quarta-feira, 11 de julho de 2012

A fome


Enquanto uma das mãos segurava o biscoito, – preto como suas unhas – a outra, aflita, procurava no lixo o desperdício dos outros. Dos que pagaram pela comida e abandonaram as “sobras”. Não teve sucesso. Já na lata seguinte, encontrou algo que pudesse saciar parte da fome que diariamente sente. E lá está ele, andando pela Ataulfo de Paiva com suas roupas sujas e rasgadas e seu chinelo arrastando pelo chão, uma das mãos segurando um frapuccino do Starbucks. Irônica essa fome estrangeirizada. Enquanto isso, eu lembrava que também sentia fome, mas que quando saltasse do ônibus ela se resolveria com o pão de batata que me despertava desejo. E ele, tem fome de que? De um biscoito, restos de Starbucks, fome de “lixo”. A lágrima salgada atiçou meu paladar.

Marina Martins

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