segunda-feira, 8 de maio de 2017

Oito de maio


“Amor, então,
também acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima”

Paulo Leminski



Hoje é oito de maio. Se estivéssemos em qualquer outro ano há seis anos, eu estaria postando uma foto nossa e um texto pra você. Mas não sei como agir nessas situações, porque é a primeira vez que vivencio isso tudo. Esse ano está cheio de primeiras vezes. E essa é mais uma primeira vez com você. Só que sem você. Não sei se cabe fazer isso. A foto. O texto cabe porque texto sempre cabe, mesmo quando não cabe. A vocês todos que estão lendo isso nesse momento, saibam: se algum dia vocês forem alvos da paixão e/ou do amor de alguém que escreve, preparem-se para terem alguns poemas e prosas dedicados a vocês. Mesmo que vocês talvez nunca cheguem a lê-los. Alguns são imostráveis, outros impublicáveis. Alguns a gente mostra e publica mesmo se achando loucos por isso. Imagens e palavras imortalizam sentimentos. Talvez por isso eu seja tão obcecada por escrever, filmar e fotografar a vida. Isso tudo me faz lembrar. E me faz viver, reviver, me liberar de sentimentos e pensamentos. Hoje é oito de maio e eu só quero ficar feliz porque eu respeito os encontros e os momentos. Porque um erro de nós seres humanos é achar que pertencemos a outros seres humanos, quando na verdade pertencemos a momentos. Nós não somos de ninguém, nós somos sozinhos, e se estamos com alguém, é porque queremos estar – pelo menos deveria ser assim. E estar com, mas não ser de. Porque essa obsessão pelo pertencimento a pessoas nos torna seres paranoicos, enquanto que a noção de se pertencer a um momento nos torna apenas apegados. E ó, tudo bem ser apegado, ta? Dane-se se, hoje em dia, ouvimos cada vez mais que apego é sinônimo de ser trouxa. Sim, muitas vezes é, mas nem sempre. Eu sou apegada a pessoas, mas também a coisas e momentos. E se tem apego, é porque tem carinho. Apego não é posse, é só isso que a gente deveria entender. Entender que pertencemos a momentos é entender que estamos, não somos. Porque tudo muda o tempo todo. É entender o momento e o tempo do outro e respeitar isso, mas com a responsabilidade de não machucar a outra pessoa. Porque cada um tem seu tempo, cada um tem sua vida, cada um faz o que quer. Basta fazer o que quer, mas sem pensar somente em si. Se eu me apego às pessoas, às coisas e aos momentos, é porque tem algo nele que me completa de alguma forma. E se falta, um pouquinho de mim também falta. Isso não é ser possessiva, porque entendo que a falta faz parte. Isso é só saudade. Saudade também faz parte. Sentir faz parte. Eu me permito sentir. Me permito ficar chateada, ser trouxa, chorar, sorrir, correr atrás, sofrer. Entender que pertencemos a momentos é também se permitir sentir. E é também entender que nem toda relação termina. Tem relação que só muda. A vida é feita de encontros e desencontros, acasos e programações. Momentos. Às vezes, eles nos levam a caminhos distintos. E tudo bem. Tudo bem se isso te fizer sofrer. Pode sofrer. Mas também pode sorrir. Vai, pode sentir. Entender que pertencemos a momentos. Permitir-nos a sentir. Entender que as relações mudam e que isso não é necessariamente ruim. Enfrentar isso. Esses são alguns desejos meus. Também podem brotar flores de uma relação que mudou. Um casal que separou não necessariamente se odeia. Ser “ex” não é necessariamente ruim. Nem toda lembrança dói. Ser casal separado que se ama é respeitar momentos. Sabe o apego? Olha ele aí. O apego bom é aquele que existe para se respeitar, se gostar, se amar, continuar a falar, mesmo quando a vida muda. Porque eu não sou apegada à sua presença e sim à sua pessoa. A sua pessoa é maravilhosa e me fez mais maravilhosa. Meu apego a você não é pensar o que você faz na minha ausência, com quem você está, se você pensa em mim. É sentir falta pra caramba da sua amizade, do seu abraço, de rir com você, te ter do meu lado quando quero chorar. Eu sou apegada a tudo o que você me ensinou e a todos os momentos que já tivemos. Tenho apego à sua felicidade. Sou apegada a você e você não precisa ser meu para isso. Você é seu e pode estar com quem quiser. Hoje é oito de maio. Talvez não estejamos comemorando seis anos de namoro (tudo muda o tempo todo), mas estou comemorando seis anos de crescimento. Hoje é oito de maio e eu só quero que você seja e esteja feliz. Eu sou apegada ao oito de maio porque ele me fez muito feliz. E eu já disse que sou apegada à felicidade. Hoje é oito de maio e estou fazendo mais um texto. E mais um pra você. Hoje é oito de maio, mas como eu não posso te abraçar, eu só fecho meus olhos e penso no sorriso que espero estar estampado em seu rosto. Porque o amor não acabou. Foi só a vida que mudou. Hoje é oito de maio e estou sorrindo e chorando. Deixo o sorriso se instalar e as lágrimas escorrerem. Permito-me. Hoje é oito de maio, você se mudou, você mudou, eu mudei, a gente mudou e faz seis anos que eu amo você. E pra mim não importa como, só importa que.

Marina N. Martins

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