Esse texto que estou postando foi escrito por mim, no ano passado, e para fazê-lo me indpirei em uma história que aconteceu com a minha irmã, que por sua vez, adorou meu texto. Espero que quem leia goste também, boa leitura!
Molho de tomate
Ele era o homem da minha vida. E esse era o almoço da minha vida. E acabou sendo o dia mais estranho da minha vida. E nessa minha vida, eu tenho sempre que estragar tudo, sempre mesmo, tudo mesmo. E o pior: eu tinha conseguido parar de fumar, mas depois desse episódio eu voltei à estaca zero. Ou não. Tudo uma droga, eu sei. Mas pelo menos, depois do acontecido, pude perceber que o “pior” dia da minha vida se torna estranho, virando o melhor.
Era um domingo de manhã, com a segunda-feira seguinte de feriado, e após um banho, lá estava eu, me arrumando. Coloquei o meu vestidinho rosa claro com listras rosa - choque, um lencinho branco no pescoço, minha sandália dourada (com as unhas vermelhas), uma flor branca no cabelo, peguei minha bolsa branca, peguei meu carro e fui pra casa dos meus sogros.
Chegando lá, o Caio, meu quase-noivo, atendeu a porta pra mim e eu, tímida, não pude nem dar um beijinho, só na bochecha. Dirigiu-me até a sala de estar e lá estavam eles: Dona Edite e Seu Marcos, no sofá azul – que combina com a parede e com o resto da sala – esperando por mim. Os dois se levantaram e eu os cumprimentei, pedindo desculpas pelo meu sotaque gaúcho que poucos gostam. Por sorte, essa era uma família que se encaixava nos “poucos”. Ainda bem, que sorte!
Pediram para que eu botasse minha bolsa na mesinha de centro e nós quatro começamos a conversar, até que a empregada, Rosamaria-tudo-junto, nos chamou para o almoço. E adivinha o que era? Uma massa qualquer com MOLHO DE TOMATE. E vocês devem pensar: qual é o problema do MOLHO DE TOMATE? Simples. Eu sou alérgica a MOLHO DE TOMATE e tinha me esquecido de falar isso com o Caio. Sou burra. Como já disse, eu sempre estrago tudo, até porque, com a minha timidez insuportavelmente ridícula eu não consegui nem abrir a boca pra contar sobre a minha alergia, ou sequer forjar um espirrinho e uma coceirinnha. Sou realmente burra. Eu tinha que ter feito aquele curso de teatro que me ofereceram, que grande oportunidade! Mas isso não vem ao caso.
Durante o almoço, eu comecei a ficar meio inquieta, então a família me perguntou se eu estava bem. Respondi que sim, mas uns dois segundos depois, perguntei onde ficava o banheiro. Fui para a primeira porta à direita, entrando sem querer num quarto, acho que de hóspedes e fui chamada atenção: primeira porta à ESQUERDA. Lá fui eu. Cheguei ao banheiro, me sentindo mal, e sentei no vaso. Depois ainda vomitei. E fiquei um pouco vermelhinha depois disso. Caio bateu na porta me perguntando se eu estava bem e eu menti de novo, dizendo que sim. Deu para ver que ele estava preocupado. Mas sua preocupação não me preocupava naquela hora, não MESMO. Quando, finalmente, eu fui dar descarga, começou de verdade o meu problema. É, piorou, pois TUDO na minha vida piora.
A descarga era daquelas que, se você apertar uma vez, ela dispara. Só que eu não sabia disso, então fiquei apertando. Quando parei de apertar, ela disparou. E nada da descarga se acalmar. Quando eu vi, a água do vaso transbordava, mas transbordava mesmo! Uma coisa absurda e fedida que me fez ficar enjoada e fedida. Comecei a sentir a água aos meus pés, e já não tinha mais jeito. Eu não sabia o que fazer, então, para variar, eu fui covarde. Abri a porta do banheiro, saí correndo por sobre a água, peguei a minha bolsa na mesinha e fui embora sem dizer uma palavra, apenas vermelha: de alergia, de vergonha, de chorar, aos prantos (coisa típica minha). Eu não queria saber de nenhum dos três gritando e correndo atrás de mim, apenas abri a porta, saí correndo e depois a bati com toda a força. Eu tive força pelo menos nesse momento. A minha sorte foi que o elevador estava lá, foi a minha primeira sorte no dia.
Como era 16º andar, eu ainda tinha tempo dentro do elevador com cheiro forte de perfume misturado com cigarro. Foi aí que eu me lembrei que cigarro era a solução. Mas havia tempo que eu não fumava, então comecei a revistar a minha bolsa, até achar o bendito cigarrinho dentro de uma partezinha da bolsa. Pedi um isqueiro ao porteiro, saí correndo do prédio e peguei um táxi. – minha segunda sorte do dia foi pegar um táxi vazio logo que eu saí do prédio – Foi aí que o Caio começou a me ligar. E eu me recusava a atender, pelo menos por enquanto. Ele me ligou duzentas vezes, até que eu resolvi desligar o celular. Parei em um bar qualquer e comprei um maço de cigarros, eu não me aguentei. E isso de eu não me aguentar é uma droga completa. Cheguei ao meu prédio e subi os cinco andares de escada, só para poder fumar. Por favor, tentem não pegar esse vírus que é o cigarro. É serio, é horrível. Mesmo.
