De repente, aquela união
de letras a faz sentir um desagradável frio na barriga. Há frios gostosos,
daqueles de quando estamos esperando uma notícia ou alguma coisa boa, daquele
de quando nos apaixonamos... mas também há os frios que sentimos quando temos
raiva, quando vemos (ou lemos) algo que nos desagrada tão profundamente, que
nosso corpo todo se modifica. Então, as lágrimas que você andava evitando
gastar relacionadas a tal assunto específico são lançadas para fora de seu
corpo, sem você ter tempo de sequer tentar controlá-las. O frio na barriga
parece tomar conta de todo o seu corpo e você chega a tremer. O rosto se fecha
em uma expressão dura e carrancuda, os lábios cerram, os dentes rangem, as
narinas se abrem. Para qualquer outra pessoa, aquelas palavras não significam
nada, absolutamente nada. Mas, para você, são um tipo de traição, uma
demonstração suja de um jogo ridículo que duas pessoas estão tentando fazer e
você não consegue entender o motivo. Mas é claro, você é boa demais para fazer
alguma coisa. Você não ia conseguir jamais dizer tudo o que pensa àquelas
pessoas. Só que você está se preparando para mudar. Você está deixando o tempo
correr e vendo até onde vai o silêncio, você está esperando para ver o que vai
acontecer. Porque se acontecer o que você teme e pensa que pode ser possível,
das duas uma: você vai enfrentar o medo das palavras faladas e vai falar o que
pensa ou você vai se calar, apenas se calar e escrever. E daqui em diante
tentar esperar menos das pessoas, para poder se decepcionar menos em sua vida. É
difícil e triste aceitar, mas você é uma das poucas pessoas que ainda pensa nos
outros.
Marina Martins
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