terça-feira, 1 de julho de 2014

Sozinha

Quando você é uma pessoa medrosa (por medrosa, digo daquilo que a sociedade te considera como medrosa), os minutos se transformam em longas horas de dor de barriga e corpo dormente. É que quando eu fico nervosa, a minha barriga dói e, dependendo do nível, eu me tremo inteira. E posso até chorar. Mas também posso ter um ataque de risos.
Enfim, fui jantar no bairro de Saint Michel. Eram 22:30 e precisava voltar para casa. Para isso, tinha que pegar uma linha e depois trocar para outra. Não, eu não tenho medo de metrô. Mas eu detesto metrô cheio e simplesmente não pego metrô em hora do rush, porque é impossível para mim. Bem, peguei o metrô (vazio) em St. Michel, sentei e estava tudo direitinho. De repente, a luz do MEU vagão – logo de quem – apagou. “Calma, Marina, isso não quer dizer nada”. Aí o trem freia absurdamente, teve gente que quase caiu, e para. Simplesmente para. Nisso, a voz anuncia “Cité”, como se estivéssemos chegado na próxima estação. Só que estávamos parados no meio do trilho. Peguei meu celular e já fui mandando mensagem pra minha mãe: “pqp, meu metrô parou”. Eu achava que estava bem e controlada, quando fui ler a resposta dela. Simplesmente não via o celular, porque meu olho estava preto. As mãos tremiam. Dei uma piscada, pensei que não podia passar mal ali, e li a mensagem: “segura a onda”. Vi que a galera estava bem tranquila e só fiquei pensando “se essa porra escangalhar agora, tudo bem, só quero que abram esta merda de porta pra gente sair pelos trilhos”. Acabou que o trem andou. Esse desespero todo durou menos de cinco minutos. Mas nesse curtíssimo tempo, eu já tinha pensado em tudo, até em cutucar o cara do lado e avisar “moço, não to enxergando nada. Se eu desmaiar aqui, me ajuda”. Mas deu tudo certo. E eu cheguei à conclusão de que o motorista era novo, porque nunca vi dirigi tão mal um metrô.
Muitas freadas (não tão bruscas) depois, cheguei à estação que precisava saltar para trocar de linha. Lá estava eu, morrendo de medo, porque não era uma área muito agradável. E como já era mais tarde, o intervalo entre os trens já estava maior, então tive que esperar muito tempo. Muito = menos de dez minutos. Mas foi muito. Quando chega o metrô, ele está lotado, claro. Normalmente, eu não entraria. Mas, como falei, já estava mais tarde, eu estava sozinha, então fui na fé. Me instalei ali na porta e dali não saía nem empurrada. Respirei fundo e me tranquilizei. Fiquei só três estações apertadinha, então deu tudo certo. Saí do trem nervosa, no ipod tocava Beirut. Comecei a chorar. Mas era de emoção. Tocava uma música linda e eu estava orgulhosa de ter sobrevivido a esses minutos de sufoco.

Tudo o que falei pode parecer ridículo para muitas pessoas, e eu sei que parece. Na verdade, só me entende quem se sente igual a mim. Para muitas pessoas, sou uma garota medrosa e completamente neurótica. Pensem o que quiser. Saí aliviada na Blanche, cheia de lágrimas nos olhos, e vi o Moulin Rouge aceso. Ah, que lindo! Enxuguei as lágrimas e tirei uma foto. De repente, começou a tocar Fuck You no meu ipod. Achei perfeito! Andei um pouco e resolvi cantar bem alto, ninguém ali ia me ver de novo mesmo. Mandei um fuck you mental para várias coisas e pessoas e cheguei bem. Subi as escadas me perguntando se as pessoas riem dos meus medos ou gostariam de ter a coragem que tenho. Afinal, o que é ser medrosa? Tudo tem dois lados.

Marina Martins, mandando um fuck you pra quem me achar uma doida ao ler esse texto.

Nenhum comentário: