quinta-feira, 12 de julho de 2012

No limite do "sem limites"


Achei este texto que escrevi em abril desse ano, enquanto procurava um outro pelo computador. Resolvi postar porque tem um pouco a ver com o texto que se encontra logo abaixo desse, "Das indignações". É mais um desabafo, mas um desabafo válido, pelo menos para mim. Fiz apenas algumas exclusões de parágrafos, porque não achei necessário colocá-los no blog.

É engraçado o fato de alguns apresentarem e considerarem o humor como algo sem limites. A minha pergunta é: até que ponto vai o limite do humor? Até que ponto o humor deve ser aturado, sem que o mesmo ofenda as pessoas, principalmente minorias ou grupos que já têm um histórico de preconceitos? Ou até mesmo piadas ofensivas que não utilizem o preconceito como meio de despertar o riso nos outros. A impressão que tenho é a de que a pessoa que faz a piada nem sempre procura a diversão, mas se utiliza dela para ofender os outros e utilizar como desculpa “Nossa, foi brincadeira, eu tava brincando! Você não tem senso de humor, não?”. Não estou generalizando, mas acredito, sim, que isso possa acontecer. Também tem a típica “verdade na cara”, em que a pessoa diz tudo o que pensa e, se acaba ofendendo alguém, usa a desculpa da brincadeirinha. Muitas vezes o feitor da piada utiliza defeitos de alguém e acaba brincando com algo que a pessoa detesta em si mesma. Se isso ocorre inocentemente, sem problemas. Mas muitos (e muitos mesmo) têm a malícia de provocar alguém.
Sinceramente, muitas vezes o meu senso de humor não é tão aguçado assim. Quem me conhece sabe, e sabe muito bem, que eu tenho um ótimo senso de humor, que sou irônica e falo muita bobagem, mas que ele tem limites. Eu geralmente não vejo graça em piadas machistas, racistas ou preconceituosas. Não que eu me ofenda sempre, isso não é verdade. É que eu não vejo graça mesmo. Acontece que esse tal de “humor sem limites” já passou dos limites e muitas piadinhas acabam se tornando (um tanto) ofensivas. Que falem o que quiser do meu senso de humor, mas não acho certas piadas más sobre holocausto, negros, pobres, gays ou mulheres. Como já falei, o problema não está na piada inocente, na efetiva “brincadeirinha” ou na verdadeira “zoação”. O problema está nas piadas que procuram tocar, mesmo que subliminarmente, em pontos fracos de outra pessoa ou de outros grupos.
(...)
Eu reforço mais uma vez o que já falei: eu não estou tratando de brincadeirinhas e zoações bobas. Essas, eu escuto e apenas ignoro ou olho com olhar de reprovação (fazer o que? É maior que eu!). Para mim, humor tem limite e se passa do limite, vira ofensa muitas vezes. E o que mais me irrita é que as pessoas que fazem essas piadas ofensivas, ou concordam com elas, são as que não estão incluídas no grupo das que sofrem preconceitos. No caso do machismo, os homens acabam perdendo a linha, escrevendo ou falando coisas absurdas, pois eles não são e não entendem as mulheres. Nós sofremos com o machismo desde que Deus é homem. Deus é homem, os papas e bispos e sacerdotes são homens. Até pouco tempo, os presidentes eram sempre homens. Os monarcas, majoritariamente, eram homens.
(...)
Sem essa de piadas ofensivas, sem essa de humor sem limites, sem essa de falar que eu não tenho capacidade ou senso de humor suficientes para aceitar piadas machistas ridículas. Ah! E só mais uma coisinha: machismo é crime, feminismo é uma atuação. E se me perguntam se eu sou feminista, é claro que sou! Eu tenho que ser! Eu tenho boca pra falar e corpo pra agir. Se algum dia tivermos que queimar sutiãs, vou ser uma das primeiras a tacar fogo no meu. Sou mulher e, acima de tudo, mulher com opinião, atitude e gênio forte, não sou uma boneca inflável.

 Marina Martins

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