sábado, 29 de dezembro de 2012

Silêncios



De repente, aquela união de letras a faz sentir um desagradável frio na barriga. Há frios gostosos, daqueles de quando estamos esperando uma notícia ou alguma coisa boa, daquele de quando nos apaixonamos... mas também há os frios que sentimos quando temos raiva, quando vemos (ou lemos) algo que nos desagrada tão profundamente, que nosso corpo todo se modifica. Então, as lágrimas que você andava evitando gastar relacionadas a tal assunto específico são lançadas para fora de seu corpo, sem você ter tempo de sequer tentar controlá-las. O frio na barriga parece tomar conta de todo o seu corpo e você chega a tremer. O rosto se fecha em uma expressão dura e carrancuda, os lábios cerram, os dentes rangem, as narinas se abrem. Para qualquer outra pessoa, aquelas palavras não significam nada, absolutamente nada. Mas, para você, são um tipo de traição, uma demonstração suja de um jogo ridículo que duas pessoas estão tentando fazer e você não consegue entender o motivo. Mas é claro, você é boa demais para fazer alguma coisa. Você não ia conseguir jamais dizer tudo o que pensa àquelas pessoas. Só que você está se preparando para mudar. Você está deixando o tempo correr e vendo até onde vai o silêncio, você está esperando para ver o que vai acontecer. Porque se acontecer o que você teme e pensa que pode ser possível, das duas uma: você vai enfrentar o medo das palavras faladas e vai falar o que pensa ou você vai se calar, apenas se calar e escrever. E daqui em diante tentar esperar menos das pessoas, para poder se decepcionar menos em sua vida. É difícil e triste aceitar, mas você é uma das poucas pessoas que ainda pensa nos outros.

Marina Martins

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