segunda-feira, 10 de abril de 2017

Radical

"Linguagem Sexista"
(achei a imagem no Pinterest)

E aí vocês vêm e me dizem que eu sou muito radical. Dizem com uma serenidade no olhar e uma cara de pau que só conheço em homens, mas calma, a culpa não é de vocês. A culpa é de toda uma estrutura que deixa vocês completamente serenos e donos de si, até quando o assunto não é sobre vocês. Vocês podem e devem ser seguros, confiantes, e dizerem o que quiserem, quando quiserem. Não é isso? Sempre foi isso. A culpa é de um sistema que não dá limite pra vocês, pra toda essa significância que lhes foi dada e que vocês mesmos se dão; que sempre vai dar razão ao que vocês disserem e fizerem. Então por que guardar para si, se o que estão falando é certo, não é mesmo? Quando se tem todo o privilégio, é realmente muito complicado se calar para ouvir quem sofre na pele e jogar tudo o que é dito em um discurso de que “vocês feministas odeiam os homens”. Em vez de falar uma palhaçada dessas, por que não tentar entender de onde vêm isso que vocês interpretam como “ódio”, pelo fato de que vocês simplesmente não conseguem não serem protagonistas de algo nessa sociedade onde vocês protagonizam tudo o tempo inteiro? Calma, calma. Mais uma vez, não se sintam culpados por isso. Vou ter que ficar repetindo isso só para vocês pararem de achar que o lance é pessoal. Tem que fazer igual criança. Repetir, repetir, repetir... quem sabe um dia minha voz acaba e vocês entendem, né? Mas bom. Em vez de achar que o grande problema do feminismo é o “ódio aos homens”, vocês podiam fazer o exercício da escuta. Se não conhecem, não me impressiona, já que quem foi ensinada a escutar sempre fomos nós. Eu posso explicar o que eu entendo como machismo estrutural, mas só vou explicar se vocês estiverem dispostos a se calar. E não precisam ler teorias feministas, textos e mais textos, apenas se vocês escutassem já bastaria. Se vocês parassem para nos escutar, e mais, SE escutar, vocês entenderiam. Entenderiam que a questão é es-tru-tu-ral e não pessoal. Eu tenho todo o tempo do mundo de explicar, se quiserem entender. Mas se não quiserem entender, nem me perguntem, porque o meu tempo é precioso para me esgoelar para alguém que apenas finge o interesse, quando na verdade só quer falar. Continuar falando. Sempre e sempre. Não vou dizer que não é difícil se calar; é sim. A gente tem que fazer isso a vida toda, então eu digo com propriedade. Se calar é ruim. Mas às vezes não custa nada. Mais do que isso, às vezes é necessário. E mais, às vezes é fundamental. Então, caros homens, não adianta querer ser chamado de feminista se você não entende o movimento, não entende que feminista não é tudo igual, qual é o “inimigo maior” do feminismo, o que é privilégio, o que é lugar de fala, não assume suas atitudes machistas e não percebe tudo o que você fala e faz para que a misoginia se mantenha. Alguns não conseguem nem dizer que apoiam o feminismo, porque na verdade não entendem nada dele e parecem que não querem entender, quem dirá SER feminista. Calem-se e entendam: essa luta não é contra vocês. E muito menos sobre vocês. Quem chama uma mulher de louca quando ela se sente ofendida, nunca viu um homem se sentir ofendido pelo movimento feminista. E vem me dizer que minha luta é radical? Radical é teu machismo, parceiro. Desde o que ri da piadinha boba até o que estupra. Cansei de ouvir sem ser escutada.

Marina N. Martins

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