Enquanto uma das mãos
segurava o biscoito, – preto como suas unhas – a outra, aflita, procurava no
lixo o desperdício dos outros. Dos que pagaram pela comida e abandonaram as “sobras”.
Não teve sucesso. Já na lata seguinte, encontrou algo que pudesse saciar parte
da fome que diariamente sente. E lá está ele, andando pela Ataulfo de Paiva com
suas roupas sujas e rasgadas e seu chinelo arrastando pelo chão, uma das mãos
segurando um frapuccino do Starbucks. Irônica essa fome estrangeirizada. Enquanto
isso, eu lembrava que também sentia fome, mas que quando saltasse do ônibus ela
se resolveria com o pão de batata que me despertava desejo. E ele, tem fome de
que? De um biscoito, restos de Starbucks, fome de “lixo”. A lágrima salgada
atiçou meu paladar.
Marina Martins
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