“Amor, então,
também acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima”
Paulo Leminski
Hoje
é oito de maio. Se estivéssemos em qualquer outro ano há seis anos, eu estaria
postando uma foto nossa e um texto pra você. Mas não sei como agir nessas
situações, porque é a primeira vez que vivencio isso tudo. Esse ano está cheio
de primeiras vezes. E essa é mais uma primeira vez com você. Só que sem você.
Não sei se cabe fazer isso. A foto. O texto cabe porque texto sempre cabe,
mesmo quando não cabe. A vocês todos que estão lendo isso nesse momento,
saibam: se algum dia vocês forem alvos da paixão e/ou do amor de alguém que
escreve, preparem-se para terem alguns poemas e prosas dedicados a vocês. Mesmo
que vocês talvez nunca cheguem a lê-los. Alguns são imostráveis, outros
impublicáveis. Alguns a gente mostra e publica mesmo se achando loucos por isso.
Imagens e palavras imortalizam sentimentos. Talvez por isso eu seja tão
obcecada por escrever, filmar e fotografar a vida. Isso tudo me faz lembrar. E
me faz viver, reviver, me liberar de sentimentos e pensamentos. Hoje é oito de
maio e eu só quero ficar feliz porque eu respeito os encontros e os momentos.
Porque um erro de nós seres humanos é achar que pertencemos a outros seres
humanos, quando na verdade pertencemos a momentos. Nós não somos de ninguém,
nós somos sozinhos, e se estamos com alguém, é porque queremos estar – pelo
menos deveria ser assim. E estar com,
mas não ser de. Porque essa obsessão
pelo pertencimento a pessoas nos torna seres paranoicos, enquanto que a noção
de se pertencer a um momento nos torna apenas apegados. E ó, tudo bem ser apegado,
ta? Dane-se se, hoje em dia, ouvimos cada vez mais que apego é sinônimo de ser
trouxa. Sim, muitas vezes é, mas nem sempre. Eu sou apegada a pessoas, mas
também a coisas e momentos. E se tem apego, é porque tem carinho. Apego não é
posse, é só isso que a gente deveria entender. Entender que pertencemos a
momentos é entender que estamos, não somos. Porque tudo muda o tempo todo. É
entender o momento e o tempo do outro e respeitar isso, mas com a
responsabilidade de não machucar a outra pessoa. Porque cada um tem seu tempo,
cada um tem sua vida, cada um faz o que quer. Basta fazer o que quer, mas sem
pensar somente em si. Se eu me apego às pessoas, às coisas e aos momentos, é
porque tem algo nele que me completa de alguma forma. E se falta, um pouquinho
de mim também falta. Isso não é ser possessiva, porque entendo que a falta faz
parte. Isso é só saudade. Saudade também faz parte. Sentir faz parte. Eu me
permito sentir. Me permito ficar chateada, ser trouxa, chorar, sorrir, correr
atrás, sofrer. Entender que pertencemos a momentos é também se permitir sentir.
E é também entender que nem toda relação termina. Tem relação que só muda. A
vida é feita de encontros e desencontros, acasos e programações. Momentos. Às
vezes, eles nos levam a caminhos distintos. E tudo bem. Tudo bem se isso te
fizer sofrer. Pode sofrer. Mas também pode sorrir. Vai, pode sentir. Entender
que pertencemos a momentos. Permitir-nos a sentir. Entender que as relações
mudam e que isso não é necessariamente ruim. Enfrentar isso. Esses são alguns
desejos meus. Também podem brotar flores de uma relação que mudou. Um casal que
separou não necessariamente se odeia. Ser “ex” não é necessariamente ruim. Nem
toda lembrança dói. Ser casal separado que se ama é respeitar momentos. Sabe o
apego? Olha ele aí. O apego bom é aquele que existe para se respeitar, se
gostar, se amar, continuar a falar, mesmo quando a vida muda. Porque eu não sou
apegada à sua presença e sim à sua pessoa. A sua pessoa é maravilhosa e me fez
mais maravilhosa. Meu apego a você não é pensar o que você faz na minha
ausência, com quem você está, se você pensa em mim. É sentir falta pra caramba
da sua amizade, do seu abraço, de rir com você, te ter do meu lado quando quero
chorar. Eu sou apegada a tudo o que você me ensinou e a todos os momentos que
já tivemos. Tenho apego à sua felicidade. Sou apegada a você e você não precisa
ser meu para isso. Você é seu e pode estar com quem quiser. Hoje é oito de
maio. Talvez não estejamos comemorando seis anos de namoro (tudo muda o tempo
todo), mas estou comemorando seis anos de crescimento. Hoje é oito de maio e eu
só quero que você seja e esteja feliz. Eu sou apegada ao oito de maio porque
ele me fez muito feliz. E eu já disse que sou apegada à felicidade. Hoje é oito
de maio e estou fazendo mais um texto. E mais um pra você. Hoje é oito de maio,
mas como eu não posso te abraçar, eu só fecho meus olhos e penso no sorriso que
espero estar estampado em seu rosto. Porque o amor não acabou. Foi só a vida
que mudou. Hoje é oito de maio e estou sorrindo e chorando. Deixo o sorriso se
instalar e as lágrimas escorrerem. Permito-me. Hoje é oito de maio, você se
mudou, você mudou, eu mudei, a gente mudou e faz seis anos que eu amo você. E
pra mim não importa como, só importa que.
Marina N. Martins
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