Minha escola teve a grande ideia de, no terceiro ano, transformar os tradicionais testes discursivos ou objetivos em algo compacto e de múltipla escolha. Digamos que é um mini simulado do Enem. Após ser novamente esmagada pela matemática, como sou em qualquer simulado ou prova ou teste ou exercício, subi a Timóteo da Costa pensando em como poderia escrever (mais) um texto para desabafar sobre o vestibular e agregados. Inclusive, na parte de português e literatura, tinha um texto em que o autor dizia sobre este sistema louco – não, eu diria mais, insano – do vestibular brasileiro. Ele dizia que está cada vez mais difícil de alguém passar para áreas humanas ou artísticas, pois a pessoa que deseja cursar cinema – e eu estou aqui servindo de exemplo – precisa acertar uma questão em que pergunta-se algo absurdo de química orgânica, por exemplo. Sinceramente, esse tipo de coisa me tira do sério. Na boa, Brasil, eu quero cursar cinema, teatro ou história da arte. NÃO ME INTERESSO – e na teoria eu nem precisaria me interessar – em saber sobre molaridade ou fazer contas de estequiometria. Para vocês terem uma noção, até o meu Word acaba de sublinhar a palavra “molaridade” (e sublinhou de novo), pois ele também desconhece tal significado.
O Enem é uma tortura. É um teste de resistência que, se você ficar até o limite de tempo nos dois dias, ao todo você passa nove horas de um final de semana sentado em uma cadeira dura e desconfortável com pessoas fungando perto de você e gente abrindo plástico de batata frita Ruffles, que faz um barulho imenso na hora da prova. Eu não culpo essas pessoas, elas têm o direito de comer Ruffles durante o Enem. Mas já as que perdem o tempo ingerindo catarro, poderiam, no mínimo levar lencinhos de papel para assoar o nariz, ou quiçá um remedinho de nariz. Além de ser bastante nojento, é um incômodo. Para passar com uma nota boa em algum dos cursos que pretendo fazer (preferencialmente, cinema), eu preciso me dar bem nas 45 questões de matemática e nas 45 que englobam física, química e biologia. Coisas que eu nunca usarei na minha vida. Aos adultos que não trabalham nas áreas exatas, – e, em alguns casos, até os que trabalham – eu vos pergunto: vocês sabem o que é mol? Qual o volume molar nas CNTP? E a fórmula de velocidade média? Sabem qual é a fórmula de dilatação? E de P.A.? P.G.? Pitágoras? Sabem fazer contas com logaritmos? E trigonometria, qual é a lei dos senos? E dos cossenos? É LÓGICO QUE VOCÊS NÃO SABEM. Porque isso é COMPLETAMENTE inútil para vocês.
Nós aprendemos coisas que simplesmente iremos esquecer e teremos o enorme prazer de esquecê-las. Eu, pelo menos, terei. Que não me julguem mal, – na verdade, que me julguem como quiserem – mas eu estudo para passar de ano. E para passar no Enem. Depois, vou deletar da minha cabeça todas as fórmulas e nomes de química, física e matemática. Não gosto dessas matérias. Odeio essas matérias. E elas não gostam de mim. E quanto à matemática, desde que enfiaram uma letrinha no meio, ela já é meu pesadelo. Para mim, é muito simples: letra é letra e número e número. É isso e eles não se misturam. O meu problema com a matemática é sério e é por isso que sofro com as outras exatas, porque elas se misturam com a matemática. E que me julguem pelo meu bloqueio mental, eu não estou dando a mínima. E minha dificuldade é séria, papo de 2 sobre 20 no primeiro teste de álgebra do primeiro ano; papo de 4 em 20 numa prova de geometria do segundo ano... e eu falo mesmo, já passou, não tenho vergonha de assumir que matemática é o meu podre. É mais do que meu podre, são todos os fungos juntos em um bolo só.
Perdemos tempo de nossas vidas estudando o que não iremos estudar ou precisar nunca, em vez de nos aprofundarmos no que nos vai nos servir em nossas carreiras. A partir de certo momento da vida, já sabemos bem o que não gostamos e o que gostamos, então deveríamos ter o direito de escolher as matérias que aprenderíamos. Fora isso, apenas o essencial da matemática, da física, da química, do português... todas as matérias são importantes, mas até certo ponto. A minha indignação com as exatas é a mesma que um futuro engenheiro químico – ou outra profissão qualquer – deve ter ao aprender a classificar orações. Ô coisa mais inútil! Eu fico realmente indignada. Acho um absurdo mesmo.
Onde está a democracia, a liberdade de expressão? Está na prova em que passo nove horas fazendo? Está na dissertação argumentativa que sou obrigada a fazer, sem direito de escolher o tema e sem direito de falar em primeira pessoa do singular? Está na matéria que aprendo só para me estressar e para me fazer perder férias estudando para recuperação? E além de tudo, me sinto culpada. Enquanto estou aqui reclamando, há milhares de jovens e adultos que gostariam de ter a educação que recebo em minha escola, mas isso já é outro papo. A minha indignação deste momento serve para eles também, serve para todos os que prestaram ou prestarão vestibular. Eu gostaria mesmo que isso mudasse, gostaria de verdade, mas, infelizmente, não há nada que eu possa fazer. O melhor mesmo é parar de reclamar, me dedicar e pensar: agora só falta um ano...
Marina Martins
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