“Eu
tinha 15 anos quando viajei pra lá”. Que engraçado isso que disse hoje. Ao mesmo
tempo que parece uma realidade extremamente próxima, com tantas memórias vivas,
é algo já tão distante... hoje, quando penso “15 anos” me vejo uma pirralha,
uma pessoa que tinha descoberto a vida há muito pouco tempo. Ta, talvez isso
seja um exagero, mas eu posso dizer que minha vida, minhas atitudes e minha
maneira de pensar começaram a se formar mesmo, ou pelo menos se fixar, a partir
dos 14 anos e a amadurecer nos 15. Também posso dizer que muita coisa aconteceu
e mudou na minha vida a partir da minha debutância. Quando fiz 15 anos, estava
no Ensino Médio, não usava mais uniforme, não dei uma festa gigante, não dancei
valsa, não usei mais de um vestido, meu vestidinho não era longo. Preferi fazer
uma viagem, tive a oportunidade de ficar três semanas em Oxford estudando
inglês.
Eu
realmente estudei inglês. Não fiz só isso, óbvio, mas eu estudei mesmo. Fui com
três amigas e mais um grupo de brasileiros e na volta ainda passamos três dias
em Paris. Essa viagem mudou minha vida. Por um curto período de tempo, eu tive
uma família nova (mãe, pai, irmão e irmã mais novos, além da minha amiga-irmã e
de um irmão francês da nossa idade), morei numa casa nova, numa cidade
completamente nova, conheci muita gente nova. Eu andava sozinha na rua à noite
sem medo de assalto – eu andava sozinha à noite – e pegava o ônibus no último horário,
mesmo que não fosse tão tarde. Mas ônibus onze da noite aqui já é meio
perigoso. Eu gostava de ir pra aula, mesmo que fosse cedo. E nós ainda tínhamos
que sair mais cedo do que o normal por conta dos péssimos horários de nossos
ônibus. Aí nós chegávamos, íamos no computador e eu atualizava meu Facebook
(recém feito) e meu Twitter com informações sobre a viagem para que minha
família e meus amigos pudessem acompanhar. Aliás, os meus posts dessa época são
muito engraçados.
Estudávamos
pela manhã, no break time lanchávamos
no Café Bar Brasil que tinha ao lado da escola, ou íamos até o mercado comprar
croissant ou frutas num potinho. As melancias eram deliciosas! À tarde, almoçávamos
com nosso grupo brasileiro ou com nossos amigos estrangeiros, normalmente um
sanduíche que comíamos na rua. Quando nos dávamos ao luxo, tinha um restaurante
italiano muito gostoso ali perto ou alguns outros interessantes nas redondezas.
Então fazíamos algum passeio turístico ou ficávamos de bobeira pelas ruas da
cidade. Segunda e quinta eram dias de futebol no Botley Park, onde toda a
galera da escola ia e jogava. Tinha de tudo: brasileiros, espanhóis, franceses,
húngaros, árabes... era um gramado enorme, onde eu ficava sentada fofocando com
as meninas, rindo alto, falando bobagem em português pros gringos não entenderem,
filmando, tirando foto ou só ouvindo
ipod enquanto olhava para o céu, ora azul, ora nublado. Terças à noite tínhamos
direito a entrar de graça na matinê da The Bridge. Era tão cheio, que até hoje
eu não entendo como não me sentia claustrofóbica lá (ahhh meus 15 anos...),
fora o cheirinho desagradável que certos jovens tinham.... Dançávamos
loucamente ao som de Waka Waka, Sexy Bitch, We no Speak Americano, Alors on
Danse, Break your Heart, Rap das Armas... nessa então, ninguém segurava as
brasileiras! Botamos todo mundo para ir até o chão. Aos finais de semana, fazíamos
excursões para alguma cidadezinha inglesa, uma em cada dia. Também fomos mais
de uma vez a Londres, vimos musicais, fomos na London Eye, na Tate Modern.
Sobre
as pessoas que conheci, só gente boa. Alguns foram só uma passagem na minha
vida, outros eu guardo com muito carinho, apesar de não mantermos muito
contato, outros três eu já conseguir rever. Um deles eu já vi duas vezes. A despedida
é sempre triste, mas pelo menos ela me deixa a sensação de que vamos nos rever
de novo (sim, rever de novo).
Lembrei
agora do dia em que perdi meu anel. Do nada, olhei para o meu dedo e não vi o
anel que ganhei dos meus pais no meu aniversário de 13 anos. Larguei minha
bolsa com a minha amiga, procurei pelo chão da rua, chorava sozinha, eu estava
zonza. Não achei. Mas sei lá, hoje penso (e quando digo hoje, é hoje mesmo –
acabei de pensar nisso) que isso pode ter tido algum simbolismo. Eu perdi o
marco dos meus treze anos, mas de repente ele deu lugar a outros marcos na
minha vida, ele cedeu espaço para os meus 15. Durante essa viagem, eu me senti
livre, eu me senti grande. E agora eu vejo como ainda era novinha. Ô idade boa!
Ô viagem boa! Realmente, meus 15 anos marcaram a minha vida. Se não fosse pela
viagem, não sei se teriam marcado tanto assim. Mas assim foi. Meus 15 anos
foram lindos, repletos de descobertas e novidades. E depois vieram os 16,
cheios de outras coisas novas e maravilhosas (algumas mais maravilhosas ainda).
Mas essas memórias, eu deixo pra outro texto.
Marina Martins
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