Eu quando aprendi a andar.
Chega uma hora na vida em
que você tem que aceitar que estar crescendo. E isso não ocorre porque você já se
formou, está matriculado em uma faculdade ou está mais ou menos perto de fazer
dezoito anos. Acontece quando você toma coragem em fazer uma limpa radical no
seu quarto, que você está planejando mudar, e se depara com memórias gostosas
da sua infância, sua pré-adolescência.
Já é a quinta vez em minha
vida que eu mudo um quarto. Primeiro, foi da minha primeira casa na Barra (que
eu não me lembro, pois saí de lá com menos de um ano) para a casa no Leblon.
Depois, o quarto de bebê na Visconde de Albuquerque mudou para quarto de
criança. A terceira mudança de quarto foi quando eu me mudei de casa novamente,
dessa vez pro Alto Leblon. A quarta mudança foi quando eu percebi que meu
quarto estava ultrapassado e eu precisava de um quarto de “mocinha”. Agora estou
planejando a quinta mudança; talvez a mocinha esteja precisando de um quarto de
– que medo de usar essa palavra – adulta. A cama de casal já tem, mas faltam
algumas coisas ainda... então hoje eu resolvi fazer uma limpa em meus livros e,
como minha mãe pediu, tirar os trambolhos que estão na parte de cima do
armário.
Depois de separar sete
sacolas de livros – que serão destinadas a um orfanato, pessoas que tiveram
suas casas prejudicadas em Xerém, minha prima e minha sobrinha – resolvo abrir
a primeira porta de armário. Já na arrumação de livros me emocionei ao lembrar
de tantos momentos bons vividos em épocas tão gostosas e diferentes da minha
vida. E é claro que de certos livros eu simplesmente não consigo me desfazer. Ou
eles marcaram demais, ou serão repassados aos meus filhos quando eu fizer uma
nova limpeza de livros, daqui a uns dez anos. Enfim, na primeira porta que abro
encontro duas sacolas e nelas estão os meus bichinhos de pelúcia. Aqueles bichinhos
que moravam na minha cama, depois passaram a uma prateleira e agora estão em
sacolas. Lembrei que eles ainda estão aqui porque não tive coragem de doá-los. Mas
hoje, depois de chorar e me emocionar, separei as sacolas de bichinhos (todos
com nomes, e eu lembro de todos). Eles estão junto com os livros que serão doados.
Então, um dia chega uma
hora em que você vê que realmente cresceu: você não precisa mais de livrinhos
de criança e também não quer mais aqueles tantos bichinhos de pelúcia, pois
eles só estão empoeirando seu quarto. Hoje você tem o seu namorado para dormir
junto, não precisa mais de tantos bichos (exceto alguns poucos que você jamais
vai se desfazer). Chega uma hora em que você se despede da infância de vez e
ela não passará de lembranças deliciosas por entre livros guardados, fotos e,
eternamente, por sua memória.
Marina Martins
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