segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Chega uma hora




Eu quando aprendi a andar.


Chega uma hora na vida em que você tem que aceitar que estar crescendo. E isso não ocorre porque você já se formou, está matriculado em uma faculdade ou está mais ou menos perto de fazer dezoito anos. Acontece quando você toma coragem em fazer uma limpa radical no seu quarto, que você está planejando mudar, e se depara com memórias gostosas da sua infância, sua pré-adolescência.



Já é a quinta vez em minha vida que eu mudo um quarto. Primeiro, foi da minha primeira casa na Barra (que eu não me lembro, pois saí de lá com menos de um ano) para a casa no Leblon. Depois, o quarto de bebê na Visconde de Albuquerque mudou para quarto de criança. A terceira mudança de quarto foi quando eu me mudei de casa novamente, dessa vez pro Alto Leblon. A quarta mudança foi quando eu percebi que meu quarto estava ultrapassado e eu precisava de um quarto de “mocinha”. Agora estou planejando a quinta mudança; talvez a mocinha esteja precisando de um quarto de – que medo de usar essa palavra – adulta. A cama de casal já tem, mas faltam algumas coisas ainda... então hoje eu resolvi fazer uma limpa em meus livros e, como minha mãe pediu, tirar os trambolhos que estão na parte de cima do armário.



Depois de separar sete sacolas de livros – que serão destinadas a um orfanato, pessoas que tiveram suas casas prejudicadas em Xerém, minha prima e minha sobrinha – resolvo abrir a primeira porta de armário. Já na arrumação de livros me emocionei ao lembrar de tantos momentos bons vividos em épocas tão gostosas e diferentes da minha vida. E é claro que de certos livros eu simplesmente não consigo me desfazer. Ou eles marcaram demais, ou serão repassados aos meus filhos quando eu fizer uma nova limpeza de livros, daqui a uns dez anos. Enfim, na primeira porta que abro encontro duas sacolas e nelas estão os meus bichinhos de pelúcia. Aqueles bichinhos que moravam na minha cama, depois passaram a uma prateleira e agora estão em sacolas. Lembrei que eles ainda estão aqui porque não tive coragem de doá-los. Mas hoje, depois de chorar e me emocionar, separei as sacolas de bichinhos (todos com nomes, e eu lembro de todos). Eles estão junto com os livros que serão doados.



Então, um dia chega uma hora em que você vê que realmente cresceu: você não precisa mais de livrinhos de criança e também não quer mais aqueles tantos bichinhos de pelúcia, pois eles só estão empoeirando seu quarto. Hoje você tem o seu namorado para dormir junto, não precisa mais de tantos bichos (exceto alguns poucos que você jamais vai se desfazer). Chega uma hora em que você se despede da infância de vez e ela não passará de lembranças deliciosas por entre livros guardados, fotos e, eternamente, por sua memória.

Marina Martins

Nenhum comentário: