Quando você é uma pessoa medrosa (por medrosa, digo daquilo
que a sociedade te considera como medrosa), os minutos se transformam em longas
horas de dor de barriga e corpo dormente. É que quando eu fico nervosa, a minha
barriga dói e, dependendo do nível, eu me tremo inteira. E posso até chorar. Mas
também posso ter um ataque de risos.
Enfim, fui jantar no bairro de Saint Michel. Eram 22:30
e precisava voltar para casa. Para isso, tinha que pegar uma linha e depois
trocar para outra. Não, eu não tenho medo de metrô. Mas eu detesto metrô cheio
e simplesmente não pego metrô em hora do rush, porque é impossível para mim. Bem,
peguei o metrô (vazio) em St. Michel, sentei e estava tudo direitinho. De repente,
a luz do MEU vagão – logo de quem – apagou. “Calma, Marina, isso não quer dizer
nada”. Aí o trem freia absurdamente, teve gente que quase caiu, e para. Simplesmente
para. Nisso, a voz anuncia “Cité”, como se estivéssemos chegado na próxima estação.
Só que estávamos parados no meio do trilho. Peguei meu celular e já fui
mandando mensagem pra minha mãe: “pqp, meu metrô parou”. Eu achava que estava
bem e controlada, quando fui ler a resposta dela. Simplesmente não via o
celular, porque meu olho estava preto. As mãos tremiam. Dei uma piscada, pensei
que não podia passar mal ali, e li a mensagem: “segura a onda”. Vi que a galera
estava bem tranquila e só fiquei pensando “se essa porra escangalhar agora,
tudo bem, só quero que abram esta merda de porta pra gente sair pelos trilhos”.
Acabou que o trem andou. Esse desespero todo durou menos de cinco minutos. Mas nesse
curtíssimo tempo, eu já tinha pensado em tudo, até em cutucar o cara do lado e
avisar “moço, não to enxergando nada. Se eu desmaiar aqui, me ajuda”. Mas deu
tudo certo. E eu cheguei à conclusão de que o motorista era novo, porque nunca
vi dirigi tão mal um metrô.
Muitas freadas (não tão bruscas) depois, cheguei à
estação que precisava saltar para trocar de linha. Lá estava eu, morrendo de
medo, porque não era uma área muito agradável. E como já era mais tarde, o
intervalo entre os trens já estava maior, então tive que esperar muito tempo. Muito
= menos de dez minutos. Mas foi muito. Quando chega o metrô, ele está lotado,
claro. Normalmente, eu não entraria. Mas, como falei, já estava mais tarde, eu
estava sozinha, então fui na fé. Me instalei ali na porta e dali não saía nem
empurrada. Respirei fundo e me tranquilizei. Fiquei só três estações
apertadinha, então deu tudo certo. Saí do trem nervosa, no ipod tocava Beirut. Comecei
a chorar. Mas era de emoção. Tocava uma música linda e eu estava orgulhosa de
ter sobrevivido a esses minutos de sufoco.
Tudo o que falei pode parecer ridículo para muitas
pessoas, e eu sei que parece. Na verdade, só me entende quem se sente igual a
mim. Para muitas pessoas, sou uma garota medrosa e completamente neurótica. Pensem
o que quiser. Saí aliviada na Blanche, cheia de lágrimas nos olhos, e vi o
Moulin Rouge aceso. Ah, que lindo! Enxuguei as lágrimas e tirei uma foto. De repente,
começou a tocar Fuck You no meu ipod. Achei perfeito! Andei um pouco e resolvi
cantar bem alto, ninguém ali ia me ver de novo mesmo. Mandei um fuck you mental
para várias coisas e pessoas e cheguei bem. Subi as escadas me perguntando se
as pessoas riem dos meus medos ou gostariam de ter a coragem que tenho. Afinal,
o que é ser medrosa? Tudo tem dois lados.
Marina Martins, mandando um fuck you pra quem me achar uma doida ao ler esse texto.
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