Entrei em casa e vi que a secretária eletrônica estava piscando. Resolvi não me acovardar e vi os quatro recados. Quatro recados do Caio pedindo que eu ligasse para ele. Eu me recusei. Fumei mais cinco cigarros e depois isolei o maço pela janela, junto com todos os meus isqueiros. Terceira sorte a minha de não ter acertado a cabeça de alguém. Comecei a tossir e, de novo, eu estava vermelha. Bebi água, escovei os dentes, tomei um banho de espuma demorado e tomei um chá de camomila para TENTAR me acalmar.
A campainha tocou e eu fui atender. “Quem é?” “É o João, porteiro. Mandaram entregar flores pra senhora.” Eu olhei pelo olho mágico e não vi um rosto, apenas rosas. Rosas cor-de-rosa, vermelhas, brancas, amarelas, lilás. Abri. As rosas se abaixaram e lá estava Caio. “Você está louco.” Quando eu ia fechando a porta, ele me impediu com o pé e entrou, deixando as flores em cima da mesa. “Você fumou, Duda.” “Afinal, Caio, o que você quer?” “Nossa, adivinha! Duda, por que você saiu correndo? A gente tem que conversar.” Nós nos sentamos no sofá e eu TIVE que me explicar para ele. “E agora, Caio, pode ir. Sei que você não quer mais saber de mim. Nunca mais. Acabou por aqui nossa história. Tchau.” “Ah, Maria Eduarda, não seja ridícula! Isso foi um incidente, não foi de propósito, porque eu te conheço. Você não disse nada sobre sua alergia e não quis dizer nada quando nós perguntamos se estava tudo bem. Mas mesmo assim, meus pais não estão TÃO chateados com você, já estão concertando nosso banheiro. E mesmo que estivessem, isso não ia influenciar nada na minha vida, porque eu amo você e logo hoje, logo HOJE, tinha que ter dado tudo errado! Droga!” “O que você quis dizer com isso, Caio?” “Vem cá que eu te mostro!
“Nisso, o louco do meu quase-noivo abriu a porta da minha casa, não trancou, e me levou, descalça, de blusão e moletom, para o terraço do meu prédio. O terraço é um lugar aberto, com uns jardins e uns brinquedos para crianças. Mas quando nós chegamos lá, estava todo iluminado com luzinhas de Natal, estava tocando uma música do nosso artista preferido e havia muitas rosas. Além de fotos nossas e cartinhas espalhadas pelo terraço e um violão encostado à parede. O violão dele. Era uma noite linda, cheia de estrelas no céu e uma lua que parecia com um queijo.
“Caio, o que é...” Eu fui interrompida “Duda, olha, não era para isso ser aqui, era para ser no almoço, isso foi improvisado, comprei tudo agora! As luzes, imagens e cartas eu peguei lá em casa, então se eu pudesse, eu faria melhor, eu juro! Eu sei que somos novos, e todas essas coisas, e que temos toda uma vida pela frente, e tal, mas essa vida que eu tenho pela frente eu quero viver com você. Isso é o que eu mais quero. Por isso, precisava fazer isso hoje, e agora, antes de meia-noite, porque hoje seria o dia do pedido de casamento que meu avô fez à minha avó. Acho que seria bem legal. E como ainda são onze horas, eu consegui arranjar um tempo e preparar tudo isso para fazer esse pedido: Maria Eduarda, você aceita se casar comigo?” Caio estava segurando um anel brilhante dentro de uma caixinha rosa choque. E esse anel era MEU.
#*¨&$%$%@@@%#¨%¨&(**¨&()%¨$!!! CA-RAM-BA! A QUARTA SORTE DO MEU DIA, E QUE SORTE! Por um momento, eu esqueci como se respirava e como se falava. Então fiquei muda. Quando percebi que estava prendendo o ar, eu o soltei, junto a um “Sim, Caio, mas que pergunta!” O meu noivo sorriu, colocou o anel em meu dedo e uma lágrima escorreu do rosto dele “Desculpe, não me aguentei.” “Caio, olhe para MIM!” Eu estava vermelha, aos prantos, tentando respirar normalmente, enquanto ele deixou ESCAPAREM lágrimas.
Quando percebi, estava ajoelhada, na frente do meu noivo, com seu lindo e choroso rosto em minhas mãos (e uma delas estava com um anel divino), beijando-o. Depois de ele perceber que eu estava sem fôlego, ele parou de me beijar, levantou-se, me deixando ridiculamente parada e tonta no chão, pegou o violão e sentou ao meu lado. Encostamos-nos em um dos canteiros e meu noivo começou a tocar pra mim. Era a nossa música. Eu deitei minha cabeça em seu ombro. Lembrei-me de minha casa aberta, mas logo me desliguei. Achei melhor e mais interessante me preocupar apenas em ficar aconchegada no ombro do homem da minha vida, em cantar e apreciar a lua.
Um comentário:
esse eu já li! muito booom! :)
Postar um comentário