Depois me vêm com a desculpa de que “foi só
brincadeira”. Depois me vêm com a justificativa de que foi culpa do álcool. Depois
me vêm com o papo de que humor não deve ter limites. Depois me vêm com o papo
de que sou exagerada. Depois me vêm com o papo de que não tenho senso de humor
suficiente. Inacreditável. Não consigo explicar se o que estou sentindo no
momento é ódio, raiva, pena, tristeza, vergonha, ou uma mistura de todos esses
sentimentos e mais algum que ainda desconheça.
“Bandido bom é
bandido morto.”, “As mulheres ficam vestidas de vadias, como não serão
estupradas?”, “Foi só uma brincadeira.”. Querendo, sim, ser radical, comparo
todas essas frases ao fato do humor sem limites. Até que ponto as brincadeiras
são apenas brincadeiras, até que ponto se pensa no que se diz e se pensa nos
outros? O problema das pessoas é pensar demais nelas mesmas, pensar nas
consequências que as coisas têm apenas para elas. Ou nem isso. Se fosse assim,
pelo menos elas seriam mais cuidadosas. Não compreendo as piadas ofensivas e as
brincadeiras violentas. Não vejo graça. Fico extremamente chateada quando as
pessoas veem graça.
E a hipocrisia em dizer que não é preconceituoso e
machista? E a hipocrisia em dizer que quer a igualdade, que quer lutar pelos
direitos de um cidadão? E a hipocrisia de dizer que não quer jovens bêbados e
abrir sua casa para fornecer uma grande quantidade de bebida a eles? E a
hipocrisia que dizer que é contra a corrupção e etc, mas comprar maconha pra
aparecer fumando na frente dos outros? Que lutem pela legalidade, que lutem pela
legalização, e nessas lutas eu me incluo. Mas que não lutem com os outros. Que lutem
contra si mesmos, contra o que desperta violência e ódio dentro de si, mesmo
que passe apenas de uma “brincadeira”. Que olhem nos olhos de quem sofre, sinta
o sofrimento da pessoa e batalhe para conseguir mudar o mundo. Mesmo que uma
pequena parte dele, nem que seja sua própria casa. Mas que não fale coisas da
boca pra fora e que não cometa sérias hipocrisias. Que pensem antes do que vão
brincar, zoar, fazer piada. Machismo não é piada. Preconceito não é sacanagem. Bullying
não é zoação. Vandalismo não é brincadeira.
De que se vale a consciência com a situação nacional e
o meio ambiente, se o que fazem é exatamente o contrário? De que se vale falar
em direitos humanos se não se cumprem os deveres? Não é divertido ofender o
próximo, nem com os mínimos comentários ou atos engraçadinhos. Realmente gostaria
que o que eu digo fizesse alguma diferença às pessoas. Gostaria que cada babaca
e cada filho da puta repensasse no que faz em casa e no que diz na rua. Ou no
que diz em casa e faz na rua. Ou em qualquer outro lugar. Queria ser alguém que
faz alguma diferença e que fizesse a cabeça de alguns, mas fazer a cabeça de
forma boa e correta.
Não estou dizendo que sou alguém completamente correta,
senão eu seria hipócrita. Não estou dizendo que não sou hipócrita, acho que de
hipocrisia todos nós temos um pouco. Mas procuro ser a pessoa mais correta
possível, que fale e faça coisas boas. E sei que não falo ou faço nada para me
mostrar para os outros, não preciso disso. Não preciso que me deem a opinião do
que pensam sobre mim, a não ser que seja algo construtivo. Penso bastante em
mim, mas penso muito nos outros; cada vez procuro pensar mais em nós. E fico
apenas com a frase que me conforta todos os dias e noites: ainda existem
pessoas boas no mundo.
Marina Martins
Um comentário:
fodaaaaaa!!!!! beijos lele
Realmente gostaria que o que eu digo fizesse alguma diferença às pessoas. Gostaria que cada babaca e cada filho da puta repensasse no que faz em casa e no que diz na rua. Ou no que diz em casa e faz na rua. Ou em qualquer outro lugar. Queria ser alguém que faz alguma diferença e que fizesse a cabeça de alguns, mas fazer a cabeça de forma boa e correta.
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