sábado, 12 de novembro de 2011

Conversas com o mar


No cantinho após o posto 12, lá está ela a ver o mar. Casais se acariciam, pessoas passam correndo, o menininho brinca com o cachorro, bem maior que ele, enquanto seu pai dá mais atenção ao cachorro do que a ele. “Que vontade de agarrar esta criança! Que lindo!”, ela pensa. A música em seus ouvidos parece adivinhar o que ela quer escutar. Os Beatles narram o que ela está pensando, Jack Johnson narra as idas e vindas do mar, os Red Hot Chilli Peppers narram a brincadeira do garotinho com o cachorro e, então, toca Yann Tiersen. O pássaro que sobrevoa o mar dança a música instrumental francesa em perfeita sintonia. Ele tenta pegar um peixe, mas não consegue, então volta a dançar. Depois, tenta novamente, mas não consegue novamente. A música termina e o pássaro voa para longe, – de repente ele tenha sim pegado o peixe – parece que combinou com a música seu momento de sair de cena. Que delícia ser um pássaro! Quanta liberdade! Seu corpo baila pelo céu e ele alcança as nuvens, ou o mar, a areia... Ela pensa que, talvez, um pássaro jamais possa desapontar alguém. Então, pensa que o céu e o mar também não. Mas não, não é bem assim. O céu, por exemplo, está nublado bem no feriado. Que ofensa! O céu desaponta sim, e muito. Muitas vezes. Mas o mar... o mar é diferente. Parece que ele sente o que ela sente e tenta sempre ajudá-la. Pelo menos com ela é assim. É como se suas ondas, por maiores ou menores que estejam, conversem com ela e pensassem como ela. O mar é misterioso e até assustador, mas não desaponta. Nunca. As pessoas sabem dos perigos dele e desconhecem seus mistérios, não podem se fazer de inocentes quanto a isso. E lá está ela, vendo o mundo girar. Sua cabeça gira com o planeta e ela fecha os olhos para que ele possa girar em paz, enquanto está sentada em uma canga no cantinho após o posto 12.

Marina Martins

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