Eu
amo a minha cidade. Por sua beleza inigualável, ela realmente merece o “apelido”
de Cidade Maravilhosa. Já dizia Jobim, “Rio de sol, de céu, de mar” e minha
alma, assim como a dele, canta quando vejo o Rio de Janeiro e eu sempre morro de
saudades, quando estou longe há muito tempo. Andar de ônibus pela praia,
enquanto ouço samba ou bossa nova, parece até montagem de cinema, é um poema
aos meus olhos e ouvidos! Mas nessa frase, já trago o primeiro problema que faz
eu me irritar com o Rio que tanto amo: “andar de ônibus”.
Eu
não dirijo, então me locomovo pela cidade de seis outras formas: andando, de
ônibus, de metrô, de frescão, de taxi ou de carona. Como nem sempre tem o
último, o penúltimo é caro, o antepenúltimo também e o metrô não me deixa em
qualquer lugar, para ir de um lugar a outro, diariamente, pego ônibus ou vou
andando. Aí moram dois problemas.
O
Rio de Janeiro é perigoso e violento, ainda mais para uma mulher, que é ainda
menos respeitada. Quando estou andando, coisa que adoro fazer, tenho que olhar
para todos os lados, o tempo inteiro, para ver se tem alguém “suspeito”. Não posso
mexer no celular. Não posso andar em locais desertos e escuros, pois corro
sérios riscos de ser assaltada ou, pior, estuprada. Em qualquer lugar da cidade
e hora do dia, ando com medo. Medo. É
com esse sentimento que o carioca é obrigado a conviver cotidianamente. Quando ando
de ônibus, até me sinto mais segura em relação a assaltos. Mas nem tanto. Eu
evito pegar o celular, por exemplo. Só que, na minha opinião, os maiores problemas
do ônibus são outros:
1. Respeito: Esse
engloba todos os outros. Os passageiros não respeitam os passageiros. Os passageiros
não respeitam o motorista e o cobrador. O motorista não respeita os
passageiros. E assim somos locomovidos dentro de um ciclo vicioso de completa
falta de respeito.
2. Velocidade: Não
é a toa que nossos motoristas de ônibus são chamados de pilotos. Eles acham que
estão dirigindo um avião. E eu tenho medo que um dia o sonho deles seja
realizado e aquela droga voe. Os passageiros já voam dentro daquele foguete, um
cai em cima do outro, é uma beleza. A cada freada, uma voada. Quanta diversão!
3. Trânsito: Toda
hora acho que meu ônibus vai bater, acho que já fiquei paranoica. É cada fino
que ele tira dos carros e de outros ônibus! Os motoristas acham que têm muito
poder dentro daquela coisa enorme e saem fechando os carros pelas ruas. Quando estou
no carro, tenho ainda mais nervoso disso.
4. Pontos: Os
motoristas deixam para frear em cima da hora, em vez de ir desacelerando um
pouco antes dos pontos. Isso quando eles não passam direto. Às vezes, a pessoa
simplesmente não tem direito de descer do ônibus que ela está. Ou de pegar o
ônibus que ela precisa. Isso cabe ao motorista decidir.
5. Climatização:
Quando não tem ar-condicionado, parece que é um instrumento de tortura, tanto
para os passageiros, quanto para os motoristas. Fica todo mundo com aquela cara
de morte. E quando ta lotado!? Vai todo mundo agarradinho, fazendo uma
sauninha... ê, que delícia! Quando tem ar, é ótimo. A não ser que o motorista
resolva deixar aquela droga com 17º, aí a sauna vira geleira e eu saio de lá
com nariz vermelho.
6. Vômito: Além de eu já ter magicamente sentido esse cheiro em mais de um ônibus, é
com essa vontade que saio de lá. Os motoristas aceleram e freiam, aceleram
e freiam. E, em uns, ainda tem aquela TVzinha. Não dá pra ser feliz assim.
Por
esses e outros motivos, cada vez estou mais de saco cheio dessa cidade que
tanto amo. Não consigo mais ficar relaxada aqui, nem na praia, onde eu mais deveria
ficar. A gente tem que caminhar atento, deitar na areia atento, porque pode ser
que nos roubem. Os preços estão todos absurdos. Quatro reais numa garrafa d’água?
Seis em um coco??? Isso é uma palhaçada! E isso na praia, agora se a gente for
falar de restaurantes, cruz credo. Não vou nem para esse patamar, pelo menos
não nesse texto.
Acontece
que nós, cariocas, moradores do Rio e brasileiros, sofremos todos os dias com o
“público”. Transporte, saúde, segurança... ta tudo errado. Eu não gosto quando
falam que o Brasil é uma merda, mas os argumentos para defender meu país, ainda
mais minha cidade, estão ficando difíceis! Brasil, eu te amo e não te trocaria
por nada (pelo menos não durante toda minha vida). Rio, eu te amo e você é a
cidade mais linda desse mundo! Mas fica difícil viver assim.
Marina Martins
https://www.youtube.com/watch?v=bQM-vP5BcGw - Coloquem para tocar, quando quiserem lembrar que o Rio é gostoso, mesmo enchendo o saco.
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