter escrito um livro, um roteiro, atuado em qualquer coisa, dirigido um filme ou seja lá o que for, eu vou lembrar desse dia. Eu vou lembrar do dia em que recados de “parabéns” pelos meus vinte anos, idade bonita, me fizeram uma pessoa ainda mais feliz, forte e confiante. Eu vou lembrar do primeiro curta que dirigi e de cada pessoa que me ajudou. Eu vou lembrar que o fiz pensando na minha avó Margarida, que estaria vibrando em ver duas netas trabalhando juntas, assim como meu pai vibrou ao ver suas filhas juntas. Eu vou lembrar desse texto que estou escrevendo. Eu vou lembrar de cada um e cada uma que um dia me fizeram acreditar que eu poderia chegar lá. E não me importa agora onde será “lá”. Se eu estiver feliz, eu lembrarei de quem já me fez, faz e continuará fazendo feliz.

Marina Martins

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