Achei este texto que escrevi em abril desse ano, enquanto procurava um outro pelo computador. Resolvi postar porque tem um pouco a ver com o texto que se encontra logo abaixo desse, "Das indignações". É mais um desabafo, mas um desabafo válido, pelo menos para mim. Fiz apenas algumas exclusões de parágrafos, porque não achei necessário colocá-los no blog.
É engraçado o fato de alguns apresentarem e
considerarem o humor como algo sem limites. A minha pergunta é: até que ponto
vai o limite do humor? Até que ponto o humor deve ser aturado, sem que o mesmo
ofenda as pessoas, principalmente minorias ou grupos que já têm um histórico de
preconceitos? Ou até mesmo piadas ofensivas que não utilizem o preconceito como
meio de despertar o riso nos outros. A impressão que tenho é a de que a pessoa
que faz a piada nem sempre procura a diversão, mas se utiliza dela para ofender
os outros e utilizar como desculpa “Nossa, foi brincadeira, eu tava brincando!
Você não tem senso de humor, não?”. Não estou generalizando, mas acredito, sim,
que isso possa acontecer. Também tem a típica “verdade na cara”, em que a
pessoa diz tudo o que pensa e, se acaba ofendendo alguém, usa a desculpa da
brincadeirinha. Muitas vezes o feitor da piada utiliza defeitos de alguém e
acaba brincando com algo que a pessoa detesta em si mesma. Se isso ocorre
inocentemente, sem problemas. Mas muitos (e muitos mesmo) têm a malícia de
provocar alguém.
Sinceramente, muitas vezes o meu senso de humor não é
tão aguçado assim. Quem me conhece sabe, e sabe muito bem, que eu tenho um
ótimo senso de humor, que sou irônica e falo muita bobagem, mas que ele tem
limites. Eu geralmente não vejo graça em piadas machistas, racistas ou
preconceituosas. Não que eu me ofenda sempre, isso não é verdade. É que eu não
vejo graça mesmo. Acontece que esse tal de “humor sem limites” já passou dos
limites e muitas piadinhas acabam se tornando (um tanto) ofensivas. Que falem o
que quiser do meu senso de humor, mas não acho certas piadas más sobre
holocausto, negros, pobres, gays ou mulheres. Como já falei, o problema não
está na piada inocente, na efetiva “brincadeirinha” ou na verdadeira “zoação”.
O problema está nas piadas que procuram tocar, mesmo que subliminarmente, em
pontos fracos de outra pessoa ou de outros grupos.
(...)
Eu reforço mais uma vez o que já falei: eu não estou
tratando de brincadeirinhas e zoações bobas. Essas, eu escuto e apenas ignoro
ou olho com olhar de reprovação (fazer o que? É maior que eu!). Para mim, humor
tem limite e se passa do limite, vira ofensa muitas vezes. E o que mais me
irrita é que as pessoas que fazem essas piadas ofensivas, ou concordam com
elas, são as que não estão incluídas no grupo das que sofrem preconceitos. No
caso do machismo, os homens acabam perdendo a linha, escrevendo ou falando
coisas absurdas, pois eles não são e não entendem as mulheres. Nós sofremos com
o machismo desde que Deus é homem. Deus é homem, os papas e bispos e sacerdotes
são homens. Até pouco tempo, os presidentes eram sempre homens. Os monarcas,
majoritariamente, eram homens.
(...)
Sem essa de piadas ofensivas, sem essa de humor sem
limites, sem essa de falar que eu não tenho capacidade ou senso de humor
suficientes para aceitar piadas machistas ridículas. Ah! E só mais uma
coisinha: machismo é crime, feminismo é uma atuação. E se me perguntam se eu
sou feminista, é claro que sou! Eu tenho que ser! Eu tenho boca pra falar e
corpo pra agir. Se algum dia tivermos que queimar sutiãs, vou ser uma das
primeiras a tacar fogo no meu. Sou mulher e, acima de tudo, mulher com opinião,
atitude e gênio forte, não sou uma boneca inflável.
Marina Martins
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